MILTON MEDRAN MOREIRA
medran@via-rs.net
Porto Alegre, RS
(Brasil)
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Por um
Brasil inteligente
e
ético
A união dessas duas
faculdades, inteligência
e moralidade, é, pois,
necessária para criar
uma preponderância
legítima.
- Allan Kardec, em
“Obras Póstumas”.
Um dos aspectos mais
comentados, em meio aos
episódios relativos ao
impeachment presidencial
das últimas semanas, foi
o baixo nível cultural
revelado pela média dos
parlamentares, ao se
manifestarem nas
votações, especialmente
da Câmara Federal.
Houve de tudo. Desde inflamadas rezas pedindo a misericórdia de
Deus, às vezes
proferidas por deputados
sobre os quais pairam
sérias acusações de atos
de corrupção, a
xingamentos dos mais
baixos a opositores e,
até, cusparadas, em
plenário, direcionadas a
adversários políticos.
Foram cenas deploráveis,
incompatíveis com a
seriedade que se exige
de homens públicos,
chamados a debater e
decidir sobre um dos
mais graves momentos da
história política do
país.
“Eles não me representam”, disseram, em coro, brasileiros de todos
os quadrantes,
reprovando cenas
verdadeiramente
circenses, ora
carregadas de humor, ora
trágicas, quando não
reveladoras de clara
hipocrisia religiosa.
Mesmo, no entanto, que a
pessoas sensatas e
politizadas reste essa
sensação de não se
sentirem representadas
naquele colegiado,
diante de tantas
distorções, inegável que
os agentes daqueles
disparates lá não caíram
de paraquedas e ali se
encontram respaldados
pelos votos de
consideráveis parcelas
do povo brasileiro. Há,
sim, quem aplauda a
violência, quem se
compraza com
manifestações
homofóbicas, quem
prestigie a corrupção e
quem torça, inclusive,
para que o Parlamento
caia em absoluto
descrédito, situação que
justificaria, pensam, a
adoção de regimes de
força, de onde a
representação popular
esteja ausente.
Mesmo com tantas distorções, a democracia, conquista da
Modernidade, continua se
impondo como
indispensável ao
progresso dos povos. Ela
é o caminho do
aprendizado. Um povo é,
naturalmente, gerido por
seus valores culturais.
Estes são adquiridos,
amadurecidos, mantidos
ou desprezados e,
sucessivamente,
cultivados e
substituídos, exatamente
pelos frutos que
produzem. Experiências
boas ou más, entretanto,
coletivamente
construídas, fazem a
história da comunidade
de Espíritos que
constitui um povo ou uma
nação. A prática da
democracia é justamente
o instrumento a
possibilitar esse
exercício.
Na visão filosófica espírita, inteligência e moralidade são os
valores que aprimoram o
gerenciamento de uma
sociedade. Na medida em
que, juntos e na mesma
intensidade, se
desenvolvam esses dois
atributos do espírito,
estará se assegurando o
êxito da atividade
político-administrativa.
Allan Kardec previu o
advento do estágio mais
avançado desse processo
com a fase por ele
denominada “aristocracia
intelecto-moral”.
Com certeza – e os últimos episódios de nossa vida institucional
bem o demonstraram –
estamos distantes dessa
meta. Mas não é de se
esmorecer o ânimo.
Experiências amargas
como as que estamos
vivendo no Brasil nos
conduzirão à necessidade
de mais se investir na
integral educação de
nossos cidadãos. Não há
civilização sem
inteligência, mas também
não ocorre efetivo
progresso humano sem que
o ilumine a ética
individual e coletiva.
Milton R. Medran Moreira
– Advogado e jornalista.
Diretor do Centro
Cultural Espírita de
Porto Alegre.