ROGÉRIO MIGUEZ
rogmig55@gmail.com
São José dos Campos, SP
(Brasil)
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A reencarnação e a
metempsicose
A lei das vidas
sucessivas –
Reencarnação ou
Palingenesia - Palin =
outra vez; Gênese =
nascer – sempre foi
conhecida e divulgada no
seio da humanidade. A
Doutrina dos Espíritos
não a desvendou,
tampouco inventou esta
lei, pois esta é uma
legítima representante
de um dos eternos
princípios de Deus.
Vários pensadores do
passado, entre tantos:
Pitágoras, Sócrates,
Platão..., explicavam e
defendiam a necessidade
de se ter muitas vidas
para viabilizar o
desenvolvimento de todas
as potencialidades do
Espírito, a unicidade da
existência não seria
razoável, afirmavam,
pois seria um fator
determinante e
impeditivo para
atingir-se a evolução
plena.
Como se comprova na
vasta literatura
espírita, bem como entre
outras correntes do
pensamento filosófico,
tais quais: Hinduísmo,
Rosa Cruz, Teosofia...,
após o fenômeno da morte
biológica do corpo, algo
subsiste. A reencarnação
significa o retorno
desta porção
remanescente, o
Espírito, a
personalidade
individualizada, o ser
pensante, em uma nova
passagem pela matéria,
em outro e novo corpo,
por meio de um
renascimento, via
fecundação biológica, em
outro tempo, com período
de duração entre vidas
muito variável.
Esta lei é
fundamentalmente justa e
misericordiosa,
permitindo a todos nós,
após a nossa criação na
simplicidade e
ignorância, ter tantas
vidas quantas forem
necessárias para
alcançar a perfeição
relativa a ser alcançada
mais cedo ou mais tarde,
esta uma das
pouquíssimas fatalidades
no conjunto de regras
divinas.
Como muitos conceitos,
este também sofreu o mau
do entendimento
equivocado, quando há
bom tempo atrás
imaginou-se por razões
diversas que Espíritos
chegados ao reino
hominal, pudessem, sob
certas condições,
“reencarnar” em corpos
animais e vegetais, e
não somente em hominais.
Esta seria em resumo a
tese da Metempsicose:
Meta – além de; Psique –
alma.
Esta outra visão da
doutrina da reencarnação
caminhou pelos tempos
afora, e ainda faz
adeptos e seguidores em
pleno século XXI. Sendo
esta possibilidade real,
esclarece a Doutrina,
representaria um
retrocesso na marcha
ascensional do Espírito,
conforme se depreende de1:
612. Poderia
encarnar num animal o
Espírito que animou o
corpo de um homem? “Isso
seria retrogradar e o
Espírito não retrograda.
O rio não remonta à
sua nascente.”
(Negritamos.)
613.
Embora de todo errônea,
a ideia ligada à
metempsicose não terá
resultado do sentimento
intuitivo que o homem
possui de suas
diferentes existências?
“Nessa, como em muitas
outras crenças, se
depara esse sentimento
intuitivo. O homem,
porém, o desnaturou,
como costuma fazer com a
maioria de suas ideias
intuitivas.”
A possibilidade de um
Espírito ocupar um corpo
animal, após haver
passado por esta fase em
sua jornada evolutiva
ainda como princípio
espiritual, não se
coaduna com a proposta
divina de evoluir
continuamente sem
retrocessos. Parece-nos
evidente do ponto de
vista do Espiritismo,
pois, como bem registra
a resposta à primeira
questão, “o rio não
remonta à sua nascente”,
em outras palavras, se
já fomos animais, não o
seremos mais, enquanto,
na segunda pergunta,
Allan Kardec inicia o
texto enfatizando: “Embora
de todo errônea...”.
Há, na diversificada
literatura espírita,
pelo menos duas boas
explicações de onde e
como nasceu a crença na
Metempsicose:
1.
Pode-se encontrar
no livro A Caminho da
Luz2,
ditado por Emmanuel,
elucidativa explicação
sobre os antigos
Egípcios, povo exilado
de Capela, terem
aceitado perfeitamente a
reencarnação como uma
possibilidade concreta
para alcançar a evolução
programada por Deus,
contudo, tinham o
sentimento, ou mesmo
intuição, de haverem
sido “punidos”, pois
existia um sentimento
coletivo de perda do
paraíso, a sua amada
Capela, assim,
elaboraram uma teoria
segundo a qual, se
falhassem novamente na
observação das leis
divinas, a ponto de
serem mais uma vez
degredados para uma
condição inferior àquela
submetida no planeta
Terra de então, só lhes
restaria, como “punição”
última, reencarnarem em
animais! Ajuizaram: o
que poderia haver de
pior do que conviver com
a humanidade daquela
época, com pessoas de
hábitos rudes e brutos,
sem o mínimo verniz de
civilização?
2.
Outra razão pode
ser encontrada em
Estudos Espíritas3,
em que Joanna de Ângelis
explicou existir, também
no Egito antigo, o
entendimento claro das
imensas possibilidades
no uso das faculdades
mediúnicas, pelo menos
entre os iniciados, ou
ocupantes das posições
mais altas na hierarquia
egípcia. É possível, sob
certas condições
obsessivas, um Espírito
ter o seu perispírito
deformado, por exemplo,
sob sugestão hipnótica.
