articulista e um dos componentes
do Conselho Editorial desta
revista, além de ativo divulgador
da Doutrina Espírita, como o
leitor pode conferir acessando
o site:
http://meuwebsite.com.br/jorgehessen,
onde se encontram publicados
diversos artigos e estudos de sua
lavra.
Na entrevista
que se segue, Jorge fala de
diversos assuntos de interesse
permanente do leitor, como
família, sexualidade e aborto.
O
Consolador: Através dos
tempos, em face do obscurantismo
religioso, a sexualidade foi
considerada algo
"impura", pecaminosa.
Qual a concepção espírita com
relação à sexualidade?
Jorge Hessen:
Em face da má formação
religiosa, ao longo dos séculos
sobre o tema sexualidade, somos
atualmente muitos que rumamos sem
segurança debaixo dos impulsos
instintivos que a muitos ainda
perturbam. Para corrigir os históricos
equívocos interpretativos das
religiões tradicionais sobre o
tema, o Espiritismo propõe tratar
a questão do sexo com muito critério,
sem extravagâncias e inoportunas
censuras e ou condenações. E
para não nos delongarmos em
argumentos e considerações
desnecessários, trilhamos pelos
conselhos de Emmanuel, contidos no
livro Vida e Sexo. Diz o
mentor de Chico Xavier que em
torno do sexo, é justo sintetizar
todas as digressões nas seguintes
normas: Não proibição, mas
educação. Não abstinência
imposta, mas emprego digno, com o
devido respeito aos outros e a si
mesmo. Não indisciplina, mas
controle. Não impulso livre, mas
responsabilidade. Fora disso, é
teorizar simplesmente. Como
observamos, fora desses alertas
será navegarmos sem bússola no
mar revolto das paixões. Será
sofrermos e recomeçarmos a tarefa
do acrisolamento pessoal nas várias
etapas reencarnatórias, lembrando
ainda o pensamento emmanuelino
sempre que aplicação das
energias sexuais conforme o
impositivo da lei do amor e da própria
vida é tema pertinente à consciência
de cada um de nós.
- A liberalização
do aborto tem conseguido a
simpatia de diversos parlamentares
e juristas e até mesmo do
ministro da Saúde. Quais as
conseqüências do aborto, do
ponto de vista espiritual, para
pais, para os profissionais e para
o Espírito reencarnante?
Jorge Hessen:
Importa reconhecer que o primeiro
dos direitos naturais do homem é
o direito de viver. Mas o Brasil
carrega um troféu nada confortável:
é o campeão mundial do aborto. Não
se pode admitir que pequena
parcela da população brasileira,
constituída por alguns
intelectuais, políticos e
profissionais dos meios de
comunicação, venha a exercer
tamanha influência na legislação
brasileira, em oposição à
vontade e às concepções da
maioria do povo e contrariando a
própria Carta Magna de 1988.
Autores
espíritas respeitáveis, como
Joanna de Ângelis, informam que,
à luz da reencarnação,
realmente, o filho que não é
aceito no lar, pela gravidez
interrompida, penetrará um dia em
nossa casa, na condição de alguém
de conduta anti-social. Aquele que
expulsamos do nosso abrigo
reaparecerá porque ele não pode
ser punido pela nossa
irresponsabilidade, mas seremos
justiçados na nossa irreflexão,
através das leis soberanas da
vida.
O médium
Divaldo Franco assevera que
"aquele filho que nós
expulsamos, pela interrupção no
corpo, voltará até nós, quiçá
em um corpo estranho, gerado em um
ato de sexualidade irresponsável.
Por uma concepção de natureza
inditosa, volverá até nós, na
condição de deserdado, não
raro, como um delinqüente".
Se muitos tribunais do mundo não
condenam a prática do aborto, as
Leis Divinas, por seu turno, atuam
inflexivelmente sobre os que
alucinadamente o provocam. Fixam
essas leis, no tribunal das próprias
consciências culpadas, tenebrosos
processos de resgate que podem
conduzir ao câncer e à loucura,
agora ou mais tarde. A literatura
espírita é pródiga em exemplos
sobre as conseqüências funestas
do aborto delituoso, que provoca
na mulher graves desajustes
perispirituais a refletirem-se no
corpo físico, na existência
atual ou futura, na forma de câncer,
esterilidade, infecções
renitentes, frigidez. Óbvio que não
estamos lançamos condenação àqueles
que estão perdidos no corredor
escuro do erro já cometido, até
para que não caiam na vala
profunda do desalento. Expressamos
idéias cujo escopo é iluminá-los
com o farol do esclarecimento para
que enxerguem mais adiante a opção
do Trabalho e do Amor, sobretudo
na adoção de filhos rejeitados
que atualmente amontoam nos
orfanatos. Para quem já errou
lembremo-nos de que errar é
aprender; assim, ao invés
de se fixarem no remorso, precisam
aproveitar a experiência como uma
boa oportunidade para
discernimento futuro.
- Que orientação
podemos colher na Doutrina
Espírita a respeito do uso dos
preservativos, tendo em vista a
crescente popularização das relações
eventuais?
Jorge Hessen:
Atualmente, a Aids aflige não só
pela repercussão física que
promove mas, sobretudo, em face do
preconceito. A questão da Aids
tem que provocar reflexão para
ser avaliada e compreendida. Ainda
não alcançamos os pontos máximos
da epidemia, que não tem
precedentes na história da
humanidade. Nos próximos 20 anos,
estima-se que 70 milhões de
pessoas perderão a vida caso os
países ricos não se unam contra
a Aids. Atualmente há cerca de 40
milhões de pessoas infectadas
pelo vírus HIV em todo o mundo.
Nas últimas duas décadas, 20
milhões de pessoas morreram em
decorrência da Aids, há seis
anos, três milhões de mortes
foram causadas pelo HIV. Essa
previsão é corroborada pelo
diretor de Medicina Internacional
da Universidade de Cornel, Nova
Iorque, o infectologista Warrem
Johnson Jr.
Os espermatozóides
conseguem atravessar orifícios ou
fissuras microscópicas nos
"preservativos" com freqüência
suficiente para causar gravidez.
Por isso, muitas vezes os
"preservativos" são métodos
ineficazes de prevenção de
gravidez. Ora, a considerar essa
constatação como verdadeira, de
que maneira poderia um
preservativo impedir o trespasse
de vírus como o HIV? Duvidar da
eficiência integral do
preservativo ao contágio da Aids
é previdente até porque estudos
internacionais atestam
oficialmente ser o vírus da Aids
menor que o poro do látex, matéria-prima
básica dos
"preservativos".
À luz do que
ensina o Evangelho, a via
preventiva contra a Aids é o
comportamento saudável, a reforma
moral, o respeito ao sentimento do
próximo e a fidelidade conjugal.
Com a sexualidade não se brinca,
por isso só a conduta cristã
nesse contexto determinará, em
plenitude, a imunização
perfeita.
- A questão da
homossexualidade ainda encontra
grandes entraves de compreensão
nas hostes espíritas. Pode-se
falar em matrizes espirituais para
a homossexualidade?
Jorge Hessen:
Sobre o tema escrevemos um artigo,
atualmente publicado no site
http://meuwebsite.com.br/jorgehessen.
Em face disso, pedimos permissão
para delongar um pouquinho a
resposta. O Espírito que animou o
corpo de um homem pode
perfeitamente animar o de uma
mulher, numa nova existência, e
vice-versa, por isto ante os
problemas do sexo é importante
recordar que todos trazemos nossos
enredos particulares, razão pela
qual nos revelamos, no Plano Físico,
pelas tendências que registramos
nos escrínios da intimidade,
tipificando-nos na condição de
homem ou de mulher, conforme as
tarefas que nos cabe realizar.
Nos
distinguimos por determinadas
peculiaridades no mundo emotivo.
Independentemente de preferências,
podemos encarnar no corpo de um
homem, ou no de uma mulher, tendo
a escolha como fator determinante
as provas por que precisamos de
passar.
A rigor, a
homossexualidade ou a
homoafetividade não encontra
explicações fundamentais nos
estudos psicológicos que tratam
do assunto em bases materialistas,
conforme lembra Emmanuel, mas é
perfeitamente compreensível, à
luz da reencarnação.
Através de milênios
e milênios, passamos por experiências
imensas de reencarnações, ora em
posição de feminilidade, ora em
condições de masculinidade, o
que explica o fenômeno da
bissexualidade, mais ou menos
pronunciado, em quase todas as
criaturas.
Explica-nos
aquele que foi o mentor de Chico
Xavier que a individualidade em trânsito
da experiência feminina para a
masculina ou vice-versa, ao
envergar o casulo físico,
demonstrará fatalmente os traços
da feminilidade em que terá
estagiado por muitos séculos, em
que pese o corpo de formação
masculina que o segregue,
verificando-se análogo processo
com referência à mulher nas
mesmas condições.
Também há
casos em que o homem que abusou
das faculdades genésicas,
arruinando a existência de muitas
mulheres, e a mulher que agiu de
igual modo em muitos casos serão
induzidos a buscar nova posição,
no renascimento físico, em corpo
morfologicamente inverso à sua
estrutura psicológica,
aprendendo, em regime de prisão,
a reajustar os próprios
sentimentos.
