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Crônicas e Artigos

Ano 10 - N° 467 - 29 de Maio de 2016

GUARACI DE LIMA SILVEIRA
guaracisilveira@gmail.com
Juiz de Fora, MG (Brasil)

 

 

 

Moção ecológica


Não se pode mais esperar. O planeta necessita de uma intervenção mais contundente por parte dos seus habitantes. Nós espíritas temos que nos engajar neste assunto. Sabemos que nosso mundo é um entre zilhões de outros tantos. Contudo, é o que Deus nos ofereceu para praticarmos nossa evolução neste presente. Evoluir conscientemente é saber onde colocar os pés porque direcionados pela cabeça que pensa e que pode decidir pelo melhor. O que vemos, contudo, é um descaso enorme por parte dos espiritistas. Necessário se torna que os Centros Espíritas mantenham em suas grades de estudos e palestras momentos direcionados à situação do nosso planeta.

Vivemos emaranhados, afirma a física quântica. Assim reagimos uns sobre os outros de tal maneira que as ações imprecatadas por um indivíduo forçosamente vai interferir em outro e assim sucessivamente, atingindo o meio ambiente. Como disse Fritjov Capra, é a Teia da vida e nela estamos inseridos. Sabemos que desencarnaremos e reencarnaremos. Sabemos que a natureza pode sofrer a ação de forças superiores e se autorrecuperar, sabemos que Jesus está no comando e sabe de antemão os futuros da Terra. Mas, e nós? Ficaremos de braços cruzados vendo a barca passar? Vamos pensar seriamente neste assunto porque outros irmãos que nem sabemos se estão ligados a religiões, estão seriamente preocupados com avanço dos acontecimentos consumistas e com a depredação da natureza, mostrando que o homem, egresso dela, não está sabendo como se conduzir perante ela.

Naquele passado, como irracionais, fomos acolhidos e sustentados por essa mesma natureza que agora insistimos por danificar no afã de suprir nossos incontroláveis desejos tecnológicos, industriais e consequentemente capitalistas. Diz-nos Renato Nunes, doutor em Filosofia pela PPGF-UFRJ: “O progresso material é indissociável da degradação da natureza, e seria hipocrisia talvez abrirmos mão das vantagens conquistadas mediante tal dominação sobre o meio ambiente em nome de um estado idílico de harmonia vital, quiçá existente em eras remotas”. Nossos rios limpos, nossas árvores exuberantes, nossas matas virgens, nosso mundo feliz. Sonho? Não. Realidade que já aconteceu e que estamos perdendo por conta de ações nefastas.

Jared Diamond,  biólogo evolucionário, fisiologista, biogeógrafo, nos faz sérias advertências através do seu livro Colapso. Ele estuda civilizações altaneiras do passado e que se perderam por não planejarem ações que perpetuassem seus domínios. Cita o Império Romano, os Anazasis, importante tribo indígena do norte dos Estados Unidos, os habitantes da Ilha de Páscoa, entre outros. Todas elas com populações prósperas, mas que por conta das imprudências administrativas e sociais acabaram por ruir. Quanto ao Império Romano ele comenta que os bárbaros várias vezes tentaram invadir o Império e foram derrotados e por que, num momento posterior tornaram-se fortes o suficiente para vencer e destruir o que parecia ser indestrutível? Segundo ele, o poder, a ganância e as imoralidades enfraqueceram os exércitos e lá se foi pelo ralo o que era difícil de imaginar que teria um fim e, convenhamos, um fim muito trágico de mortes, destruições e desolações tanto físicas quanto morais e sociais.

O interessante é que as advertências surgem a todo instante. Vejamos as reflexões do filósofo e sociólogo alemão Max Horkheimer que na década de setenta do século passado já dizia: “O avanço nas possibilidades técnicas inerentes ao Iluminismo faz-se acompanhar de um processo de desumanização. Deste modo, o progresso ameaça reduzir a nada o próprio objetivo que presuntivamente deveria realizar – a ideia do homem”. Talvez não soubéssemos entender o que nossos irmãos iluministas desejaram dizer: avancem em suas consciências, busquem a razão, saiam das fieiras da ignorância. Mas o recado parece não foi bem entendido e o que era para ser um estado libertador tornou-se um processo de escravidão ao consumismo.

Precisamos considerar que ao retirarmos um bem da natureza a realocação pode ser demorada ou nem mesmo existir. Até quando vamos explorar nossas jazidas de minério, nosso petróleo, nossas árvores, nossos rios tornando-os condutores de detritos, transformando-os em esgotos? E os nossos mares cheio da improbidade humana que lança em suas águas toneladas de lixos que poderiam estar em usinas de reciclagens? Ah homem! Onde está sua consciência ecológica? Até quando o planeta vai suportar suas incoerências? O Mundo de Regeneração não vai despontar como um Jardim do Éden renovado por Deus. Nosso Pai não coaduna com erros conhecidos e praticados por seus filhos, constantemente alertados. É preciso analisar que naquele futuro estaremos colhendo flores, frutos ou harmonia se as semearmos neste presente. E olha que não vamos deixar o Planeta para os nossos filhos ou netos e sim para nós mesmos num futuro quando aqui retornarmos. Isto parece que tem passado despercebido dentro das nossas reflexões reencarnacionistas.

