MARCUS VINICIUS
DE AZEVEDO BRAGA
acervobraga@gmail.com
Rio de Janeiro,
RJ (Brasil)
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As chagas contemporâneas
Cada época tem seu
ethos, suas
questões... Já foi a
doença, o tédio, a
guerra e hoje nos
debatemos perplexos
sobre os avanços
tecnológicos e sobre as
revoluções de costumes
que ainda se sucedem. No
aspecto individual esse
cenário se reflete
também em nossas
questões íntimas. O
presente artigo
pretende, de forma
singela, categorizar
algumas questões atuais
que perturbam a mente
encarnada, trazendo o
debate e a reflexão
sobre esses pesos que
carregamos na mochila da
reencarnação, bem como
se detém sobre suas
causas e remédios.
O primeiro bloco de
questões se prende a
aspectos relacionados à
depressão, esse estado
patológico que nos faz
ver tudo de dentro de
uma caixa escura, úmida
e fria. A depressão tem
companheiros
inseparáveis. O
pessimismo, que nasce do
nosso olhar parcial
sobre os acontecimentos,
esquecendo-nos de
enxergar o mais além que
o Espiritismo nos brinda
com a visão da
reencarnação. Tem como
salutar bálsamo o
convívio com pessoas,
que nos permite criar
novos olhares sobre
questões de sempre.
Nessa mesma cepa, temos
a tristeza, que se
aproxima lentamente e
nos invade, oriunda da
nossa sucumbência diante
dos problemas, e que tem
no convívio fraterno com
a dor no próximo a sua
derrocada, por
entendermos a pequenez
de nossas mazelas. A
tristeza resseca em
nosso coração, gruda
como um colesterol ruim,
e vira mágoa, na qual
jogamos em alguém a
culpa de nossa tristeza.
Para a mágoa, apenas o
remédio do perdão
libertador traz a cura.
Por fim, com tanta
informação, com tanta
transparência, nossos
ídolos de pés de barro
se destronam e, após
grande expectativa,
colhemos grande
decepção. A decepção nos
paralisa, nos afasta, e
necessita para sarar da
compreensão e da
indulgência. Quando nos
decepcionamos com nós
mesmos, a questão é mais
complexa, pois exigimos
de nós o que sabemos não
poder fazer, esquecendo
a lição da caminhada
passo a passo.
O segundo bloco de
problemas contemporâneos
transita nos campos do
ódio. O ódio, que é um
amor doente, que com
muita força nos
impulsiona a loucuras. O
ódio é um filho da
carência, na dependência
que temos das pessoas e
coisas, apegados,
transformando esse
sentimento de
aproximação em repulsão,
necessitando de
universalização na nossa
forma de amar.
O medo também reside na
raiz do ódio e pela
nossa necessidade
irracional de defesa,
fomenta reações
irracionais, que se
curam com fé e
entendimento do mundo.
Outra fraqueza que
alimenta o ódio é o
ciúme, derivado da posse
de pessoas, o que nos
demanda exercícios de
desapego, uma ciência de
difícil execução.
Por fim, nos tempos
atuais, o ódio anda
ombreado com o
preconceito, fruto do
orgulho e de
generalizações, de falta
de entendimento do
pluralismo do mundo, e
da consciência de nosso
papel como Espíritos
encarnados. O
preconceito também tem
suas ligações com o
poder, na forma de criar
castas e grupos que
hierarquizem as pessoas.
O bloco final que
arrastamos nas
encarnações atuais é
vinculado ao poder. A
capacidade de o homem
determinar o destino do
próprio homem, que
seduz, corrompe e motiva
sacrifícios inomináveis.
Na carteira do poder,
temos a inveja, como
sentimento daqueles que
não aprenderam a lidar
com suas frustrações, e
necessitam de
entendimento sobre as
bênçãos da vida.
O poder se alimenta
também da ambição, um
sentimento irmanado ao
egoísmo, da vontade de
se sobrepor a tudo, uma
carência de comedimento.
Nas mesmas linhas,
navega a
competitividade, como
vontade de ver em tudo
uma disputa, esquecido
das lições da cooperação
que nos dá a natureza.
Como Espíritos
encarnados, eivados de
imperfeição, não é
estranho que carreguemos
essa mochila pesada, com
maior ou menor grau,
acentuada pelas
interações da vida
coletiva. O Espiritismo,
com a ideia positiva da
vida eterna pela
reencarnação, nos brinda
com a ideia das
oportunidades de
melhoria, a cada dia,
nas quais nos cabe
perceber e trabalhar as
nossas falhas, buscando
as causas e os remédios,
como caminho de
liberdade e emancipação.