E ainda, em
muitos outros casos, há Espíritos
cultos e sensíveis que, aspirando
a realizar tarefas específicas na
elevação de agrupamentos humanos
e, conseqüentemente, na elevação
de si próprios, rogam dos
Instrutores da Vida Maior que os
assistem a própria internação
no campo físico em vestimenta
carnal oposta à estrutura psicológica
pela qual transitoriamente se
definem. Escolhem com isso viver
temporariamente ocultos na
armadura carnal, com o que se
garantem contra arrastamentos
irreversíveis, no mundo afetivo,
de maneira a perseverarem, sem
maiores dificuldades, nos
objetivos que abraçam.
Observadas as
tendências homossexuais dos
companheiros reencarnados nessa
faixa de prova ou de experiência,
recomenda Emmanuel, é forçoso se
lhes dê o amparo educativo
adequado, tanto quanto se
administra instrução à maioria
heterossexual. Sexo é espírito e
vida, a serviço da felicidade e
da harmonia do Universo, destarte
reclama responsabilidade e
discernimento, onde e quando se
expresse, nunca nos esquecendo de
que todos os assuntos nessa área
se especificam na intimidade da
consciência de cada um.
- Como o
Espiritismo interpreta o fenômeno
do adultério e a prostituição?
Existe alguma relação entre
estas duas chagas sociais?
Jorge Hessen:
Emmanuel no capítulo 22 do livro Vida
e Sexo explica bem a questão.
A célebre sentença do Cristo:
"Atire a primeira pedra
aquele que estiver isento de
pecado" nos ensina que não
devemos julgar com mais severidade
os outros do que nos julgamos a nós
mesmos, nem condenar em outrem
aquilo de que nos absolvemos.
Desse modo é interessante
observar que o Cristo, em se
tratando de faltas e quedas, nos
domínios do espírito, haja
escolhido aquela da mulher, em
falhas do sexo, para pronunciar a
sua inolvidável sentença. A
rigor, os problemas afetivos se
mostram de tal modo encravados no
ser humano que pessoa alguma da
Terra haja escapado, no cipoal das
existências consecutivas, aos
chamados "erros do
amor".
Dessas experiências
de muitos milênios, persistem,
ainda, por feridas purulentas no
tecido social, o adultério a
prostituição que, de futuro, serão
classificados na patologia das
doenças da alma. Diz Emmanuel que
o adultério e a prostituição
ainda permanecem, na Terra, por
instrumentos de prova e expiação,
destinados naturalmente a
desaparecer, na equação dos
direitos do homem e da mulher, que
se harmonizarão pelo mesmo peso,
na balança do progresso e da
vida.
Quando cada
criatura for respeitada em seu
foro íntimo, para que o amor se
consagre por vínculo divino,
muito mais de alma para alma que
de corpo para corpo, com a
dignidade do trabalho e do aperfeiçoamento
pessoal luzindo na presença de
cada uma, então os conceitos de
adultério e prostituição se farão
distanciados do cotidiano, de vez
que a compreensão apaziguará o
coração humano e a chamada
desventura afetiva não terá razão
de ser.
- O que, no seu
modo de ver, está ocorrendo com a
família contemporânea?
Jorge Hessen:
A família está atravessando
problemas comuns de uma sociedade
descompromissada com os valores do
espírito. Há as famílias
formadas pelos laços espirituais
e as famílias unidas pelos laços
materiais. As primeiras obviamente
se fortalecem pela purificação e
as segundas se extinguem com o
tempo, ou seja, se dissolvem
moralmente. De todas as experiências
de vida terrena nenhuma mais
significa em sua função
educadora e regenerativa do que a
experiência no grupo familiar que
tem garantido os alicerces das
civilizações que se sucedem. Na
família funciona o princípio da
reencarnação, onde o homem e a
mulher adquirem mais amplos créditos
da Vida Superior sorvendo as
fontes de alegria que se lhes
irrompem do ser com as tarefas da
procriação.
Temos, dessa
forma, no instituto doméstico uma
organização de origem divina, em
cujo seio encontramos os
instrumentos necessários ao nosso
próprio aprimoramento para a
edificação do Mundo Melhor.
As dificuldades
familiares são evidentes porque
ainda não possuímos na sociedade
institutos destinados à preparação
da paternidade e da maternidade
responsáveis. Quem sabe! Com o
avanço e o aprimoramento das ciências
psicológicas de hoje, sejam
garantidas no futuro uma melhor
educação para os pais.
Identifiquemos
na família a escola viva da alma.