“Uma consciência ecológica genuína pressupõe que exploremos parcimoniosamente a biosfera para que esta mantenha seu equilíbrio, levando em consideração que toda forma de vida, por si só, já ocasiona modificações na natureza.” – diz-nos ainda Renato Nunes. Fala-se em desenvolvimento sustentável. Ideologia que nos coloca próximos à possibilidade de conciliar produtividade capitalista com disposições ecológicas, reflete ainda Renato Nunes. E por que produzir tanto? Para satisfazer o anseio de consumo, diz-nos os peritos em mercadologia. Os homens necessitam comprar. Buscam avidamente por produtos novos. Querem novidades e o capitalismo atende e a natureza sofre. Este é o ciclo das intempéries. Compra-se para descartar logo em seguida. Os eletrônicos que deveriam durar um bom tempo, são abandonados quase que no mês seguinte da sua aquisição. Um detalhe a mais e já o consumidor quer adquirir outro, o mais novo e mais sofisticado. E pagam caro por isso. Suas mentes que deveriam auxiliá-los passam a comandá-los incitando-os a comprar e comprar sempre e muito. E a moeda? E a cédula? São apenas jogos convencionais que os seres interpretam como de valor numérico e poder de aquisição.

Gino Giacomini, brasileiro e doutor em Comunicação Social, nos dá elementos para intensas reflexões. Diz ele: “O consumismo, mais que uma desordem psicossocial, afeta o sistema ambiental na medida em que se apoia na posse e na exploração incontida de espaços e recursos finitos. Se fossem alocados todos os recursos para o atendimento das necessidades humanas, que são infinitas, o colapso ambiental seria irreversível”. Podemos afirmar que o consumista de carteirinha riria da proposta ecológica do reaproveitamento ao máximo dos bens possuídos. Isso evitaria o desperdício muitas vezes inconsequente. Reciclar deve fazer parte da agenda de todos nós. E o lixo? Você os separa? Há o lixo orgânico e o reciclável. Quantas toneladas/dia? O Planeta precisa de todos nós, da nossa consciência ecológica muito antes que consumista.

Arthur Findlay, inglês, escritor e importante figura na história do Espiritismo do velho continente, escreveu um livro  que foi traduzido por Guillon Ribeiro, editado pela FEB em 1981. O título do livro é: No Limiar do Etéreo. Sobrevivência à Morte Cientificamente Explicada. Naquela Obra e no capítulo nove vamos encontrar: “Os ambientes do mundo etéreo são, em grande parte, condicionados pelos pensamentos dos seus habitantes, de forma que, por exemplo, suas casas e modo de viver são, em larga escala, obra deles”.  Ao que parece, lá a consciência ecológica é normal, é fundamento, é natural. Sendo lá nosso destino, é bom acostumarmos com um modo de vida mais condizente com ambientes saudáveis e harmonizado com os recursos do Planeta.

Já em meados do século passado o filósofo húngaro István Mészáros advertia: “O êxito do capital consiste apenas em postergar o momento em que se tornará uma necessidade inevitável enfrentar os graves problemas de seus sistemas, que até o momento continuam a se acumular”. Mas, há soluções. Voltando a Jared Diamond, vamos vê-lo confiante de que o homem vai acordar a tempo de evitar catástrofes irreversíveis. Há que se buscarem soluções sustentáveis a partir dos governantes sim, contudo dos habitantes também. A ação necessita ser conjunta e cada um deve encontrar sua maneira de agir, tendo em vista suas tendências de comportamentos.

O Espiritismo é uma doutrina confortadora porque esclarecedora. Somos e sempre seremos responsáveis por nossas obras. Nossas casas espíritas, repetimos, necessitam se aparelhar para desenvolver estudos ecológicos desde as Escolas de Evangelização. Quanta coisa se pode fazer naqueles ambientes junto a Espíritos recém-chegados do Plano Espiritual, portanto com informações sobre este tema trazidos das Escolas que frequentaram antes de reencarnarem. A Terra ainda vai durar por bilhões de anos e precisa estar bem para melhor acolher seus tutelados. Necessitamos dela. Com o conhecimento da inexistência da morte, nós Espíritos, teremos que sempre lançar olhares para o futuro. Não basta ter o que comer, vestir e morar agora. Não basta ter oxigênio e água no presente. A crise hídrica que se estabeleceu no Brasil e em várias regiões do mundo foi um alerta. As coisas estão melhorando, mas o aviso foi dado. O uso incontrolável da água pode repetir os sérios problemas vividos principalmente em São Paulo.

Ser espírita é ser honesto com a vida. Ela nos pede acuidade, predisposição ao bem incondicional seja em qual área for. Demos a este trabalho o título de Moção Ecológica, como uma proposta de estudos nas instituições espíritas sobre este tema de grande relevância e que estudiosos do mundo inteiro estão fazendo dentro de suas áreas de pesquisas acadêmicas. Renato Nunes nos indica: “Eis assim a importância da educação sociopolítica para o consumo, pois todo sujeito é responsável por aquilo que adquire em suas transações mercadológicas”.

Há na literatura espírita vasto material de alerta sobre nossas ações enquanto encarnados. É bom deixarmos aqui marcas do bom senso, como o fez Allan Kardec. Sejamos partícipes dos planos de justaposição das nossas necessidades com as necessidades do Mundo que nos acolhe.

Há uma linha limite entre o que necessitamos e o que devemos realizar daquilo que podemos deixar de consumir e nunca deixar de realizar para o bem. Sábio é o que encontra essa linha e faz dela seu parâmetro de ações. A pasta ecológica está aberta tanto para lermos seus conteúdos quanto para acrescentar nossos conteúdos a ela. Bom tempo para realizarmos o bem. Jesus aguarda isto de nós.



 


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O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita