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Ribeirão Preto, SP
(Brasil)
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Reuniões
mediúnicas no
lar
Há óbices à
prática
mediúnica no
lar?
1. A resposta e
os argumentos
podem parecer
simples, mas não
são, como também
aqui não se
trata de
enunciar que
sejam
complicados.
Exigem, isto
sim,
racionalidade,
oportunidade,
bom senso.
A questão, já de
início,
necessariamente,
nos remete às
primeiras
reuniões
“experimentais”
de contatos de
encarnados com
desencarnados,
em Paris, nas
quais aconteciam
estranhíssimos
fenômenos com
mesas que
“inexplicavelmente”
se moviam e se
agitavam...
— Nos idos de
1855 (maio), o
consagrado
pedagogo francês
Hippolyte Léon
Denizard Rivail
(1804-1869) foi
convidado por um
amigo, o Sr. Pâtier[1],
para assistir a
uma dessas
reuniões na casa
da Sra.
Plainemaison,
onde, pela
primeira vez,
presenciou os
fenômenos das
mesas que
giravam,
saltavam e
corriam; sua
argúcia e
intelectualidade
levaram-no à
dedução de que,
sem dúvida,
havia ali ação
de Espíritos
(desencarnados);
— durante o ano
de 1855 o
eminente
professor
assistiu a
várias outras
reuniões do
gênero, no mesmo
endereço;
— em 1856 passou
a frequentar
reuniões
similares, mas
em outra
residência: no
lar do Sr.
Baudin. Até
aqui, nas
numerosas
reuniões, eram
tratados
“assuntos
frívolos”, ou
“sem nenhum fim
determinado
tinham tido”;
— ainda em 1856
frequentou,
simultaneamente,
reuniões na casa
da Sra.
Plainemaison e
na casa do Sr.
Roustan e Srta.
Japhet; todas
essas reuniões
“eram sérias e
com ordem”;
nelas, Hippolyte
levou perguntas
sérias e obteve
respostas
precisas, com
profundeza e
lógica;
— a partir de
então, contando
com o concurso
de mais de dez
médiuns, em
reuniões
mediúnicas
“neologicamente
espíritas”,
criou os termos espírita e espiritismo
[2];
recebeu do Plano
Espiritual
solução às mais
“espinhosas
questões”,
elaborando um
livro com todas
as suas
perguntas e
respostas assim
obtidas;
— em 1857, livro
pronto, pensou
em adotar um
pseudônimo,
considerando que
o conteúdo era
absolutamente
diferente dos
seus trabalhos
anteriores, até
então
publicados, pois
seu nome era
muito conhecido
no mundo
científico, o
que poderia
originar
confusão e até
mesmo prejudicar
o êxito do
empreendimento;
— foi quando,
sob orientação
de Espírito
protetor, adotou
o pseudônimo de Allan
Kardec,
nome que tivera
em vida passada,
ao tempo dos
druidas;
— e assim, em
18/abril/1857,
com o vasto
material que
cuidadosamente
modelara e
remodelara, no
silêncio da
meditação,
Hippolyte —
agora Allan
Kardec —
apresentou ao
mundo a primeira
edição de O
Livro dos
Espíritos
(!);
— alguns meses
mais prosseguiu
frequentando
reuniões em sua
própria
residência e em
outras
residências;
— em 1° de Abril
de 1858 Kardec
fundou a Sociedade
Espírita de
Paris, pois,
“nada cômoda
pela sua
disposição, a
sala onde nos
reuníamos se
tornou em breve
muito
acanhada”.
2. É da natureza
humana o
gregarismo
(graças à
sublime
Engenharia
Divina, ao
engendrar a
formação da família!).
— A partir da
família
consanguínea
formaram-se e
seguem
formando-se, na
Humanidade,
outras
infinitas famílias,
por simbioses
sociais,
políticas,
financeiras,
esportivas,
linguísticas,
patrióticas,
filosóficas,
religiosas etc.;
— a Lei Divina
do Progresso vem
ditando, desde
sempre, a
idealização e o
aperfeiçoamento
da vida
comunitária, e
em particular,
dos locais onde
as
multifacetárias
famílias se
reúnem, a partir
dos lares,
depois as
escolas, as
fábricas, os
clubes, os
hospitais, os
quartéis, os
templos etc.;
— vem de longe
no homem a busca
do aconchego e
intimidade que o
lar lhe
proporciona,
estendendo-se
tal busca às
diversas sedes
para as suas
múltiplas
atividades,
tudo, afinal,
expressando-se
por espaço e
privacidade
àqueles grupos
que comungam
parentesco,
ideais, gostos,
práticas etc. —
sintonia, enfim;
— foi assim que
das cavernas às
confortáveis
residências, dos
toscos refúgios
aos modernos
quartéis, das
humildes capelas
às suntuosas
igrejas, das
humildes
oficinas
domésticas às
grandes
fábricas, dos
canteiros de
hortaliças às
lavouras, a
civilização
direcionou e
direciona suas
ações,
compartimentalizando
o necessário
espaço físico
onde elas são ou
serão exercidas;
— outra não foi
a vertente
proporcionada no
advento do
Espiritismo na
Terra: como
citei, as ações
que resultaram
na Codificação
“nasceram” em
residências, mas
elas, ao
“crescerem”,
logo se
transferiram
para “sede
própria”.
