O passe nas
Casas Espíritas
“Esclarecer
os
companheiros
quanto à
inconveniência
da
petição
de
passes
todos os dias,
sem
necessidade real,
para que
esse gênero
de
auxílio
não
se transforme
em
mania.
É
falta
de
caridade
abusar
da bondade
alheia.” 1 (Grifamos.)
Conta-nos
Irmão
X 2
que
Simão Pedro,
secundado
por
Filipe, pediu ao Mestre que primeiro curasse os enfermos,
para depois
falar-lhes do
Evangelho
do Reino, pois, dizia o último:
“– (...) É
quase
impossível meditar
nos problemas
da
alma,
se a
carne
permanece
abatida
de achaques...”.
No
dia
seguinte,
enquanto
Jesus,
com
o
auxílio
dos
apóstolos,
curava os enfermos, iam os discípulos
convidando os
beneficiados
para
que
aguardassem a
pregação
do Médico Celeste, a qual seria um banquete de verdade e luz.
Estes, contudo, tão logo recebiam a cura,
afastavam-se
apressados, com breves
agradecimentos e
desculpas.
Quando
o último feridento foi curado, permaneciam à margem do lago somente Jesus e os doze aprendizes...
“– Pedro,
estuda
a
experiência
e
guarda
a
lição.
Aliviemos a dor, mas não nos
esqueçamos de
que
o sofrimento é criação do próprio homem, ajudando-o a esclarecer-se
para
a
vida
mais
alta.”
O
conto
ilustra o
fato
de
que
nós,
homens,
somos
eternos
egoístas,
preocupados
sobretudo
com
a
saúde
física
e
apenas
em
receber, jamais
em doar. A aquisição da verdade e da luz exige esforços,
mudanças e
reformas,
para os
quais
“não
temos
tempo”.
Observamos
que
na
maioria
das
Casas
Espíritas não
há
orientação
adequada quanto à utilização do passe. Ele é
ministrado a
todos
os
frequentadores, indistintamente; de forma que, sobretudo os novatos, entendem que,
ao ouvirem uma
exposição
espírita,
devem,
após,
sempre
receber o benefício
do
passe.
Habituam-se, anos a fio, a
recebê-lo uma
ou
mais
vezes por
semana.
Os
que
se tornam
trabalhadores
do Centro ficam com
o
hábito
não
só de tomar
os
seus
passes
diários (chegando ao absurdo de recebê-los após
aplicá-los),
mas
com
o de
induzir
todos
a recebê-los. Há
os
que ainda requisitam “passe
especial”... como se houvesse uma escala de valores
para os passes,
uns
diferentes
dos
outros:
o ‘comum’ e o ‘especial’.
São
os “papa-passes”
que
até
demonstram
estranheza quando alguém, por se sentir em harmonia, dispensa esse extraordinário recurso.
Acham-no
orgulhoso...
O
estudo
esclarece a
questão.
Os
livros
da
Doutrina
Espírita
são fartos
em ensinamentos.
Vejamos o
que
dizem a
propósito
do
tema.
O
opúsculo
“Orientação
ao
Centro
Espírita”3 afirma, na página 27, que
o
passe
e a
fluidificação da água são “recursos terapêuticos
do
plano
espiritual
às
pessoas
carentes
deste
auxílio”.
E na
página
28,
com
transparente
clareza, registra:
“Após
a
explanação
do
Evangelho,
à
luz
da
Doutrina
Espírita e atendendo à
recomendação
de Jesus ‘se
impuserem as mãos sobre os enfermos eles
ficarão curados’,
o
passe
será aplicado às
pessoas
que
o desejarem, de
acordo com o seguinte esquema:
2.1 - O
dirigente
da reunião permitirá a saída
do
recinto,
em
silêncio, dos que não sentirem
necessidade de
receber os
passes;
(...)
2.4 - o
passe
deverá
ser
transmitido
com
simplicidade,
evitando-se a
gesticulação
exagerada, a
respiração ofegante, o bocejo continuado e o toque
direto no
paciente”.
Ora,
a proposta é generosa,
pois deixa ao
arbítrio de cada
um recebê-lo, ou
não. No caso,
ninguém melhor
do
que
o
próprio
paciente, se de
posse
de
suas
faculdades
mentais, para
avaliar-se.
Contudo,
se a pessoa está com saúde física e mental, por que recebê-lo?
Esclarece
Martins Peralva4:
“O
socorro,
através de passes,
aos
que
sofrem do
corpo
e da alma, é instituição
de
alcance
fraternal
que remonta
aos
mais
recuados
tempos”.
(Grifamos.)
Cremos
que
a
falha,
aqui,
é dos
dirigentes
das reuniões, quando
não liberam
aqueles
que não
estão
enfermos,
quando
não criam a
oportunidade
para que se
retirem. Há
até
os
que
estimulam os
presentes
a recebê-los. Assim agindo, passam a
impressão
de
que
há
obrigatoriedade
na
recepção
de
passes.
O
que
não
é
verdade.
Pois
seria absurdo crer-se que
todos estejam
enfermos;
sobretudo se são
antigos frequentadores dos Centros Espíritas.
Ou então os
assistentes não
estão recebendo
– ou observando
– a orientação
das Casas
Espíritas,
quanto à
necessidade da
reforma íntima,
da prática do
bem, do Culto do
Evangelho no
Lar,
indispensáveis à
conquista do
bem-estar físico
e mental. O que
seria outro
absurdo: admitir
que Instituições
Espíritas deixem
de orientar
corretamente os
que as
frequentam! É
claro que não se
vai impedir
alguém de
receber o passe,
mas todos devem
ser orientados
adequadamente.
Nas
reuniões
públicas,
antes
do
início
da
transmissão
dos
passes,
a
orientação
deve
ser
repetida,
pois
que
há
sempre
frequentadores novos, a cada reunião.
Quando
iniciamos a
reforma
íntima
e aderimos ao
trabalho em benefício do próximo,
aprendemos a
doar e
naturalmente
nos equilibramos. E os remédios, em muitos casos, se
tornam
dispensáveis.
O passe é um
desses
medicamentos
que,
a
partir
daí, será
utilizado
quando
absolutamente
necessário,
o
que
se dará,
raramente,
em pessoas
saudáveis.
É o
que
nos recomenda Emmanuel5:
“Se
pretendes,
pois,
guardar as vantagens
do
passe
que,
em substância,
é
ato
sublime
de
fraternidade
cristã, purifica
o sentimento e o raciocínio,
o
coração
e o
cérebro.
Ninguém deita alimento
indispensável em
vaso impuro”.
Mas
admoesta, na
mesma
página,
judicioso como
sempre:
“Não
abuses,
sobretudo
daqueles
que
te auxiliam. Não
tomes o lugar
do
verdadeiro
necessitado...
O
passe
exprime,
também,
gastos
de
forças
e
não
deves
provocar
o
dispêndio
de
energias
do
Alto,
com infantilidades e ninharias.
Se necessitas de semelhante
intervenção
(...) humilha-te
(...) e,
recordando
que
alguém vai arcar
com o peso
de tuas
aflições,
retifica o teu caminho (...)” -
Grifamos.
O
passe
é
recurso
de
emergência
para tratamento
de
doenças
físicas
e
mentais.
Mas
a
cura
definitiva
depende da
cura
do
espírito
enfermo e se dará
pela
nossa reforma
íntima,
pela nossa
Evangelização.
É
ajuda
que vem do Alto,
por acréscimo
de
misericórdia.
Assim
como não
bebemos
água
só
porque está
disponível,
não abusemos dele, pois
é
algo
sagrado,
que deve merecer
nosso respeito.
Na
passagem
evangélica: — “E rogava-lhe muito, dizendo: Minha
filha está moribunda; rogo-te que venhas
e
lhe
imponhas as
mãos
para que
sare e
viva”
(Marcos
5:23).
— Jairo
recorre ao
passe
de Jesus,
porque
sua filha estava enferma.6
Façamos o
mesmo,
quando enfermos,
mas retifiquemos a
conduta
que desequilibra a
saúde
física, mental
e
espiritual.
A
felicidade,
conquistá-la-emos
ao
adquirir
a
saúde
espiritual.
Não
sobrecarreguemos,
pois, o
Divino
Mestre, desnecessariamente. Nem tomemos “o lugar
do
verdadeiro
necessitado”.
Referências
bibliográficas:
1.
Conduta
Espírita,
André Luiz/Waldo
Vieira, Cap. 28,
18ª ed., FEB,
Rio,
1995.
2.
Contos
e
Apólogos,
Irmão X/Francisco C. Xavier, Cap. 6, 8ª
ed., FEB,
Rio,
1995.
3.
Orientação
ao
Centro
Espírita, 3ª ed., FEB, Rio,
1988.
4.
Estudando a
Mediunidade,
Martins Peralva,
Cap. 26, 18ª
ed., FEB, Rio, 1995.
5.
Segue-me,
Emmanuel/Francisco
C. Xavier, 6ª
ed., O Clarim, Matão, 1987.
6.
Citação
de
Emmanuel/Francisco
C. Xavier,
Caminho, Verdade e Vida,
Cap. 153, 15ª
ed., FEB,
Rio,
1994.