ANSELMO FERREIRA
VASCONCELOS
afv@uol.com.br
São Paulo, SP
(Brasil)
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Microcefalia,
aborto e
percepções
espirituais
da população
Simplesmente por
falta de
políticas
públicas mais
efetivas, parte
considerável da
população está
exposta à ação
do mosquito
Aedes aegypt,
agente
transmissor de
doenças como
dengue, febre
amarela,
chikungunya e do
vírus
da zika.
Este último,
segundo os
especialistas,
está associado à
terrível
manifestação da
microcefalia,
que, entre
outras coisas,
causa diminuição
da caixa
craniana e
destruição do
sistema nervoso
central –
conforme atestam
recentíssimos
experimentos
realizados em
solo brasileiro
– dos fetos,
comprometendo
irremediavelmente
as suas vidas.
No momento em
que escrevo
essas linhas já
foram
confirmados 508
casos no país.
Por motivos
óbvios, esse
quadro também
representa um
pesadelo para as
gestantes.
Mulheres
grávidas ou que
almejam tal
condição
pertencente a
extratos sociais
mais elevados
estão deixando
ou pelo menos
considerando a
possibilidade de
deixar o país
durante o
período de suas
gestações.
Reportagens
jornalísticas
têm abordado
algumas faces
cruéis
atribuídas à
microcefalia, ou
seja, o
abandono. Muitos
pais ao saberem
que têm um filho
portador dessa
doença deixam as
suas
companheiras.
Essas, por sua
vez, premidas
por enormes
dificuldades
econômico-financeiras
– às vezes são
mães de outras
crianças
igualmente
doentes exigindo
cuidados
especiais –
deixam o filho
problemático à
adoção. O estado
de Pernambuco
tem
concentrado a
maioria dos
casos de
microcefalia do
Nordeste.
Segundo
levantamento da
Secretaria de
Desenvolvimento
Social, Criança
e Juventude, 77%
das 209 mães de
bebês com a
má-formação
estão abaixo da
linha extrema de
pobreza – o que
torna a situação
mais
emblemática.
No bojo desse
caos, o
instituto de
pesquisas
Datafolha fez um
levantamento
altamente
revelador a
respeito de como
a população
encara a
possibilidade de
aborto de um
feto
microcéfalo.
Mais
especificamente,
56% das pessoas
com apenas o
ensino
fundamental e
53% das que
possuem nível
médio rejeitam
veementemente a
ideia do aborto.
Em contraste,
53% das que
possuem nível
superior aceitam
tal procedimento
nessas
circunstâncias
contra 38% que
pensam o
contrário.
Avançando um
pouco mais na
análise, as
pessoas mais
pobres também
rejeitam o
aborto, isto é,
57% das que
ganham até 2
salários mínimos
(SM) e 48% das
que recebem até
5 SM contra 43%.
No entanto, 56%
das que auferem
entre 5/10 SM
(em oposição a
38%) e 60% das
que obtêm 10 SM
ou mais aceitam
a abominável
alternativa em
tais casos
contra 34% que a
rejeitam. Tais
resultados levam
a algumas
conclusões
extremamente
preocupantes. Em
poucas palavras,
pessoas com mais
renda e
escolaridade
tendem a aceitar
o aborto de
bebês
microcéfalos.
Dito de outra
forma, pessoas
em flagrante
processo de
ascensão social
e/ou que
desfrutem de
melhores
condições
econômicas e
instrução tendem
a rechaçar a
possibilidade de
conceber filhos
limitados
fisicamente. Em
seus planos de
vida
aparentemente
não há espaço
para
responsabilidades
dessa ordem. As
restrições daí
decorrentes se
chocam
frontalmente com
os seus ideais e
projetos
pessoais. Por
possuírem mais
recursos
financeiros, o
aborto lhes soa
como algo
naturalmente
aceitável em
tais
circunstâncias.
Enquanto isso,
as pessoas mais
pobres tendem a
se conformar
diante de tal
probabilidade,
apesar dos seus
parcos meios de
subsistência.
O Espiritismo
tem posição
firme contra o
emprego do
aborto. Por
exemplo, na
questão nº 358
de O Livro
dos Espíritos
encontramos
esclarecedores
subsídios da
espiritualidade
maior a respeito
do tema – ou
seja: “Constitui
crime a
provocação do
aborto, em
qualquer período
da gestação? –
Há crime sempre
que transgredis
a lei de Deus.
Uma mãe, ou quem
quer que seja,
cometerá crime
sempre que tirar
a vida a uma
criança antes do
seu nascimento,
pois que impede
uma alma de
passar pelas
provas a
que serviria de
instrumento o
corpo que se
estava formando”.
Vê-se, assim,
que uma decisão
que abrigue
esse tipo de
pensamento
incorre, por
conseguinte, em
crime na
percepção dos
Espíritos. Sob
essa
perspectiva, o
ser reencarnante
se vê desprovido
do essencial
equipamento
material para o
seu reajuste
perante as leis
de Deus (ver
questão nº 357
da mesma obra).
Os seus pais
materiais, por
outro lado, ao
assim proceder,
negligenciam
compromissos
previamente
acertados no
Além, o que
certamente muito
lhes prejudicará
no caminho
ascensional do
Espírito.
Na obra Ação
e Reação
ditada pelo
Espírito André
Luiz
(psicografia de
Francisco
Cândido Xavier)
encontramos
igualmente
outras
importantes
elucidações, a
saber:
“Falta grave?!
Será melhor
dizer doloroso
crime. Arrancar
uma criança ao
materno seio é
infanticídio
confesso. A
mulher que o
promove ou que
venha a
coonestar
semelhante
delito é
constrangida,
por leis
irrevogáveis, a
sofrer
alterações
deprimentes no
centro genésico
de sua alma,
predispondo-se
geralmente a
dolorosas
enfermidades,
quais sejam a
metrite, o
vaginismo, a
metralgia, o
enfarte uterino,
a tumoração
cancerosa,
flagelos esses
com os quais,
muita vez,
desencarna,
demandando o
Além para
responder,
perante a
Justiça Divina,
pelo crime
praticado. É,
então, que se
reconhece
rediviva, mas
doente e
infeliz, porque,
pela incessante
recapitulação
mental do ato
abominável,
através do
remorso, reterá
por tempo longo
a
degenerescência
das forças
genitais”.
Os Espíritos são
muito claros e
objetivos quanto
ao, digamos,
aceitável
emprego do
aborto, isto é,
as situações em
que esse
procedimento é
visto com
atenuantes pelas
normas divinas.
A propósito, tal
aspecto não
passou
despercebido a
Allan Kardec, de
tal forma que
ele os indagou a
respeito,
conforme se
observa na
questão nº 359
da sua obra,
previamente
citada:
“Dado o caso que
o nascimento da
criança pusesse
em perigo a vida
da mãe dela,
haverá crime em
sacrificar-se a
primeira para
salvar a
segunda? –
Preferível é se
sacrifique o ser
que ainda não
existe a
sacrificar-se o
que já existe”.
Voltando aos
resultados da
pesquisa do
Datafolha, é
fácil perceber
que a maior
escolaridade e a
renda não têm
ajudado a
maioria dos
membros desse
grupo –
basicamente eles
pertencem à
elite social – a
desenvolverem
maior
compreensão
acerca de temas
sensíveis da
trajetória
humana como, por
exemplo, o
direito à vida.
Depreende-se a
partir dos dados
publicados que
tais indivíduos
possuem pouco
interesse em
encetar voos
mais
transcendentes
do Espírito. O
seu nível de
alfabetização
espiritual não
parece ser muito
elevado.
Provavelmente
movidos por
interesses mais
imediatistas de
cunho material,
a ideia de
sacrifício por
outro ser na
dimensão ora
analisada não
lhes entra no
terreno das
cogitações ou os
assusta
vigorosamente –
o que também é
compreensível.
Como bem pondera
o Espírito
Joanna de
Ângelis, na obra
Dias
Gloriosos
(psicografia de
Divaldo Franco),
“A criatura
teme a dor”.
Mas como estamos
geralmente
atrelados a um
passado
tortuoso, temos
outros deveres e
responsabilidades
a contemplar
para a
preservação da
nossa própria
saúde
espiritual.
Portanto, o
melhor para nós
é enfrentá-los
logo.