ANSELMO FERREIRA
VASCONCELOS
afv@uol.com.br
São Paulo, SP
(Brasil)
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A triste
desencarnação de
uma lenda do
rock
progressivo
É praticamente
inevitável que,
com o dobar dos
anos, o
indivíduo venha
a ter de
enfrentar alguns
problemas
claramente
inerentes ao
avanço da idade.
Mais
precisamente, o
processo de
envelhecimento
tende a trazer
uma série de
desconfortos,
dissabores e
dificuldades à
vida. Assim
sendo, doenças
inesperadas
surgem, os
movimentos antes
tão lépidos e
naturais cedem a
uma indesejada
lentidão
geralmente
acompanhada de
dores constantes
ou até mesmo
excruciantes.
Às vezes, a
memória
apresenta
sentidas
deficiências e,
em decorrência,
torna o diálogo
com outras
pessoas
enfadonho.
Enfim, todos nós
estamos sujeitos
a passar por
ásperas
experiências,
particularmente
no último
quartel da
existência
física, não
obstante os
consideráveis
avanços da
medicina.
É claro que para
as pessoas mais
destacadas na
sociedade –
especialmente os
artistas e as
celebridades –
as limitações
sejam, talvez,
mais chocantes.
Uma atriz, por
exemplo, que
tenha desfrutado
de rara beleza
provavelmente
sentirá certo
amargor ao
perceber as
inevitáveis
transformações
orgânicas
decadentes que
se seguem nesse
período da
existência. Seja
como for, é
fundamental se
preparar para
essa fase da
vida na qual
geralmente há
lições e
ensinamentos
indispensáveis
para todos os
Espíritos em
processo de
acrisolamento.
É igualmente
ingenuidade
imaginar que
conseguiremos
fazer e entender
tudo com a mesma
destreza mental,
agilidade e
perspicácia
típica da
juventude ou
madureza. Como
bem pondera o
Espírito
Humberto de
Campos, na obra
Jerusalém
Libertada
(psicografia de
R. A. Ranieri),
“Assim como
as águas do rio
se tornam claras
nos choques por
entre as pedras,
o espírito
humano evolui
através de
restrições,
lutas e
sofrimentos”.
O tema em pauta
nos evoca o
triste
desencarne
recentemente
ocorrido de
Keith Emerson,
excepcional
tecladista e
líder do
fenomenal grupo
inglês de rock
progressivo: o
Emerson, Lake &
Palmer. Essa
banda fez muito
sucesso nos anos
70 e 80, sempre
produzindo um
som contagiante
e futurista no
qual o
virtuosismo dos
três músicos
assomava com
grande
intensidade.
Keith Emerson
foi responsável,
juntamente com
os seus
companheiros,
por notáveis
músicas como
From the
Beginning,
Jerusalém,
Fanfare for The
Common Man,
Tarkus, Hoedown,
Trilogy,
entre tantas
outras.
Por isso, Keith
Emerson
insculpiu o seu
nome numa das
fases mais ricas
da música
mundial no
século passado,
o rock
progressivo. Ao
que me recordo
foi um dos
primeiros a
tocar o
sintetizador
Moog
extraindo-lhe
toda a
sonoridade
ímpar, assim
como solos
admiráveis. Nos
concertos da
banda, que não
raro aconteciam
em estádios,
para milhares de
pessoas, a sua
técnica
apuradíssima,
arranjos
criativos e
estilo agressivo
se sobressaíam.
Ademais, tocava
com
impressionante
rapidez chegando
à perfeição.
Enfim, dominava
o piano, o órgão
e outros
instrumentos de
teclado como
verdadeiro
mestre.
Em março
passado, aos 71
anos, Keith
Emerson,
lamentavelmente,
foi encontrado
morto em seu
apartamento em
Santa Mônica,
Califórnia, com
um tiro na
cabeça. A
autópsia
confirmou que o
músico tinha se
suicidado. A sua
namorada, Mari
Kawaguchi,
revelou, em
entrevista ao
jornal Daily
Mail, que o
músico sofria
com problemas na
mão e no braço
direito há anos,
e que isso o
atrapalhava para
tocar.
Emerson
aparentemente
não conseguia
lidar mais com o
fato de que as
suas
performances já
não alcançavam o
nível de
outrora. Com
efeito, os
problemas no
braço o
infelicitavam
amargamente. Ao
ler os
comentários a
respeito de seus
shows ficava
atormentado pela
perspectiva de
que as críticas
não fossem
positivas.
Segundo Mari,
“Emerson não
queria
decepcionar seus
fãs, ele era
perfeccionista,
e saber que não
poderia tocar
mais tão bem o
deixava
depressivo,
nervoso e
ansioso”.
Além disso, o
tecladista teria
feito há alguns
anos uma
cirurgia para a
retirada do
músculo que
causava o
problema, mas as
dores haviam
piorado.
Obviamente, os
companheiros de
banda também se
pronunciaram
sobre o
falecimento do
músico. Carl
Palmer,
baterista do
conjunto, por
sua vez,
fez uma
declaração em
que disse se
sentir
“profundamente
triste ao saber
do falecimento
de seu bom amigo
e irmão em
música”. Aliás,
Emerson, Lake &
Palmer tinham
uma turnê
marcada pelo
Japão, e,
conforme Mari,
Emerson se
aposentaria logo
depois.
Fica patente,
portanto, que
Emerson não
conseguiu
aceitar e/ou se
resignar aos
limites físicos
impostos pela
sua idade.
Diferentemente
do Maestro
brasileiro João
Carlos Martins,
que se
reinventou
profissionalmente
após uma
sucessão de
trágicos
acidentes,
Emerson, ao que
tudo indica,
optou
tristemente pelo
caminho mais
“fácil”. É
lamentável que
um músico tão
talentoso tenha
chegado ao
extremo de
cometer o
autocídio por
não aceitar as
naturais nuances
existenciais,
por não ter
tentado buscar
outros caminhos
profissionais,
por não ter
apelado aos bons
Espíritos para
que lhe dessem
força e
resignação nessa
difícil hora,
embora
superável.
Como diz uma de
suas conhecidas
canções: “C'est
La Vie”. A
literatura
espírita é
pródiga em
apontar os
efeitos
deletérios
advindos do
suicídio. A
Espiritualidade
já nos informou
com absoluta
clareza os
terríveis
padecimentos que
aguardam o
Espírito suicida
do lado de lá e
em futuras
encarnações.
Desse modo,
rogamos ao Pai
generoso que se
compadeça desse
irmão, bem como
de outros, que
tomam idêntica
decisão, isto é,
a de não saber
lidar
adequadamente
com as
vicissitudes da
vida.
Definitivamente,
a Terra não é
uma morada de
almas felizes.