3. Para não me
alongar fico com
o que a memória
e pesquisas me
arrimam,
dizendo-me que
as reuniões
mediúnicas, no
Brasil, até mais
ou menos a
metade do século
vinte,
aconteciam
majoritariamente
em lares. Os
participantes
dessas reuniões
familiares quase
sempre contavam
com a presença
de amigos,
convidados.
Logo, também na
maioria dos
casos, tais
reuniões deram
azo, cada uma, à
fundação de um
Centro Espírita
(C.E.), com
prioridade
inicial de se
reunirem em uma
sede, própria ou
alugada.
É assim que hoje
existem milhares
de Centros
Espíritas no
Brasil!
Seria injusto se
formulasse
oposição a
reuniões
mediúnicas no
lar, desde que
não houvesse
alternativa de
acontecerem em
outro local,
especificamente
destinado a tal
atividade: o Centro
Espírita.
Contudo, a bem
da verdade e com
base em minhas
reflexões, fruto
de exaustivas
pesquisas na
bibliografia
espírita e
experiência
pessoal, não sou
daqueles que
apoiam qualquer
atividade
mediúnica nos
lares, nem mesmo
durante o
abençoado “Culto
do Evangelho no
Lar”.
4. Justificando:
— segundo várias
citações na
série “A Vida no
Mundo
Espiritual” (13
livros de
autoria
espiritual de
André Luiz, com
psicografia de
F. C. Xavier e
W. Vieira, todos
editados pela
FEB), vários são
os aparelhos que
são trazidos
pelos
Benfeitores
Espirituais ao
C.E., destinados
a auxiliar as
atividades
mediúnicas, lá
sendo instalados
e por vezes
permanecendo, o
que nem sempre
será possível
num lar; para
citar apenas
alguns desses
aparelhos[3]:
“Psicoscópio”,
“Condensador
Ectoplasmático”
e “Emissor de
Raios
Curativos”;
— no C.E., sob
supervisão e
proteção dos
bons Espíritos,
prossegue o
tratamento
dispensado aos
Espíritos
visitantes,
necessitados, os
quais, nesses
casos, amiúde
são ali alojados
(antes, durante,
e mesmo por
algum tempo,
após a reunião
mediúnica);
— no C.E. há
clima propício e
geralmente
equipamento
adequado ao
estudo
evangélico
(meios para
comunicação
audiovisual), em
cursos de vários
horários e para
várias turmas,
além de plantão
de passistas e
palestras
públicas, tudo a
benefício dos
eventuais
frequentadores
encarnados e
desencarnados
(estes,
eventuais
obsessores
daqueles, ou
vice-versa), os
quais, sob
alerta e segundo
os ensinamentos
de Jesus, são
convidados ao
perdão, à
autorreforma...;
— no C.E. há
adequação
administrativa e
dependências
para as
atividades de
“atendimento
fraterno”,
possibilitando
que pessoas com
problemas ou
famílias
carentes ali
compareçam e
permaneçam por
algum tempo,
recebendo
auxílio material
e principalmente
espiritual (não
há como negar
que eventuais
acompanhantes
desencarnados
igualmente
encontrarão
atendimento e
reconforto
espiritual);
— no C.E. há
maior
possibilidade de
ser instalada
biblioteca de
livros
doutrinários e
mesmo de banca
para venda
dessas obras
(com isso, não
apenas os
médiuns, mas
eventuais
pessoas
interessadas
tenham obras
próprias à mão,
para o
indispensável e
contínuo estudo
e aprendizado
geral das
premissas do
Espiritismo);
— no C.E. a
frequência à
reunião
mediúnica pode e
deve ser
controlada, de
forma a se
evitar a
presença não só
de pessoas
despreparadas,
tanto quanto de
crianças —
cuidados esses
que serão sempre
relativos no
lar...;
— no C.E., caso
a reunião
mediúnica seja
diurna, muito
menor será a
ocorrência de
interrupções,
espontâneas ou
não, tais como
campainha da
rua, telefone,
correios,
medidores de
água ou luz,
etc.;
— no C.E. não
acontecem (ou
“não devem
acontecer”...)
nem discussões,
tão rotineiras
entre casais, e
nem projeções
televisivas de
programas
inconvenientes,
tais como filmes
violentos ou
noticiários, em
geral de
infelicidades,
fatores esses
impeditivos da
higienização
espiritual
ambiental.
[1] Notas
sobre reuniões
mediúnicas: vide
“Obras
Póstumas”, 2ª
Parte, a partir
da p. 267 à p.
295, 21ª Ed.,
FEB,
Brasília/DF.
[2] Em
“O Livro dos
Espíritos”,
Introdução-I, p.
13, 81ª Ed.,
2001, FEB,
Brasília/DF.
[3] “Nos
Domínios da
Mediunidade”, A.
Luiz/F. C.
Xavier,
respectivamente:
Cap. 2, pp. 22 a
25; Cap. 7, pp.
65 e 67 e Cap.
28, p. 260, 8ª
Ed., 1976, FEB,
Brasília/DF.