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Crônicas e Artigos

Ano 10 - N° 462 - 24 de Abril de 2016

CLÁUDIO BUENO DA SILVA
Klardec1857@yahoo.com.br
Osasco, SP (Brasil)

 

 
À nova mulher

(...) “Fortificai os fracos, mostrando-lhes a bondade de Deus, que leva em conta o menor arrependimento”. ¹


Se agora é tarde? Digamos que sim. Se você já fez o aborto, não há como voltar atrás. No entanto, não se desespere. Todos nós erramos aqui ou ali, nesta ou naquela situação da vida.

Tomar decisão equivocada é próprio do ser humano; e o aborto é, sem dúvida, uma opção precipitada que não resolve problemas, ao contrário. Ilude-se completamente quem entende que abortando estará livre. Na maioria dos casos, senão em todos, a mulher, após abortar, defronta-se com sequelas emocionais de superior gravidade, além das queixas físicas que surgem, mais cedo ou mais tarde. Assim como se propõe ressocialização ao detento infrator das leis civis, é humano que se proponha educação moral àquela que escolheu abortar. Diria melhor se dissesse a “aqueles”, pois quase nunca a escolha é unilateral.

O homem participa, muitas vezes, impondo tortura moral à mulher, que acaba cedendo à sombria sugestão. Não sei se é o seu caso, mas independentemente do fato de você ter repelido seu filho por via tão impensada e cruel, quero pedir que não faça mais isso. Nunca mais! Agora, recomponha suas ideias, desanuvie seus pensamentos, abra a fisionomia, pois sei que está angustiada, sofrendo. Volta e meia você se lembra em detalhes de como tudo aconteceu, não estou certo? Isso comprime seu peito e sem explicação você chora muito. Acho que compreendo seu estado psicológico. Em verdade, rompeu-se um elo da cadeia natural da vida. Cortou-se o fio que dava oportunidade a alguém que, a essa hora, deve estar meio perdido, confuso. Afinal, todos querem viver, pois a vida é avanço, recomeço, embora muita gente não saiba disso ainda.

Estou sensibilizado com o seu drama. Por isso falo a você, como irmão. Do passado, aproveite só as lições. Olhe para frente com propostas novas. Se quiser ser feliz, terá que mudar e perceber que a vida é feita de escolhas. Tudo o que escolhermos estará ligado, de alguma forma, a outras pessoas.

Isso nos impõe muita responsabilidade. Cada ação, concreta ou virtual, tem consequências que ninguém assumirá por nós. Não censuro, não! Apenas avalio a situação, vista do seu lado, mulher. Longe estou de conhecer o seu drama íntimo, mas ouso dizer que, tenha os lances que tiver, estes não justificam o seu ato de abandono. Seu filho abortado é vítima. Não nos esqueçamos dele. Mas você, mulher, mais que algoz, também é vítima. Seu ato está entremeado de ignorância e cegueira espiritual. Você é infeliz, mas não se deixará abater, não é mesmo?! Transformará sua vida? Doravante pensará mais no outro, menos em si? Recuperará o tempo perdido, idealizando construir um futuro renovado? Tentará reconciliar-se com aquele a quem rejeitou, orando com sincero e profundo arrependimento? Não se entregará ao remorso culposo e improdutivo? Será esforçada para cuidar do próprio espírito? Trabalhará sem descanso para alcançar a misericórdia divina?

Não vai ser fácil. Este é o preço a pagar por delito tão grave. O que está feito, feito está. Agora é tarde, mas não o suficiente para impedir o recomeço da nova mulher. Você vai recomeçar, não vai?!


¹ O Evangelho segundo o Espiritismo, capítulo X, sobre a Indulgência, Espírito João, bispo de Bordeaux.

(Crônica do livro Um sorriso como resposta, Mythos editora, 2011.)

 

 


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