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Crônicas e Artigos

Ano 10 - N° 465 - 15 de Maio de 2016

ROGÉRIO COELHO
rcoelho47@yahoo.com.br
Muriaé, MG (Brasil)

 

 
Na conquista do
verdadeiro destino


Está se avizinhando o momento da transformação da humanidade 

“... em verdade vos digo que não ficará aqui pedra sobre pedra
que não seja derribada...”
– Jesus. (Mt., 24: 1 a 14.)

 
Causam sempre grandes comoções sociais os desastres coletivos, quer tenham como causa os fenômenos naturais, como terremotos, furacões, vulcões, maremotos, deslizamento de terras, enchentes etc..., como aqueles provocados pela mão do homem, como acidentes aéreos, guerras etc...

Tais fatos se prendem à ordem natural das coisas, mas são incompreensíveis quão injustificáveis, em especial para as criaturas que não detêm o conhecimento espírita, com todo o seu corolário de leis.

No livro “Obras Póstumas”, de Allan Kardec[1], existe um texto do Espírito Clélia Duplantier, acompanhado de uma longa e esclarecedora nota do Mestre Lionês, nos quais a questão das expiações coletivas fica maravilhosamente bem explicada.

Segundo o Espírito Clélia Duplantier, “(...) todas as leis que regem o Universo, sejam físicas ou morais, materiais ou intelectuais, foram descobertas, estudadas, compreendidas, partindo-se do estudo da individualidade e do da família para o de todo o conjunto, generalizando-as gradualmente e comprovando-se-lhes a universalidade dos resultados.

Outro tanto se verifica hoje com relação às leis que o estudo do Espiritismo dá a conhecer. Podem aplicar-se, sem medo de errar, as leis que regem o indivíduo à família, à nação, às raças, ao conjunto dos habitantes dos mundos, os quais formam individualidades coletivas. Há as faltas do indivíduo, as da família, as da nação[2]; e cada uma, qualquer que seja o seu caráter, se expia em virtude da mesma lei.

(...) Três caracteres há em todo homem: o do indivíduo, do ser em si mesmo; o de membro da família e, finalmente, o de cidadão. Sob cada uma dessas três faces pode ele ser criminoso e virtuoso, isto é, pode ser virtuoso como pai de família, ao mesmo tempo em que criminoso como cidadão e reciprocamente. Daí as situações especiais que para si cria nas suas sucessivas existências...

Salvo alguma exceção, pode-se admitir como regra geral que todos aqueles que numa existência vêm a estar reunidos por uma tarefa comum já viveram juntos para trabalhar com o mesmo objetivo e ainda reunidos se acharão no futuro, até que hajam atingido a meta, isto é, expiado o passado, ou desempenhado a missão que aceitaram.

Graças ao Espiritismo, compreendeis agora a justiça das provações que não decorrem dos atos da vida presente, porque reconheceis que elas são o resgate das dívidas do passado. Por que não haveria de ser assim com relação às provas coletivas? Dizeis que os infortúnios de ordem geral alcançam assim o inocente, como o culpado; mas não sabeis que o inocente de hoje pode ser o culpado de ontem? Quer ele seja atingido individualmente, quer coletivamente, é que o mereceu. Depois, como já o dissemos, há as faltas do indivíduo e as do cidadão; a expiação de umas não isenta da expiação das outras, pois que toda dívida tem que ser paga até a última moeda. As virtudes da vida privada diferem das da vida pública. Um, que é excelente cidadão, pode ser péssimo pai de família; outro, que é bom pai de família, probo e honesto em seus negócios, pode ser mau cidadão, ter soprado o fogo da discórdia, oprimido o fraco, manchado as mãos em crimes de lesa-sociedade. Essas faltas coletivas é que são expiadas coletivamente pelos indivíduos que para elas concorreram, os quais se encontram de novo reunidos, para sofrerem juntos a pena de talião, ou para terem ensejo de reparar o mal que praticaram, demonstrando devotamento à causa pública, socorrendo e assistindo aqueles a quem outrora maltrataram. Assim, o que é incompreensível, inconciliável com a justiça de Deus, se torna claro e lógico mediante o conhecimento dessa lei.

A solidariedade, portanto, que é o verdadeiro laço social, não o é apenas para o presente; estende-se ao passado e ao futuro, pois que as mesmas individualidades se reuniram, reúnem e reunirão, para subir juntas a escala do progresso, auxiliando-se mutuamente. Eis aí o que o Espiritismo faz compreensível, por meio da equitativa lei da reencarnação e da continuidade das relações entre os mesmos seres”.

“Quem matou com a espada perecerá pela espada.”

Comentando o texto acima do Espírito Clélia Duplantier, Allan Kardec explica: “(...) aquele que fez correr sangue verá o seu também derramado; aquele que levou o facho do incêndio ao que era de outrem verá o incêndio ateado no que lhe pertence; aquele que despojou será despojado; aquele que escraviza e maltrata o fraco será a seu turno escravizado e maltratado, quer se trate de um indivíduo, quer de uma nação, ou de uma raça, porque os membros de uma individualidade coletiva são solidários assim no bem como no mal que em comum praticaram.

(...) Pelas provas que apresenta da realidade da vida espiritual, o Espiritismo ensina aos homens a não atribuírem mais que relativa importância às coisas deste mundo, dando-lhes assim força e coragem para suportar com paciência as vicissitudes da vida terrena. Ensina-lhes que, morrendo, não deixam para sempre este mundo; que podem a ele voltar, a fim de aperfeiçoarem sua educação intelectual e moral, a menos que já estejam bastante adiantados para merecerem passar a um mundo melhor; que os trabalhos e progressos que realizem, ou para cuja realização contribuam, lhes aproveitarão, concorrendo para que melhorada se lhes torne a posição futura. Mostra-lhes dessa forma que é de todo o interesse deles não o desprezarem. Se lhes repugna voltar aqui, uma vez que possuem o livre-arbítrio, deles depende o fazerem o que é necessário a se tornarem habitantes de outros orbes; mas, que não se iludam sobre as condições que devem preencher para merecerem uma mudança de residência! Não será por meio de algumas fórmulas, expressas em palavras ou atos, que o conseguirão, sim por efeito de uma reforma séria e radical de suas imperfeições, modificando-se, despojando-se das paixões más, adquirindo dia a dia novas qualidades, ensinando a todos, pelo exemplo, a linha de proceder que levará solidariamente todos os homens à ventura, pela fraternidade, pela tolerância, pelo amor...

A humanidade se compõe de personalidades, que constituem as existências individuais, e das gerações, que constituem as existências coletivas. Umas e outras avançam na senda do progresso, por variadas fases de provações que, portanto, são individuais para as pessoas e coletivas para as gerações. Do mesmo modo que, para o encarnado, cada existência é um passo à frente, cada geração marca um grau de progresso para o conjunto. É irresistível esse progresso do conjunto; ele arrasta as massas, ao mesmo tempo em que modifica e transforma em instrumento de regeneração os erros e prejuízos de um passado que tem de desaparecer. Ora, como as gerações se compõem dos indivíduos que já viveram nas gerações precedentes, segue-se que o progresso delas é a resultante do progresso dos indivíduos.

(...) A Ciência, que pretende caminhar tão só pela via da experiência, afirma todos os dias princípios que mais não são do que induções das causas por meio unicamente da observação dos efeitos.

Em geologia, determina-se a idade das montanhas. Porventura assistiram os geólogos ao surto delas? Viram formarem-se as camadas de sedimento que lhes determinam a idade? Os conhecimentos astronômicos, físicos e químicos permitem se avalie o peso dos planetas, suas densidades, seus volumes, a velocidade que os anima, a natureza dos elementos que os compõem; entretanto, os sábios não fizeram experiências diretas e é à analogia e à indução que devemos tão belas e preciosas descobertas.

Os homens de antanho, baseados nos testemunhos de seus sentidos, afirmavam ser o Sol que gira em torno da Terra. No entanto, esse testemunho os enganava e prevaleceu o raciocínio. O mesmo se dará com os princípios que o Espiritismo sustenta, desde que se disponham a estudá-los, sem prevenções, e, então, a humanidade entrará, rapidamente, numa era de progresso e de regeneração, porque, já não se sentindo isolados entre dois abismos, o desconhecido do passado e a incerteza do porvir, os indivíduos trabalharão com energia por aperfeiçoar e multiplicar os elementos da felicidade que tem de ser obra deles, porque reconhecerão que não é devida ao acaso a posição que ocupam no mundo e que eles próprios gozarão, no futuro e em melhores condições, do fruto de seus labores e de suas vigílias. É que o Espiritismo lhes ensinará que, se as faltas coletivamente cometidas são expiadas solidariamente, os progressos realizados em comum são igualmente solidários, princípio em virtude do qual desaparecerão as dissensões de raças, de famílias e de indivíduos e a humanidade, livre das faixas da infância, avançará, célere e virilmente, para a conquista de seus verdadeiros destinos”. 


 

[1] - KARDEC, Allan. Obras póstumas. 25. ed. Rio [de Janeiro]: FEB, 1990, pp. 215-223.

[2] - Todos os negritos são do articulista.

 

 


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