CLÁUDIO BUENO DA SILVA
Klardec1857@yahoo.com.br
Osasco, SP
(Brasil)
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À nova mulher
(...) “Fortificai os
fracos, mostrando-lhes a
bondade de Deus, que
leva em conta o menor
arrependimento”. ¹
Se agora é tarde?
Digamos que sim. Se você
já fez o aborto, não há
como voltar atrás. No
entanto, não se
desespere. Todos nós
erramos aqui ou ali,
nesta ou naquela
situação da vida.
Tomar decisão equivocada
é próprio do ser humano;
e o aborto é, sem
dúvida, uma opção
precipitada que não
resolve problemas, ao
contrário. Ilude-se
completamente quem
entende que abortando
estará livre. Na maioria
dos casos, senão em
todos, a mulher, após
abortar, defronta-se com
sequelas emocionais de
superior gravidade, além
das queixas físicas que
surgem, mais cedo ou
mais tarde. Assim como
se propõe
ressocialização ao
detento infrator das
leis civis, é humano que
se proponha educação
moral àquela que
escolheu abortar. Diria
melhor se dissesse a
“aqueles”, pois quase
nunca a escolha é
unilateral.
O homem participa,
muitas vezes, impondo
tortura moral à mulher,
que acaba cedendo à
sombria sugestão. Não
sei se é o seu caso, mas
independentemente do
fato de você ter
repelido seu filho por
via tão impensada e
cruel, quero pedir que
não faça mais isso.
Nunca mais! Agora,
recomponha suas ideias,
desanuvie seus
pensamentos, abra a
fisionomia, pois sei que
está angustiada,
sofrendo. Volta e meia
você se lembra em
detalhes de como tudo
aconteceu, não estou
certo? Isso comprime seu
peito e sem explicação
você chora muito. Acho
que compreendo seu
estado psicológico. Em
verdade, rompeu-se um
elo da cadeia natural da
vida. Cortou-se o fio
que dava oportunidade a
alguém que, a essa hora,
deve estar meio perdido,
confuso. Afinal, todos
querem viver, pois a
vida é avanço, recomeço,
embora muita gente não
saiba disso ainda.
Estou sensibilizado com
o seu drama. Por isso
falo a você, como irmão.
Do passado, aproveite só
as lições. Olhe para
frente com propostas
novas. Se quiser ser
feliz, terá que mudar e
perceber que a vida é
feita de escolhas. Tudo
o que escolhermos estará
ligado, de alguma forma,
a outras pessoas.
Isso nos impõe muita
responsabilidade. Cada
ação, concreta ou
virtual, tem
consequências que
ninguém assumirá por
nós. Não censuro, não!
Apenas avalio a
situação, vista do seu
lado, mulher. Longe
estou de conhecer o seu
drama íntimo, mas ouso
dizer que, tenha os
lances que tiver, estes
não justificam o seu ato
de abandono. Seu filho
abortado é vítima. Não
nos esqueçamos dele. Mas
você, mulher, mais que
algoz, também é vítima.
Seu ato está entremeado
de ignorância e cegueira
espiritual. Você é
infeliz, mas não se
deixará abater, não é
mesmo?! Transformará sua
vida? Doravante pensará
mais no outro, menos em
si? Recuperará o tempo
perdido, idealizando
construir um futuro
renovado? Tentará
reconciliar-se com
aquele a quem rejeitou,
orando com sincero e
profundo arrependimento?
Não se entregará ao
remorso culposo e
improdutivo? Será
esforçada para cuidar do
próprio espírito?
Trabalhará sem descanso
para alcançar a
misericórdia divina?
Não vai ser fácil. Este
é o preço a pagar por
delito tão grave. O que
está feito, feito está.
Agora é tarde, mas não o
suficiente para impedir
o recomeço da nova
mulher. Você vai
recomeçar, não vai?!
¹ O Evangelho segundo
o Espiritismo,
capítulo X, sobre a
Indulgência, Espírito
João, bispo de Bordeaux.
(Crônica do livro Um
sorriso como resposta,
Mythos editora, 2011.)