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Crônicas e Artigos

Ano 10 - N° 464 - 8 de Maio de 2016

RICARDO ORESTES FORNI
iost@terra.com.br
Tupã, SP (Brasil)

 

 
A cruz daqui e de lá

“Se alguém quiser vir após mim, negue-se a si mesmo, tome a
sua cruz e siga-me.” – Jesus. (Marcos, 8:34)


A partir desse ensinamento contido no Evangelho de Marcos, podemos concluir que temos cruzes a carregar se quisermos segui-Lo.

Se pedíssemos a cada ser humano do planeta para citar a cruz que lhe pesa nos ombros, obviamente que teríamos os mais diversos tipos delas constituídas pelos problemas que cada um é capaz de descrever e citar como exemplo.

Para quantos pais a cruz de cada dia não é a presença de um filho drogadito dentro do lar a destruir-se física e emocionalmente e aos próprios progenitores num mecanismo de angústia que somente aqueles que passam por essa situação poderiam, palidamente, descrevê-lo?

Para outras pessoas seria a situação financeira difícil que impede de dar aos familiares mais próximos as mínimas condições de sobrevivência com dignidade. Já imaginaram o pai ou a mãe que não conseguem um pedaço de pão e um copo de leite para apaziguar a fome de um filho a implorar por alimento?

Cruz pesada também poderia descrever a mulher que é espancada pelo marido diante dos próprios filhos quando o cônjuge chega alcoolizado em seu lar! Agredida física e emocionalmente, transporta sobre os ombros dolorosa cruz tão frequente em nossa sociedade machista, alimentada por impunidade lamentável.

E o que dizer de uma criança violentada na intimidade do lar que deveria ser um lugar de refazimento das forças necessárias à continuidade das lutas na jornada terrestre? Esse pequeno ser, mesmo com a ajuda de um hábil psicólogo, seria incapaz de esquecer os horrores renovados a cada momento de insanidade do agressor. Que tremenda cruz, meu Deus!

As pessoas vitimadas por doenças pertinazes que impõem sofrimento crônico e angústia sem-fim teriam um relato doloroso para fazer da sua cruz!

Dessa maneira, encontraríamos o nosso planeta salpicado de cruzes que, na maioria das vezes, desconhecemos e não temos a mínima vontade de conhecer, já que pesam em ombros alheios conforme interpreta comodamente nosso egoísmo.

Podemos concluir, então, dessa forma, que não existe local onde elas, as cruzes, não apareçam? É exatamente isso o que nos ensina Emmanuel no livro Palavras De Vida Eterna, capítulo 74, ao afirmar que encarnados e desencarnados, jungidos à Terra, vinculam-se todos ao mesmo impositivo de progresso e resgate.

Fazendo uma breve exposição sobre esse tema em um Centro Espírita, indagamos como no plano espiritual poderia existir alguma espécie de cruz, se por lá não existem os problemas daqui, tais como mulher e marido; noras e genros; pais e filhos; situação financeira difícil; desemprego; enfermidades físicas, como conhecemos aqui na Terra; violência sexual contra seres indefesos como as nossas crianças; drogadição (a não ser aquela que transportarmos conosco quando não eliminada durante a vida física) etc.

Será que ao desencarnarmos não teremos algum tempo sem a necessidade de transportar algum tipo de cruz? Afinal, não diz o ditado popular diante da morte de uma pessoa em sofrimento que ela, finalmente, descansou? 

Emmanuel parece que não alimenta esse sonho de milhares ou milhões de pessoas a esse respeito, porque no mesmo livro citado anteriormente, ele coloca de maneira a não deixar dúvidas: no círculo carnal, a cruz é a dificuldade orgânica, o degrau social, o parente difícil...

Podemos até rogar: tem compaixão de nós, Emmanuel! Cruz para carregar até aí, meu amigo?! Mas não, ele não deixa nenhuma esperança ao afirmar categoricamente que no plano espiritual (a cruz), é a vergonha do defeito íntimo não vencido, a expiação da culpa, o débito não pago...

Chico dizia que a maioria dos Espíritos desencarnados que encontrava em seus desdobramentos pela dimensão espiritual, demonstrava arrependimento pelo que poderiam ter feito a mais e não fizeram! Ou do que não deveriam ter feito e fizeram. Eis aí a confirmação da colocação de Emmanuel. E me parece, não sei se você concorda, que essa cruz por lá é muito mais pesada porque não podemos dividi-la com ninguém. Ela pesa e cobra na intimidade da consciência de cada devedor. As cruzes da Terra ainda podem encontrar pessoas de boa vontade que nos auxiliam a carregá-las, mas, por lá, não! O acerto é com nós mesmos. Para onde nos voltamos, lá está ela convidando para que a coloquemos nos ombros e sigamos Jesus.

E se assim ocorre no lado de lá, não será melhor começarmos nosso treinamento já do lado de cá, carregando as que se apresentam durante a nossa jornada terrestre?

Terminamos com a recomendação do próprio Emmanuel: Tenhamos, pois, a coragem precisa de seguir o Senhor em nosso anseio de ressurreição e vitória. Para isso, porém, não nos esqueçamos de que será preciso olvidar o egoísmo enquistante e tomar nossa cruz.

Enquanto não atingirmos a perfeição, haja ombros largos para suportarem as cruzes que livremente semeamos em nossos caminhos.


 


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O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita