RICARDO ORESTES FORNI
iost@terra.com.br
Tupã, SP (Brasil)
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A cruz daqui e
de lá
“Se alguém quiser vir
após mim, negue-se a si
mesmo, tome a
sua cruz e siga-me.” –
Jesus. (Marcos, 8:34)
A partir desse
ensinamento contido no
Evangelho de Marcos,
podemos concluir que
temos cruzes a carregar
se quisermos segui-Lo.
Se pedíssemos a cada ser
humano do planeta para
citar a cruz que lhe
pesa nos ombros,
obviamente que teríamos
os mais diversos tipos
delas constituídas pelos
problemas que cada um é
capaz de descrever e
citar como exemplo.
Para quantos pais a cruz
de cada dia não é a
presença de um filho
drogadito dentro do lar
a destruir-se física e
emocionalmente e aos
próprios progenitores
num mecanismo de
angústia que somente
aqueles que passam por
essa situação poderiam,
palidamente,
descrevê-lo?
Para outras pessoas
seria a situação
financeira difícil que
impede de dar aos
familiares mais próximos
as mínimas condições de
sobrevivência com
dignidade. Já imaginaram
o pai ou a mãe que não
conseguem um pedaço de
pão e um copo de leite
para apaziguar a fome de
um filho a implorar por
alimento?
Cruz pesada também
poderia descrever a
mulher que é espancada
pelo marido diante dos
próprios filhos quando o
cônjuge chega
alcoolizado em seu lar!
Agredida física e
emocionalmente,
transporta sobre os
ombros dolorosa cruz tão
frequente em nossa
sociedade machista,
alimentada por
impunidade lamentável.
E o que dizer de uma
criança violentada na
intimidade do lar que
deveria ser um lugar de
refazimento das forças
necessárias à
continuidade das lutas
na jornada terrestre?
Esse pequeno ser, mesmo
com a ajuda de um hábil
psicólogo, seria incapaz
de esquecer os horrores
renovados a cada momento
de insanidade do
agressor. Que tremenda
cruz, meu Deus!
As pessoas vitimadas por
doenças pertinazes que
impõem sofrimento
crônico e angústia
sem-fim teriam um relato
doloroso para fazer da
sua cruz!
Dessa maneira,
encontraríamos o nosso
planeta salpicado de
cruzes que, na maioria
das vezes, desconhecemos
e não temos a mínima
vontade de conhecer, já
que pesam em ombros
alheios conforme
interpreta comodamente
nosso egoísmo.
Podemos concluir, então,
dessa forma, que não
existe local onde elas,
as cruzes, não apareçam?
É exatamente isso o que
nos ensina Emmanuel no
livro Palavras De
Vida Eterna,
capítulo 74, ao afirmar
que encarnados e
desencarnados, jungidos
à Terra, vinculam-se
todos ao mesmo
impositivo de progresso
e resgate.
Fazendo uma breve
exposição sobre esse
tema em um Centro
Espírita, indagamos como
no plano espiritual
poderia existir alguma
espécie de cruz, se por
lá não existem os
problemas daqui, tais
como mulher e marido;
noras e genros; pais e
filhos; situação
financeira difícil;
desemprego; enfermidades
físicas, como conhecemos
aqui na Terra; violência
sexual contra seres
indefesos como as nossas
crianças; drogadição (a
não ser aquela que
transportarmos conosco
quando não eliminada
durante a vida física)
etc.
Será que ao
desencarnarmos não
teremos algum tempo sem
a necessidade de
transportar algum tipo
de cruz? Afinal, não diz
o ditado popular diante
da morte de uma pessoa
em sofrimento que ela,
finalmente, descansou?
Emmanuel parece que não
alimenta esse sonho de
milhares ou milhões de
pessoas a esse respeito,
porque no mesmo livro
citado anteriormente,
ele coloca de maneira a
não deixar dúvidas:
no círculo carnal, a
cruz é a dificuldade
orgânica, o degrau
social, o parente
difícil...
Podemos até rogar: tem
compaixão de nós,
Emmanuel! Cruz para
carregar até aí, meu
amigo?! Mas não, ele não
deixa nenhuma esperança
ao afirmar
categoricamente que
no plano espiritual
(a cruz), é a
vergonha do defeito
íntimo não vencido, a
expiação da culpa, o
débito não pago...
Chico dizia que a
maioria dos Espíritos
desencarnados que
encontrava em seus
desdobramentos pela
dimensão espiritual,
demonstrava
arrependimento pelo que
poderiam ter feito a
mais e não fizeram! Ou
do que não deveriam ter
feito e fizeram. Eis aí
a confirmação da
colocação de Emmanuel. E
me parece, não sei se
você concorda, que essa
cruz por lá é muito mais
pesada porque não
podemos dividi-la com
ninguém. Ela pesa e
cobra na intimidade da
consciência de cada
devedor. As cruzes da
Terra ainda podem
encontrar pessoas de boa
vontade que nos auxiliam
a carregá-las, mas, por
lá, não! O acerto é com
nós mesmos. Para onde
nos voltamos, lá está
ela convidando para que
a coloquemos nos ombros
e sigamos Jesus.
E se assim ocorre no
lado de lá, não será
melhor começarmos nosso
treinamento já do lado
de cá, carregando as que
se apresentam durante a
nossa jornada terrestre?
Terminamos com a
recomendação do próprio
Emmanuel: Tenhamos,
pois, a coragem precisa
de seguir o Senhor em
nosso anseio de
ressurreição e vitória.
Para isso, porém, não
nos esqueçamos de que
será preciso olvidar o
egoísmo enquistante e
tomar nossa cruz.
Enquanto não atingirmos
a perfeição, haja ombros
largos para suportarem
as cruzes que livremente
semeamos em nossos
caminhos.