Nosso Lar
“Nosso Lar”, obra ditada
pelo Espírito André Luiz
por intermédio de
Francisco Cândido
Xavier, continua a ser
fecundo repositório de
informações sobre o
mundo espiritual. Por
este motivo, é um livro
que deve ser estudado
com bastante cautela e
profundidade.
À guisa de
exemplificação,
encontra-se no capítulo
36, intitulado “O
sonho”, emblemática
passagem que
transcreveremos alguns
trechos a seguir.
Após entregar-se ao
trabalho nas Câmaras de
Retificação, André
sentiu-se cansado. E
expôs no livro:
“De fato, sentia grande
necessidade do sono”
(LUIZ, André, 2002, p.
196).
Admiram-se alguns
estudiosos do
Espiritismo com o fato
de um desencarnado ainda
sentir necessidades
fisiológicas. Acreditam,
erroneamente, que o
fenômeno da
desencarnação opera
profundas
transformações.
No caso em tela, o sono
(a fadiga) adveio do
trabalho realizado por
André Luiz no mundo
espiritual. Ele estava
em processo de adaptação
às regiões espirituais
e, como era
recém-chegado, mais que
natural sentir a
urgência do refazimento.
Relevante considerar
também que, ao
desencarnar, o ser
carrega todas as suas
idiossincrasias
(conhecimentos
intelectual e moral) e
as manifestações
fisiológicas, estas
demoram um tempo, mais
ou menos variável, para
desaparecerem.
O que devemos ter em
mente é o velho adágio
de que “a natureza não
dá saltos”. Assim sendo,
não é de se espantar que
no processo de adaptação
no mundo espiritual
ainda tenhamos
necessidades, que são
frutos dos
condicionamentos
materiais.
Mais adiante assevera o
autor:
“Recolhido ao quarto
confortável e espaçoso,
orei ao Senhor da Vida
agradecendo-lhe a bênção
de ter sido útil. A
‘proveitosa fadiga’ dos
que cumprem o dever não
me deu ensejo a qualquer
vigília desagradável.
Daí a instantes,
sensações de leveza
invadiram-me a alma toda
e tive a impressão de
ser arrebatado em
pequenino barco, rumando
a regiões desconhecidas.
Para onde me dirigia?
Impossível responder. A
meu lado, um homem
silencioso sustinha o
leme. E qual criança que
não pode enumerar nem
definir as belezas do
caminho, deixava-me
conduzir sem exclamações
de qualquer natureza,
extasiado embora com as
magnificências da
paisagem. Parecia-me que
a embarcação seguia
célere, não obstante os
movimentos de ascensão”
(LUIZ, André, 2002, p.
196).
Aqui se tem outro fato
relevante. André Luiz
estava a dormir, mas
sentia-se (corpo mental)
elevar para região
superior de acentuada
beleza. Ora, é sabido
que ao desencarnarmos
deixamos o corpo
material (perecível) na
Terra e permanecemos com
o corpo espiritual,
denominado
perispírito. No
caso narrado, seu
próprio perispírito
descansava e o que
chegou à região superior
(outra colônia) foi sua
alma revestida tão
somente do seu
corpo mental.
Diz-nos:
“O sonho não era
propriamente qual se
verifica na Terra. Eu
sabia, perfeitamente,
que deixara o veículo
inferior no
apartamento das Câmaras
de Retificação, em
‘Nosso Lar’, e tinha
absoluta consciência
daquela movimentação em
plano diverso. Minhas
noções de espaço e tempo
eram exatas”
(LUIZ, André, 2002, p.
197).