O Espírito, quando reencarna, vê
nos pais as primeiras imagens do
Criador e da Vida. Como explica
Emmanuel: a equipe familiar se
aglutina segundo os desastres
sentimentais das existências
passadas. Pais imaturos, do ponto
de vista espiritual, comumente se
infantilizam, no tempo exato do
trabalho mais grave que lhes
compete, no setor educativo, e, ao
invés de guiarem os pequeninos
com segurança para o êxito em
seu novo desenvolvimento no estágio
da reencarnação, embaraçam-lhes
os problemas, ora tratando as
crianças como se fossem adultos,
ora tratando os filhos adultos
como se fossem crianças. Em razão
desses desequilíbrios, o reduto
doméstico vai se transformando em
espinheiral magnético de vibrações
contraditórias, no qual os
enigmas emocionais, trazidos do
pretérito, adquirem feição
quase insolúvel. Desta forma
ressaltamos a importância dos
conhecimentos alusivos à
reencarnação, nas bases da família,
com pleno exercício da lei do
amor nos recessos do lar, para que
o lar não se converta, de
maravilhoso educandário que é,
em pouso neurótico, albergando
moléstias mentais dificilmente
reversíveis.
- Como explicar
à luz do Espiritismo os conflitos
domésticos que costumam ocorrer
entre irmãos, cônjuges, pais e
filhos?
Jorge Hessen:
A obsessão é uma pandemia que
tem balançado as estruturas da
sociedade. Cremos que grande
quantidade dos conflitos
familiares tem origem nos
processos obsessivos. A reencarnação
traça rumos nítidos ao mútuo
respeito que nos compete de uns
para com os outros. Entre pais e
filhos, há naturalmente uma
fronteira de apreço recíproco,
que não se pode ultrapassar, em
nome do amor, sem que o egoísmo
apareça, conturbando-lhes a existência.
Em face disto, deve-se buscar o
auxílio de religiosos,
professores, filósofos e psicólogos,
a fim de que a excessiva
agressividade no quadro familiar não
atinja as raias da perversidade ou
da delinqüência. Pais e filhos e
parentes outros são,
originariamente, consciências
livres, livres filhos de Deus
empenhados no mundo à obra do
autoburilamento, do resgate de débitos,
do reajuste, da evolução. Há
muitos pais e filhos, irmãos e
outros parentes, não raro, que se
repelem, desde os primeiros
contactos, geralmente arraigados
no labirinto de existências menos
felizes, em que o ódio acumulado
em estâncias do pretérito se
exterioriza, por meio de manifestações
de doentias aversões. Quando isso
aconteça, o compromisso de
reajuste há de iniciar-se
principalmente nos pais,
porquanto, despertos para a lógica
e para o entendimento, são
convocados pela sabedoria da vida
ao apaziguamento e à renovação,
segundo ensina Emmanuel.
Em razão
disto, é importante amar e
desculpar, compreender e servir,
tantas vezes quantas se façam
necessárias na experiência
familiar, de modo a que sofrimento
e dissensão desapareçam e a fim
de que, nas bases da compreensão
e da bondade de hoje, todos se
levantem na condição de Espíritos
reajustados, perante as Leis do
Universo, garantindo a todos os
parentes, nas trilhas das
reencarnações porvindouras, a
redenção de seus próprios
destinos.
- Qual é a sua
opinião a respeito do divórcio?
Jorge Hessen:
A Doutrina não defende a tese da
indissolubilidade do casamento. O
divórcio não contraria a lei de
Deus, mas, a rigor, não deve ser
facilitado entre nós. Não
podemos perder de foco que o
casamento será sempre um
instituto benemérito, acolhendo,
no limiar, flores de alegria e
esperança. Sabemos que há
casamentos extremamente
complicados e Deus jamais institui
princípios de violência, e cada
um de nós, conquanto em muitas
situações agravemos os próprios
débitos, dispomos da faculdade de
interromper, recusar, modificar,
ou adiar, transitoriamente, o
desempenho dos compromissos que
abraçamos do casamento.
É preciso
reconhecer que a escravidão não
vem de Deus e ninguém possui o
direito de torturar ninguém, em
face das leis eternas. O divórcio,
pois, baseado em razões razoáveis,
é providência humana e
claramente compreensível nos
processos de evolução pacífica.
Submetidos às
vezes aos limites máximos da
resistência, é natural que o
esposo ou a esposa, relegado a
sofrimento indébito, se valha do
divórcio por medida radical
contra o suicídio, o homicídio
ou calamidades outras que lhes
complicariam ainda mais o destino,
como ensina Emmanuel.
Óbvio que não
nos é lícito estimular o divórcio
em tempo algum, competindo-nos tão-somente,
nesse sentido, reconfortar e
reanimar os irmãos em lide, nos
casamentos de provação, a fim de
que se sobreponham às próprias
suscetibilidades e aflições,
vencendo as duras etapas de
regeneração ou expiação que,
quase sempre, rogaram antes do
renascimento no Plano Físico, em
auxílio a si mesmos.
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