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Crônicas e Artigos

Ano 10 - N° 463 - 1° de Maio de 2016

MARCOS PAULO DE OLIVEIRA SANTOS
mpoliv@bol.com.br
Taguatinga, DF (Brasil)

 


Nosso Lar


“Nosso Lar”, obra ditada pelo Espírito André Luiz por intermédio de Francisco Cândido Xavier, continua a ser fecundo repositório de informações sobre o mundo espiritual. Por este motivo, é um livro que deve ser estudado com bastante cautela e profundidade.

À guisa de exemplificação, encontra-se no capítulo 36, intitulado “O sonho”, emblemática passagem que transcreveremos alguns trechos a seguir.

Após entregar-se ao trabalho nas Câmaras de Retificação, André sentiu-se cansado. E expôs no livro: 

“De fato, sentia grande necessidade do sono” (LUIZ, André, 2002, p. 196).  

Admiram-se alguns estudiosos do Espiritismo com o fato de um desencarnado ainda sentir necessidades fisiológicas. Acreditam, erroneamente, que o fenômeno da desencarnação opera profundas transformações.

No caso em tela, o sono (a fadiga) adveio do trabalho realizado por André Luiz no mundo espiritual. Ele estava em processo de adaptação às regiões espirituais e, como era recém-chegado, mais que natural sentir a urgência do refazimento.

Relevante considerar também que, ao desencarnar, o ser carrega todas as suas idiossincrasias (conhecimentos intelectual e moral) e as manifestações fisiológicas, estas demoram um tempo, mais ou menos variável, para desaparecerem.

O que devemos ter em mente é o velho adágio de que “a natureza não dá saltos”. Assim sendo, não é de se espantar que no processo de adaptação no mundo espiritual ainda tenhamos necessidades, que são frutos dos condicionamentos materiais.

Mais adiante assevera o autor:  

“Recolhido ao quarto confortável e espaçoso, orei ao Senhor da Vida agradecendo-lhe a bênção de ter sido útil. A ‘proveitosa fadiga’ dos que cumprem o dever não me deu ensejo a qualquer vigília desagradável.

Daí a instantes, sensações de leveza invadiram-me a alma toda e tive a impressão de ser arrebatado em pequenino barco, rumando a regiões desconhecidas. Para onde me dirigia? Impossível responder. A meu lado, um homem silencioso sustinha o leme. E qual criança que não pode enumerar nem definir as belezas do caminho, deixava-me conduzir sem exclamações de qualquer natureza, extasiado embora com as magnificências da paisagem. Parecia-me que a embarcação seguia célere, não obstante os movimentos de ascensão” (LUIZ, André, 2002, p. 196).  

Aqui se tem outro fato relevante. André Luiz estava a dormir, mas sentia-se (corpo mental) elevar para região superior de acentuada beleza. Ora, é sabido que ao desencarnarmos deixamos o corpo material (perecível) na Terra e permanecemos com o corpo espiritual, denominado perispírito. No caso narrado, seu próprio perispírito descansava e o que chegou à região superior (outra colônia) foi sua alma revestida tão somente do seu corpo mental. Diz-nos:  

“O sonho não era propriamente qual se verifica na Terra. Eu sabia, perfeitamente, que deixara o veículo inferior no apartamento das Câmaras de Retificação, em ‘Nosso Lar’, e tinha absoluta consciência daquela movimentação em plano diverso. Minhas noções de espaço e tempo eram exatas” (LUIZ, André, 2002, p. 197).

É sabido que o perispírito “é o envoltório sutil e perene da alma, que possibilita sua interação com os meios espiritual e físico” (ZIMMERMANN, 2011, p. 23). Ele possui algumas propriedades como a plasticidade; densidade; ponderabilidade; luminosidade; penetrabilidade; visibilidade; corporeidade; tangibilidade; sensibilidade global; sensibilidade magnética; expansibilidade; bicorporeidade; unicidade; perenidade; mutabilidade; capacidade refletora; odor; temperatura. Mas não adentraremos nas particularidades, porque transcenderia a extensão e o propósito deste texto. O relevante é que essa estrutura complexa estava a repousar nas Câmaras de Retificação. Então, o que se elevou para outro lugar?

Antes de respondermos, é óbvio salientar que esse “outro lugar” onde se encontrava a mãe de André era outra colônia. Aqui vai uma crítica: É lamentável se ouvir de muitos espíritas a afirmativa, séria, de que irão para “Nosso Lar”, como se só existisse esta colônia e, pior, como se tivessem merecimento para lá estarem.

Chega a ser infantil esse pensamento! Primeiro, porque existem várias colônias. “Nosso Lar” não é a única. Segundo, que “querer nem sempre é poder”. Tudo depende de merecimento e nós espíritas estamos a desencarnar de maneira deplorável! E, por fim, nessa passagem que se analisa, a mãe de André Luiz estava noutra colônia mais rica de beleza e mais evoluída. Logo, com a devida vênia, “Nosso Lar” não é a única colônia mais bela, mais interessante de se estar. É uma colônia como outra, com sua especificidade.

 O trecho que o autor diz “(...) tinha absoluta consciência daquela movimentação em plano diverso” demonstra não ser difícil reconhecer que não se tratava mais de “Nosso Lar”, mas de outra colônia que ele não denomina na obra. Fato que corrobora o pressuposto de que “há muitas moradas na casa do pai”; que não existe o vazio e que os planos espirituais se intercambiam.

Isto posto, o que subiu até a dimensão onde estava a mãe de André Luiz?

O corpo mental!

Ele seria um “envoltório sutil da mente” (ZIMMERMANN, 2011, p. 212). Trata-se de tema extremamente complexo e ainda pouco abordado na literatura. Alguns autores chegam a atribuir-lhe a forma ovoide e ele seria justamente um campo vibratório diferente do perispírito, mas que com este se relaciona e em íntima relação com o próprio Espírito.

Jorge Andréa esclarece o tema:  

Por revestir todas as camadas do inconsciente, representaria o envoltório da mente ou espírito propriamente dito. Com isso, seria zona possuidora, em grau elevado, de todas as características funcionais do superconsciente e zona divisória entre o mundo espiritual e material. Bem claro que para esta zona vibratória atingir a matéria ainda existiriam camadas adaptatórias, campos vibracionais específicos, [...] descritos como sendo o psicossoma e o duplo etérico (SANTOS, 1992, cap. 1). 

Logo se vê, em apenas um capítulo da obra “Nosso Lar”, que vários temas são suscitados e exigem estudos aprofundados sobre temas espíritas e não espíritas (e.g.: Freud, para compreender o inconsciente e o consciente; e Harold Saxton Burr, para se ter uma visão científica do perispírito). Assim sendo, este texto teve o objetivo de alertar aos confrades de que as obras espíritas (romances ou não) devem ser estudadas e não apenas lidas superficialmente.   
 

Referências:  

LUIZ, André (Espírito); XAVIER, Francisco Cândido (Médium). Nosso Lar. 52. ed. Rio de Janeiro: Federação Espírita Brasileira, 2002.  

SANTOS, Jorge Andréa dos. Visão espírita nas distonias mentais. 3a ed. Rio de Janeiro: FEB, 1992. - cap. 1 

ZIMMERMANN, Zalmino. Perispírito. 4. ed. Campinas, SP: Allan Kardec, 2011.
 


 


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 Revista Semanal de Divulgação Espírita