Saudade vazia
Jorge Faleiros
Desde muito chorava o
belo filho morto,
Num desastre de mar em
suntuoso falucho(1)...
Triste, a fidalga anciã
vivia em pranto e luxo,
No esplêndido solar ao
pé de velho porto...
Certo dia, a criada, em
rijo desconforto,
Dá-lhe um pobre
enjeitado, um magro
pequerrucho.
Ela clama: “Não quero!
Isto é morcego e bruxo,
Tem na face de monstro o
nariz feio e torto!...”
E a dama solitária, em
angústia insofrida,
Atravessou a morte e
acordou noutra vida,
Buscando, ansiosa e
rude, a afeição do
passado...
Debalde soluçou, na
lição do destino...
Ao desprezar na Terra o
infeliz pequenino,
Recusara, orgulhosa, o
filho reencarnado.
(1)
Falucho: navio de três
mastros e velas
triangulares; embarcação
ligeira do Mediterrâneo.
Do livro Luz no Lar,
obra mediúnica
psicografada pelo médium
Francisco Cândido
Xavier.