ANSELMO FERREIRA
VASCONCELOS
afv@uol.com.br
São Paulo, SP
(Brasil)
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O princípio de
servir
Não é difícil
constatar que a
gigantesca
maioria dos
humanos
atualmente
encarnados
enfrenta
consideráveis
dificuldades
para vivenciar o
Evangelho de
Jesus. Não me
refiro aqui aos
ainda
aparentemente
impraticáveis
imperativos de
“amar a Deus
sobre todas as
coisas e ao
próximo como a
nós mesmos”, tão
bem endereçados
pelo Messias. As
evidências
coligidas na
experiência do
dia a dia nas
sociedades
humanas
demonstram clara
dificuldade de
se encarar os
semelhantes
sequer sob os
olhares
abençoados da
empatia,
respeito e
comiseração.
O princípio de
servir, tal como
proposto pelo
Mestre, denota
profunda
maturidade
espiritual: “E,
qualquer que
entre vós quiser
ser o primeiro,
seja vosso servo”
(Mateus
20:27).
Note que o
Mestre alude ao
natural desafio
de quem busca
muito mais do
que as
oscilantes e
fugidias
conquistas
humanas. No
dicionário
Houaiss, a
propósito,
encontra-se a
explicação de
que servo
expressa a
posição de quem
“obedece ou
serve a alguém”
ou aquele “que
faz ou presta
serviços”,
particularmente
a Deus no caso
sob apreço.
Portanto,
entendido na sua
acepção mais
ampla, a
recomendação
divina abarca o
desejo
consciente de
acolher, ajudar,
amparar,
assistir,
auxiliar, curar,
cooperar,
ensinar,
elucidar e ouvir
os nossos
companheiros de
jornada, entre
outras tantas
iniciativas
benfazejas. Mais
ainda, o convite
formulado por
Jesus às
criaturas
humanas
permanece
intacto,
inspirando à
mudança de
atitudes e
conduta na
direção do bem,
especialmente
diante das
onipresentes
tragédias, dores
e dificuldades
observáveis na
paisagem
terrena.
No entanto, é
surpreendente
observar que as
instituições e
pessoas
igualmente
tropeçam ou
mesmo desprezam
a elevada
recomendação de
servir
dignamente os
seus
interlocutores –
não raro, os
responsáveis
pelas suas
sobrevivências
ou razão de
existir. Por
toda parte se
observa um quase
solene desprezo
pelas
necessidades e
problemas dos
outros. De fato,
são criadas
dificuldades de
toda sorte que
acabam quase
sempre tornando
a vida mais dura
e as
experiências
mais sofríveis.
Lidar com
burocracia
desmedida, mau
humor constante
de
atendentes/funcionários,
má vontade e
insensibilidade
crônicas,
excessiva
lentidão no
atendimento/providências,
sistemas de
trabalho
inflexíveis
(dificilmente
alguém poderá
fazer uma
queixa, por mais
justa que seja,
a um SAC, sem
fornecer o seu
número de CPF,
RG, telefone
celular etc.)
são coisas
corriqueiras de
quem precisa
solucionar algum
problema. Quem
nesse mundo já
não passou por
alguma situação
em que o
“espírito de
desserviço” não
estava
claramente
presente?
No entanto, o
exemplo de Jesus
continua a
desafiar o
escopo e a
qualidade do
papel por nós
desempenhado –
seja ele qual
for – nesse
mundo: “Bem
como o Filho do
homem não veio
para ser
servido, mas
para servir, e
para dar a sua
vida em resgate
de muitos”
(Mateus
20:28).
É fascinante que
o Mestre tenha
assim se
posicionado.
Logo ele que já
havia alcançado
a perfeição
evolutiva não se
furtou ao
sacrifício de
retornar ao
escafandro
corpóreo pelo
desejo sincero
de servir
amorosamente à
humanidade com
todas as suas
misérias éticas
e morais.
Fez ele, aliás,
absoluta questão
de vivenciar os
seus
ensinamentos
para que
guardássemos no
imo de nossas
almas os seus
exemplos
dignificantes.
No tópico sob
análise, pode-se
afirmar que ele
nos proporcionou
uma das lições
mais ricas a
respeito do que
a
espiritualidade
espera de nós.
Desse modo,
podemos inferir
que o imperativo
de servir à
humanidade nos
convoca à ação
benéfica,
produtiva,
apaixonada,
sincera e
desinteressada,
praticamente
todos os dias de
nossas vidas.
Afinal, quem
está
impossibilitado
de fornecer uma
réstia que seja
de boa vontade,
atenção,
esforço,
respeito e
empatia nas
relações
humanas?
O apóstolo
Paulo, nesse
sentido, foi
extremamente
feliz ao
ressaltar: “Servindo
de boa vontade,
como sendo ao
Senhor, e não
aos homens”
(Efésios, 6: 7).
Mas mesmo
devotando as
nossas melhores
possibilidades
em favor do
próximo não
estamos imunes a
colher algumas
decepções e
frustrações, que
não devem
diminuir o nosso
fervor. Cabe
também
acrescentar que
ao incorporar o
princípio de
servir, estamos
colocando de
lado o nosso eu,
as nossas
necessidades
particulares, os
nossos
problemas,
enfim, que
normalmente
tangenciam o
egoísmo, e nos
engajando, por
extensão, em
algo muito
maior. É certo
também que, em
assim
procedendo,
estamos
efetivamente
trabalhando para
um mundo melhor
e cooperando, de
fato, na seara
divina.