O perispírito,
como já vimos, é o princípio de
todas as manifestações; seu
conhecimento deu-nos a chave de
uma porção de fenômenos e fez a
ciência espírita dar um passo
imenso, tirando-lhe todo o caráter
maravilhoso. Por sua natureza e em
seu estado normal, o perispírito
é invisível e isto tem ele de
comum com diversos fluidos que
sabemos existirem e que entretanto
jamais vimos; mas pode também,
como certos fluidos, sofrer
modificações que o tornem
perceptível à vista, seja por
uma espécie de condensação,
seja por uma mudança em sua
disposição molecular; é então
que nos aparece sob uma forma
vaporosa. A condensação (é
preciso não tomar esta palavra ao
pé da letra, visto que a
empregamos apenas por faltar uma
outra e a título de comparação)
pode ser tal que o perispírito
adquira as propriedades de um
corpo sólido e tangível,
retomando instantaneamente seu
estado etéreo e invisível.
Podemos compreender tal mudança
de estado pelo que se passa com o
vapor, que pode passar da
invisibilidade ao estado brumoso,
depois líquido, depois sólido e
vice-versa. Esses diferentes
estados do perispírito são o
resultado da vontade do Espírito
e não de uma causa física
exterior, como nos gases. Quando
nos aparece, é porque coloca seu
perispírito no estado necessário
para tornar-se visível, mas para
isso só sua vontade não é
suficiente, porque a modificação
perispirítica se opera por sua
combinação com o fluido próprio
do médium; ora, essa combinação
nem sempre é possível, o que
explica por que a visibilidade dos
Espíritos não é geral. Assim, não
é suficiente que o Espírito
queira mostrar-se, e também não
é suficiente que uma pessoa
queira vê-lo; é preciso que os
dois fluidos possam combinar-se,
que haja entre eles uma espécie
de afinidade, que a emissão do
fluido da pessoa seja suficiente
para operar a transformação do
perispírito, e, enfim, que o Espírito
tenha permissão de se mostrar a
uma determinada pessoa. (Itens 105
e 109)
49. A faculdade
de vidência pode ser
desenvolvida?
Antes de outra
coisa, é preciso compreender que
a vidência depende do organismo;
ela guarda relação com a
capacidade do fluido do vidente de
se combinar com o fluido do Espírito.
A faculdade pode, como todas as
outras, desenvolver-se pelo exercício,
mas é uma daquelas em que vale
mais esperar o desenvolvimento
natural do que provocá-lo, para
prevenir a sobreexcitação da
imaginação. (Item 100, perguntas
nos 26 e 27)
50. Como se dão
as alucinações?
As imagens
chegadas ao cérebro pelos olhos aí
deixam uma marca, que faz com que
nos lembremos de um quadro como se
tivéssemos diante de nós, mas
isto é sempre uma função da memória,
porque não o vemos. Num certo
estado de emancipação, a alma vê
no cérebro e aí encontra estas
imagens, aquelas sobretudo que
mais a impressionaram, segundo a
natureza das preocupações ou as
disposições do Espírito: é
assim que aí encontra a marca de
cenas religiosas, diabólicas,
dramáticas, mundanas, figuras de
animais bizarros, que viu em
outras épocas em pinturas ou
mesmo em narrações, porque as
narrações deixam também suas
marcas. Assim a alma vê
realmente, mas vê apenas uma
imagem gravada no cérebro. No
estado normal essas imagens são
fugitivas e efêmeras, mas no
estado de doença, com o cérebro
mais ou menos enfraquecido,
algumas imagens não se apagam
como no estado normal, pelas
preocupações exteriores. Aí está
a verdadeira alucinação e a
causa primária das idéias fixas.
(Item 113)
51. Que é
bicorporeidade?
O Espírito de
uma pessoa viva, isolado do corpo,
pode aparecer noutro lugar, como o
de uma pessoa morta, e ter todas
as aparências da realidade; além
disso, ele pode adquirir uma
tangibilidade momentânea. Eis o
fenômeno chamado bicorporeidade,
que deu lugar às histórias de
homens duplos, isto é, de indivíduos
cuja presença simultânea foi
verificada em dois lugares
diferentes. É o que se deu com
Santo Afonso de Liguori e Santo
Antônio de Pádua, como nos
relata a história eclesiástica.
O fenômeno da bicorporeidade é
uma variedade das manifestações
visuais e repousa nas propriedades
do perispírito, que, em dadas
circunstâncias, pode tornar-se
visível e mesmo tangível. (Itens
114 e 119)
52. O sono é
necessário para que a alma apareça
em outros lugares?
Pode ocorrer o
fenômeno sem que o corpo adormeça,
conquanto isto seja muito raro;
nesse caso o corpo não está
jamais num estado perfeitamente
normal, mas num estado mais ou
menos extático. A alma, então,
abandona o corpo, seguida de uma
parte de seu perispírito que, graças
à outra parte, que permanece
ligada ao corpo, constitui o laço
de ligação entre a matéria e o
Espírito. (Item 119, parágrafos
1 e 3)
53. O corpo
pode morrer na ausência da alma?
Durante a vida
corpórea, a alma não está
jamais completamente desligada do
corpo. Os Espíritos e os videntes
reconhecem o Espírito de uma
pessoa encarnada por uma estria
luminosa que acaba em seu corpo,
fato que nunca ocorre quando o
corpo está morto, porque então a
separação é completa. É por
este laço que o Espírito é
avisado, instantaneamente,
qualquer que seja a distância em
que estiver, da necessidade que o
corpo tem de sua presença, e então
volta com a rapidez do relâmpago.
Daí resulta que o corpo jamais
pode morrer durante a ausência da
alma e que jamais pode acontecer
que esta, em sua volta, encontre a
porta fechada, como certos
romances fantasiosos relatam.
(Item 118)
54. Que é
transfiguração?
A transfiguração
consiste na mudança de aspecto de
um corpo vivo. O fato pode ter por
causa, em certos casos, uma
simples contração muscular que dá
à fisionomia uma expressão
diferente, a ponto de tornar a
pessoa quase irreconhecível. Mas
isso não explica tudo. O Espírito
pode dar a seu perispírito, como
já vimos, todas as aparências e,
por efeito de uma modificação na
disposição molecular, dar-lhe a
visibilidade, a tangibilidade e,
por conseqüência, a opacidade.
Essa mudança de estado se opera
pela combinação de fluidos.
Figuremos o perispírito de uma
pessoa viva, não isolado, mas
irradiando-se em redor do corpo de
modo a envolvê-lo como um vapor.
Perdendo o perispírito a sua
transparência, o corpo pode
desaparecer, tornar-se invisível,
como se estivesse mergulhado numa
névoa. Poderá mudar de aspecto,
tornar-se brilhante. Um outro Espírito,
combinando seu fluido com o do
primeiro, pode aí imprimir sua própria
aparência, de tal sorte que o
corpo físico desaparece sob um
invólucro fluídico exterior cuja
aparência varia segundo a vontade
do Espírito. (Itens 122 e 123)
55. Que são os
agêneres?
Trata-se de uma
espécie de aparição tangível:
é o estado de certos Espíritos
que podem revestir momentaneamente
as formas de uma pessoa viva, a
ponto de causar completa ilusão.
Originário do grego, o vocábulo
significa "aquele que não
foi gerado", aplicando-se,
portanto, aos chamados Espíritos
materializados, denominação esta
imprópria que designa os seres
cujo perispírito tornou-se tangível,
visível, fotografável, como se
fosse uma pessoa viva. (Item 125)