É sabido que o
perispírito “é o
envoltório sutil e
perene da alma, que
possibilita sua
interação com os meios
espiritual e físico” (ZIMMERMANN,
2011, p. 23). Ele possui
algumas propriedades
como a plasticidade;
densidade;
ponderabilidade;
luminosidade;
penetrabilidade;
visibilidade;
corporeidade;
tangibilidade;
sensibilidade global;
sensibilidade magnética;
expansibilidade;
bicorporeidade;
unicidade; perenidade;
mutabilidade; capacidade
refletora; odor;
temperatura. Mas não
adentraremos nas
particularidades, porque
transcenderia a extensão
e o propósito deste
texto. O relevante é que
essa estrutura complexa
estava a repousar nas
Câmaras de Retificação.
Então, o que se elevou
para outro lugar?
Antes de respondermos, é
óbvio salientar que esse
“outro lugar” onde se
encontrava a mãe de
André era outra colônia.
Aqui vai uma crítica: É
lamentável se ouvir de
muitos espíritas a
afirmativa, séria, de
que irão para “Nosso
Lar”, como se só
existisse esta colônia
e, pior, como se
tivessem merecimento
para lá estarem.
Chega a ser infantil
esse pensamento!
Primeiro, porque existem
várias colônias. “Nosso
Lar” não é a única.
Segundo, que “querer nem
sempre é poder”. Tudo
depende de merecimento e
nós espíritas estamos a
desencarnar de maneira
deplorável! E, por fim,
nessa passagem que se
analisa, a mãe de André
Luiz estava noutra
colônia mais rica de
beleza e mais evoluída.
Logo, com a devida
vênia, “Nosso Lar” não é
a única colônia mais
bela, mais interessante
de se estar. É uma
colônia como outra, com
sua especificidade.
O trecho que o autor
diz “(...) tinha
absoluta consciência
daquela movimentação em
plano diverso”
demonstra não ser
difícil reconhecer que
não se tratava mais de
“Nosso Lar”, mas de
outra colônia que ele
não denomina na obra.
Fato que corrobora o
pressuposto de que “há
muitas moradas na casa
do pai”; que não existe
o vazio e que os planos
espirituais se
intercambiam.
Isto posto, o que subiu
até a dimensão onde
estava a mãe de André
Luiz?
O corpo mental!
Ele seria um “envoltório
sutil da mente” (ZIMMERMANN,
2011, p. 212). Trata-se
de tema extremamente
complexo e ainda pouco
abordado na literatura.
Alguns autores chegam a
atribuir-lhe a forma
ovoide e ele seria
justamente um campo
vibratório diferente do
perispírito, mas que com
este se relaciona e em
íntima relação com o
próprio Espírito.
Jorge Andréa esclarece o
tema:
Por revestir todas as
camadas do inconsciente,
representaria o
envoltório da mente ou
espírito propriamente
dito. Com isso, seria
zona possuidora, em grau
elevado, de todas as
características
funcionais do
superconsciente e zona
divisória entre o mundo
espiritual e material.
Bem claro que para esta
zona vibratória atingir
a matéria ainda
existiriam camadas
adaptatórias, campos
vibracionais
específicos, [...]
descritos como sendo o
psicossoma e o duplo
etérico (SANTOS, 1992,
cap. 1).
Logo se vê, em apenas um
capítulo da obra “Nosso
Lar”, que vários temas
são suscitados e exigem
estudos aprofundados
sobre temas espíritas e
não espíritas
(e.g.: Freud, para
compreender o
inconsciente e o
consciente; e Harold
Saxton Burr, para se ter
uma visão científica do
perispírito). Assim
sendo, este texto teve o
objetivo de alertar aos
confrades de que as
obras espíritas
(romances ou não) devem
ser estudadas e
não apenas lidas
superficialmente.
Referências:
LUIZ, André (Espírito);
XAVIER, Francisco
Cândido (Médium).
Nosso Lar. 52.
ed. Rio de Janeiro:
Federação Espírita
Brasileira, 2002.
SANTOS, Jorge Andréa
dos. Visão
espírita nas distonias
mentais. 3a ed.
Rio de Janeiro: FEB,
1992. - cap. 1
ZIMMERMANN, Zalmino.
Perispírito.
4. ed. Campinas, SP:
Allan Kardec, 2011.