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Crônicas e Artigos

Ano 10 - N° 464 - 8 de Maio de 2016

ALTAMIRANDO CARNEIRO
alta_carneiro@uol.com.br
São Paulo, SP (Brasil)

 


A separação pela cor


No dia 13 de maio, faz 128 anos que a Princesa Isabel, conhecida como a Redentora, sancionava a Lei Áurea, com o objetivo de libertar uma raça que vivia no mais vergonhoso cativeiro.

Isabel Cristina Leopoldina Augusta Micaela Gabriela de Bragança, este o seu nome. Filha de D. Pedro II, nascida em 29 de julho de 1846, no Palácio de São Cristóvão, no Rio de Janeiro, então sede da corte imperial, e desencarnada em 1921, no castelo d’Eu, nas proximidades de Paris, era herdeira do trono brasileiro, pois os seus irmãos mais velhos já haviam desencarnado. Ela também sancionou a Lei do Ventre Livre, em 28 de setembro de 1871, que libertava da escravidão os recém-nascidos de mulher escrava.

Após a Lei do Ventre Livre – sucederam-se os ministérios e o penúltimo deles, do Conselheiro Dantas –, foi pedida a libertação dos escravos sexagenários, que foi conseguida com a Lei Saraiva-Cotegipe, em 28 de setembro de 1885.

A campanha abolicionista foi impulsionada e mantida pela Sociedade Brasileira Contra a Escravidão, fundada por André Rebouças, pela Confederação Abolicionista, sob a presidência de João Clapp, no Rio de Janeiro, e por organizações consideradas clandestinas e até subversivas, como o Clube do Capim, de José Mariano, em Recife, e os Caifases, de Antônio Bento, em São Paulo.

Advogados, juristas, profissionais liberais, estudantes e o povo engrossavam uma só fileira, em favor da abolição da escravidão. Também os oficiais do Exército que, em outubro de 1887, sob a presidência do marechal Deodoro da Fonseca, após reunião no Clube Militar, fizeram veemente apelo à princesa regente, para que não consentisse que soldados fossem instrumentos da captura dos negros que fugiam da escravidão.

Figuras de peso inscreveram seus nomes no movimento, como Rui Barbosa, José do Patrocínio (“O Tigre da Abolição”), Luiz Gama, Joaquim Nabuco, Castro Alves.

O acontecimento teve a colaboração e a inspiração da Espiritualidade Maior. Humberto de Campos, no livro Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho (FEB), psicografia de Francisco Cândido Xavier, diz: “Junto do Espírito magnânimo da Princesa, permanece Ismael com a bênção de sua generosa e tocante alegria. Foi por isso que Patrocínio, intuitivamente, no arrebatamento do seu júbilo, se arrastou de joelhos até os pés da Princesa piedosa e cristã. Por toda parte, espalharam-se alegrias contagiosas e comunicativas esperanças”.

Foi grande a contribuição dos espíritas. Adolfo Bezerra de Menezes (29/8/1831 – Riacho do Sangue, CE – 11/4/1900, RJ) apresenta um estudo datado de 1869, intitulado “A escravidão no Brasil e as medidas que convém tomar para extingui-la sem dano para a Nação”.

Anália Franco (1/2/1856, Resende, RJ – 13/2/1919, SP) teve conhecimento de que os filhos de escravos, declarados libertos pela Lei do Ventre Livre, estavam destinados à Roda local, na Santa Casa de Misericórdia, onde muitas mães colocavam seus filhos, quando não podiam ou não queriam criá-los, pois eram coagidas a abandoná-los ali.  Apesar de libertos, não podiam ficar com os seus pais. Expulsos das fazendas, onde eram considerados impróprios para o trabalho, perambulavam mendicantes, pelas estradas e pelas ruas. Não eram “negociáveis”; nem os seus pais, pois os que adquiriam escravos davam preferência às escravas que não tinham filhos no ventre.  

A grande missionária do Espiritismo apelou, então, para as mulheres fazendeiras, propondo trocar o seu cargo de professora na capital por outro no interior, a fim de socorrer as crianças necessitadas. Ela conseguiu uma casa num bairro de uma cidade do norte de São Paulo, cedida por uma fazendeira abastada, que impôs uma condição: que não houvesse “promiscuidade de crianças brancas e negras”. Amália Franco reagiu a esta atitude racista. Recusou a gratuidade do local e estabeleceu um aluguel. Acolhidas com carinho, ela chamava as crianças de “meus alunos sem mães”.

Antônio Gonçalves da Silva, o Batuíra (19/3/1839, Freguesia de Águas Santas, Portugal – 22/1/1909, SP), outro grande vulto do Espiritismo, acolhia na sua casa, na capital paulista, escravos foragidos, contribuindo para que alcançassem a alforria, mediante pagamento aos seus senhores.

O Livro dos Espíritos, de Alan Kardec, registra, no capítulo X, item II – Escravidão –, que “a lei humana que estabelece a escravidão é uma lei contra a Natureza, pois assemelha o homem ao bruto e o degrada moral e fisicamente”. E mais: (...) “Os homens têm considerado, há muito, certas raças humanas como animais domesticáveis, munidos de braços e de mãos, e se julgam no direito de vender os seus membros como bestas de carga. Consideram-se de sangue mais puro. Insensatos, que não enxergam além da matéria! Não é o sangue que deve ser mais ou menos puro, mas o Espírito”.

Hoje, é inadmissível que ainda se discrimine o semelhante pela cor da pele, ou por qualquer outro motivo. Isto ainda acontece devido à inferioridade do homem. No mesmo capítulo, mesmo item, O Livro dos Espíritos diz: (...) “A escravidão é um abuso da força e desaparecerá com o progresso, como pouco a pouco desaparecerão todos os abusos”.

         

 


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O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita