Damos continuidade nesta edição ao estudo do livro Obras Póstumas, publicado depois da desencarnação de Allan Kardec, mas composto com textos de sua autoria. O presente estudo baseia-se na tradução feita pelo Dr. Guillon Ribeiro, publicada pela editora da Federação Espírita Brasileira.
Questões para debate
97. Que opinião tinham os apóstolos sobre o Cristo e sua natureza?
98. Paulo chegou a manifestar-se sobre o assunto em suas epístolas?
99. Em que livros do Antigo Testamento há predições concernentes à vinda de Jesus?
Respostas às questões propostas
97. Que opinião tinham os apóstolos sobre o Cristo e sua natureza?
Os textos a seguir mostram o que os apóstolos pensavam a respeito do Cristo:
"Ó Israelitas, escutai as palavras que vou vos dizer: Sabeis que Jesus de Nazaré foi um homem que Deus tornou célebre entre vós pelas maravilhas, pelos prodígios e pelos milagres que fez por ele no vosso meio. Entretanto, o crucificastes, e o fizestes morrer pelas mãos dos maus, tendo-o entregue por uma ordem expressa da vontade de Deus e por um decreto de sua presciência. Mas Deus o ressuscitou, parando as dores do inferno, sendo impossível que ali fosse retido. Porque Davi disse em seu nome: Tenho sempre o Senhor presente diante de mim, porque ele está à minha direita, a fim de que eu não seja abalado. É por isso que o meu coração está alegre, que a minha língua cantou cânticos de alegria, e que mesmo a minha carne repousará em esperança; porque não deixareis minha alma no inferno e não permitireis nunca que vosso Santo sofra a corrupção. Vós me fizestes conhecer o caminho da vida, e me enchereis com a alegria que dá a visão do vosso rosto." (Atos dos Apóstolos, cap. II, v. 22 a 28. Pregação de São Pedro.)
"Moisés disse aos nossos pais: O Senhor vosso Deus vos suscitará, dentre os vossos irmãos, um profeta como eu; escutai-o em tudo o que vos dirá. Quem não escutar esse profeta será exterminado do meio do povo. Foi por vós primeiramente que Deus suscitou seu filho, e vo-lo enviou para vos bendizer, a fim de que cada um se convertesse de sua má vida." (Atos dos Apóstolos, cap. III, v. 22, 23, 26. Pregação de São Pedro.)
"Nós vos declaramos, a todos vós e a todo povo de Israel, que é pelo nome de Nosso Senhor Jesus Cristo de Nazaré, o qual haveis crucificado, e que Deus ressuscitou dentre os mortos; foi por ele que este homem está agora curado como o vedes diante de vós." (Atos dos Apóstolos, cap. IV, v. 10. Pregação de São Pedro.)
"Pedro e os outros apóstolos responderam: é necessário antes obedecer a Deus do que aos homens. O Deus de nossos Pais ressuscitou Jesus que fizestes morrer dependurando-o no madeiro. Foi ele que Deus elevou para a sua direita como sendo o príncipe e o salvador, para dar a Israel a graça da penitência e a remissão dos pecados." (Atos dos Apóstolos, cap. V, v. 29, 30, 31. Respostas dos Apóstolos ao grande sacerdote.)
"Mas Estêvão, estando cheio do Santo Espírito, e levantando os olhos aos céus, viu a glória de Deus, e Jesus que estava de pé à direita de Deus, e ele disse: Vejo abertos os céus, e o Filho do homem que está de pé à direita de Deus. Então, lançando grandes gritos, e tapando os ouvidos, lançaram-se juntos sobre ele; e tendo-o arrastado fora dos muros da cidade, lapidaram-no; e as testemunhas depuseram as suas vestes aos pés de um jovem chamado Saulo (mais tarde São Paulo). Assim lapidaram Estêvão, e ele invocava Jesus, e dizia: Senhor Jesus, recebei o meu Espírito." (Atos dos Apóstolos, cap. VII, v. de 55 a 58. Martírio de Estêvão.)
Estas citações testemunham claramente o caráter que os apóstolos atribuíam a Jesus. A ideia exclusiva que delas ressalta é a de sua subordinação a Deus, da constante supremacia de Deus, sem que nada ali revele um pensamento de assimilação qualquer de natureza e de poder. Para eles, Jesus era um homem profeta, escolhido e bendito por Deus. Não foi, pois, entre os apóstolos que a crença na divindade de Jesus nasceu. (Obras Póstumas - Estudo sobre a natureza do Cristo.)
98. Paulo chegou a manifestar-se sobre o assunto em suas epístolas?
Sim. Eis o que Paulo de Tarso escreveu sobre Jesus:
"Paulo, servidor de Jesus Cristo, apóstolo da vocação divina, escolhido e destinado para anunciar o evangelho de Deus, que ele prometera antes, pelos seus profetas, nas escrituras santas, com respeito a seu filho, que lhe nasceu, segundo a carne, do sangue e da raça de Davi; que foi predestinado para ser filho de Deus, num soberano poder, segundo o Espírito de santidade, pela ressurreição dentre os mortos; com respeito, disse eu, a Jesus Cristo, nosso Senhor; por quem recebemos a graça do apostolado, para fazer obedecer, ao mesmo tempo, todas as nações pela virtude de seu nome; na fileira das quais estais também, como sendo chamadas por Jesus Cristo; a vós que estais em Roma, que sois queridos de Deus, e chamados para serem santos; que Deus, nosso Pai, e Jesus Cristo, nosso Senhor, vos deem a graça e a paz." (Romanos, cap. I, v. 1 a 7.)
"Assim, estando justificados pela fé, tenhamos a paz com Deus por Jesus Cristo, nosso Senhor. Pois por que, quando estávamos na languidez do pecado, Jesus Cristo morreu por ímpios como nós, no tempo destinado por Deus? Jesus Cristo não deixou de morrer por nós no tempo destinado por Deus. Assim, estando agora justificados pelo seu sangue, seremos com mais forte razão livrados por ele da cólera de Deus. E não somente fomos reconciliados, a nós, nos glorificamos mesmo em Deus por Jesus Cristo, nosso Senhor, por quem obtivemos essa reconciliação. Se pelo pecado de um só vários morreram, a misericórdia e o dom de Deus se derramaram, com mais forte razão, abundantemente, sobre vários pela graça de um só homem, que é Jesus Cristo." (Romanos, cap. V, v. 1, 6, 9, 11, 15, 17.)
"Se vos confessais de boca que Jesus Cristo é o Senhor e se credes de coração que Deus o ressuscitou dentre os mortos, sereis salvos." (Romanos, cap. X, v. 9.)
"Em seguida virá a consumação de todas as coisas, quando terá entregue o seu reino a Deus, seu Pai, e tiver destruído todo império, toda dominação, todo poder, porque Jesus Cristo deve reinar até que seu Pai tenha posto todos os seus inimigos sob os pés. Ora, a morte será o último inimigo que será destruído; porque as Escrituras disseram que Deus os pôs todos sob os pés e a todos sujeitou-lhe; é indubitável que nisso é preciso excetuar aquele que sujeitou todas as coisas. Quando, pois, todas as coisas estiverem submetidas ao Filho, quando o Filho estiver, ele mesmo, submetido a aquele que lhe terá submetido todas as coisas, a fim de que Deus seja tudo em todos." (1ª Epístola aos Coríntios, cap. XV, v. de 24 a 28.)
"Portanto, vós meus santos irmãos, que tendes parte na vocação celeste, considerai Jesus, que é o apóstolo e o pontífice da religião que professamos; que é fiel àquele que o estabeleceu nesse cargo, como Moisés lhe foi fiel em toda sua casa; porque ele foi julgado digno de uma glória tanto maior do que a de Moisés, do que aquele que edificou a casa, e mais estimável do que a própria casa; porque não há casa que não haja sido construída por alguém. Ora, aquele que é o arquiteto e o criador de todas as coisas é Deus." (Hebreus, cap. III, v. de 1 a 4.) (Obras Póstumas - Estudo sobre a natureza do Cristo.)
99. Em que livros do Antigo Testamento há predições concernentes à vinda de Jesus?
As predições constam de vários livros e nelas a distinção entre Deus e seu enviado futuro está caracterizada da maneira mais formal. Deus o designa seu servidor, por consequência seu subordinado; em suas palavras, nada há que implique a ideia de igualdade de poder, nem de consubstancialidade entre as duas pessoas. Deus ter-se-ia enganado, e os homens vindos três séculos após Jesus Cristo teriam visto mais justo do que ele? Tal parece ser a sua pretensão.
Eis os textos:
"Eu o vejo, mas não agora; eu o vejo, mas não de perto; uma estrela procede de Jacó, e um cetro se levanta de Israel e trespassa os chefes de Moab, e destruirá todos os filhos de Seth." (Números, XXIV, v. 17.)
"Eu lhes suscitarei um profeta, como tu, de entre seus irmãos, e colocarei as minhas palavras em sua boca, e lhes dirá ele o que eu lhe tiver ordenado. E ocorrerá que, quem não escutar as palavras que dirá em meu nome, disso lhe pedirei conta." (Deuteronômio. XVIII, v. 18, 19.)
"Ocorrerá, pois, quando os dias tiverem se cumprido para lá levar-te com teus pais que farei levantar a tua posteridade depois de ti, um dos teus filhos, e estabelecerei o seu reino, e ele me construirá uma casa, e afirmarei seu trono para sempre. Eu lhe serei pai e ele me será filho; e não retirarei a minha misericórdia dele, como a retirei daquele que foi antes de ti, e o estabelecerei em minha casa e em meu reino para sempre, e seu trono será afirmado para sempre." (I, Paralipômenos, XVII, v. de 11 a 14.)
"É porque o próprio Senhor vos dará um sinal. Eis: uma virgem ficará grávida, e ela parirá um filho, e será chamado seu nome Emmanuel." (Isaías, VII, v. 14.)
"Porque a criança nos nasceu, o Filho nos foi dado, e o poder foi posto sobre o seu ombro, e se chamará seu nome o Admirável, o Conselheiro, o Deus forte, o Poderoso, o Pai da eternidade, o Príncipe da paz." (Isaías, IX, v. 5)
"Eis meu servidor, eu o sustentarei; é o meu eleito, minha alma nele colocou sua afeição; coloquei o meu Espírito sobre ele; ele exercerá a justiça entre as nações. Não se retirará nunca, nem se precipitará nunca, até que haja estabelecido a justiça sobre a Terra, e os seres se detiverem à sua lei." (Isaías, XLII, v. 1 e 4.)
"Ele gozará do trabalho de sua alma, e nisso será saciado; e meu servidor justo nisso justificará vários, pelo conhecimento que terão dele e ele mesmo levará suas iniquidades." (Isaías, LIII, v. 11.)
"Rejubila-te extremamente, filha de Sião; lance gritos de alegria, filha de Jerusalém! Eis: teu rei virá a ti, justo e salvador humilde, e montará sobre um asno, e sobre o potro de uma jumenta. E proibirei os carros de guerra de Efraim, e os cavalos de Jerusalém, e o arco do combate será também proibido e teu rei falará de paz às nações; e seu domínio se estenderá desde um mar ao outro mar, e desde o rio até os confins da Terra." (Zacarias, IX, v. 9, 10.)
"E ele (o Cristo) se manterá, e governará pela força do Eterno, e com a magnificência do nome do Eterno, seu Deus. E eles farão as pazes, e agora será glorificado até os confins da Terra, e será ele que fará a paz. (Miqueias, V, v. 4.) (Obras Póstumas - Estudo sobre a natureza do Cristo.)