Não é incomum obsessores
influenciarem sua vítima
a acreditar ser um
animal, desta forma, via
dominação telepática
continuada, o Espírito
sob sujeição pode ter o
seu invólucro
semimaterial modificado
da forma humanoide para
um formato animalesco.
Os pouco versados nos
princípios divinos
acreditaram assim
estarem diante de um
Espírito oriundo de uma
encarnação anterior em
corpo animal, agindo,
portanto, tal qual um
antigo integrante do
reino dos irracionais.
Muitos participantes
regulares em reuniões de
desobsessão na
atualidade já podem ter
observado aproximações
de Espíritos
desencarnados agindo e
emitindo sons como
animais, a conhecida
zoantropia, a título
de exemplo: morcegos,
macacos, lobos..., entre
outros.
Disseminada entre o
povo, a crença na
metempsicose se
espalhou, atemorizando
todos aqueles com as
suas consciências
culpadas devido a
possíveis continuados
delitos contra as leis
eternas, a tese também
serviu como freio a
futuros deslizes.
Observa-se a grande
diferença existente
entre estas duas
teorias. Uma é
progressista, incentiva
a melhora do Espírito
tanto no aspecto
intelectual, bem como no
moral, não prevê
retrocessos, enquanto a
outra sinaliza a
possibilidade da punição
obrigando o Espírito
chegado ao reino hominal
voltar aos reinos
inferiores dos vegetais
ou animais, para refazer
etapas de aprendizado já
plenamente superadas.
Imaginemos gênios da
ciência, virtuosos
artistas, pensadores,
reencarnando em um
vegetal! Como poderiam
expressar os
conhecimentos e
habilidades construídas
por muitas vidas, a
custa de continuado
esforço, situação esta
provocada por uma falha
moral, uma grave
desatenção aos conceitos
divinos?
Em A Gênese4,
o Espírito Galileu,
assim se expressou em
relação à evolução do
princípio espiritual:
“O Espírito não chega a
receber a iluminação
divina, que lhe dá,
simultaneamente com o
livre-arbítrio e a
consciência, a noção de
seus altos destinos,
sem haver passado
pela série divinamente
fatal dos seres
inferiores,
entre os quais se
elabora lentamente a
obra da sua
individualização”.
(Médium Camille
Flammarion.)
(Negritamos.)
Os renascimentos
sucessivos serão
necessários enquanto o
Espírito não alcançar um
patamar de evolução tal,
não o obrigando a de
novo reencarnar para
experimentar provas e
expiações, este só
voltará a ocupar um
corpo de carne, após
alcançar a plenitude da
evolução, como
missionário em prol da
humanidade, tal qual fez
Jesus, há dois mil anos
atrás, e talvez em
outras ocasiões como
sugerido por Carlos
Torres Pastorino5.
Assim, não nos
preocupemos, pois, o
ciclo de reencarnações
terá fim, e este fim
chegará tão mais
depressa quanto forem os
nossos esforços em
aprender e
principalmente praticar
na totalidade os
postulados de Deus.
É interessante destacar
a bondade de Deus ao nos
facultar inúmeras vidas,
entretanto, esta dádiva
não deve servir de
motivo para deixarmos
para depois o que
podemos e devemos fazer
agora, porquanto as
oportunidades do momento
atual mudam. Hoje a
nossa vida se apresenta
de uma maneira, em outra
existência será
modificada certamente,
então, se presentemente
temos tempo, facilidades
materiais, entre outros
“talentos”, nos
empenhemos hoje por
adquirir conhecimentos
doutrinários
indispensáveis e
fundamentais para
promover a nossa melhora
moral e intelectual.
Estudemos agora o
Espiritismo, de
preferência e
prioritariamente as
Obras Fundamentais
escritas por Allan
Kardec. Não deixemos
para amanhã.
Referências:
1
KARDEC, Allan. O
Livro dos Espíritos.
Trad. Evandro Noleto
Bezerra. 4. ed. 2. imp.
Brasília: FEB, 2014.
qs. 612 e 613.
2
XAVIER, Francisco C.
A caminho da
luz. Pelo Espírito
Emmanuel. 15. ed. Rio de
Janeiro: FEB Editora,
1987. caps. III e IV.
3
Franco, Divaldo P.
Estudos espíritas.
Pelo Espírito Joanna de
Ângelis. 2. ed. Rio de
Janeiro: FEB Editora,
1982. cap. 8.
4
Kardec, Allan. A
Gênese. Trad.
Guillon Ribeiro. 53. ed.
1. imp. (Edição
Histórica) Brasília: FEB,
2103. Capítulo VI –
Uranografia Geral – A
criação universal – item
19.
5
PASTORINO, Carlos T.
Sabedoria do Evangelho.
Rio de Janeiro: Revista
Mensal Sabedoria, 1964.
v. 5. Cego de nascença,
pág. 80.