Damos continuidade nesta edição ao estudo do livro Obras Póstumas, publicado depois da desencarnação de Allan Kardec, mas composto com textos de sua autoria. O presente estudo baseia-se na tradução feita pelo Dr. Guillon Ribeiro, publicada pela editora da Federação Espírita Brasileira.
Questões para debate
112. Diz-se que todas as opiniões sobre o futuro do homem, finda a existência corpórea, resumem-se a cinco alternativas principais. Quais são elas?
113. Em que consiste a doutrina materialista e quais as suas consequências?
114. Em que consiste o panteísmo?
115. Que compreende a doutrina deísta?
116. Que ensina o dogmatismo, isto é, as doutrinas dogmáticas?
Respostas às questões propostas
112. Diz-se que todas as opiniões sobre o futuro do homem, finda a existência corpórea, resumem-se a cinco alternativas principais. Quais são elas?
Estas cinco alternativas são as que resultam das doutrinas do materialismo, do panteísmo, do deísmo, do dogmatismo, e do Espiritismo. (Obras Póstumas – As cinco alternativas da humanidade.)
113. Em que consiste a doutrina materialista e quais as suas consequências?
Segundo essa doutrina, a inteligência do homem é uma propriedade da matéria; ela nasce e morre com o organismo. O homem não é nada antes nem depois da vida corpórea.
Eis as consequências de semelhantes ideias: Não sendo o homem senão matéria, não há de real e de invejável senão os gozos materiais; as afeições morais não têm futuro; os laços morais são quebrados sem retorno com a morte; as misérias da vida não têm nenhuma compensação; o suicídio torna-se o fim racional e lógico da existência quando os sofrimentos são sem esperança de melhora; é inútil se impor um constrangimento para vencer os maus pendores; viver para si o melhor possível, enquanto estiver aqui, eis algo lógico e natural; é uma estupidez incomodar-se e sacrificar seu repouso, seu bem-estar, por outrem, quer dizer, por seres que serão aniquilados também, a seu turno, e que jamais tornarão a ser vistos; os deveres sociais não têm nenhuma base, o bem e o mal são coisas de convenção; o freio social é reduzido ao poder material da lei civil. (Obras Póstumas – As cinco alternativas da humanidade.)
114. Em que consiste o panteísmo?
Segundo a doutrina panteísta, o princípio inteligente ou alma, independente da matéria, no nascimento é haurido do todo universal; individualiza-se em cada ser durante a vida e, com a morte, retorna à massa comum, como as gotas de chuva no oceano.
Eis as consequências de tais ideias: Sem individualidade, e sem consciência de si mesmo, o ser é como se não existisse e as consequências morais desta doutrina são exatamente as mesmas que as da doutrina materialista.
Ressalve-se que um certo número de panteístas admite que a alma, haurida no nascimento no todo universal, conserva sua individualidade durante um tempo indefinido, e que ela não retorna à massa senão depois de ter chegado ao último grau da perfeição. Mas as consequências desta variedade de crença são absolutamente as mesmas que as da doutrina panteísta propriamente dita, porque é perfeitamente inútil se dar ao trabalho para adquirir alguns conhecimentos, dos quais deve perder a consciência aniquilando-se depois de um tempo relativamente curto. (Obras Póstumas – As cinco alternativas da humanidade.)
115. Que compreende a doutrina deísta?
O deísmo compreende duas categorias bem distintas de crentes: os deístas independentes e os deístas providenciais.
Os deístas independentes creem em Deus; admitem todos os seus atributos como criador. Deus, dizem eles, estabeleceu as leis gerais que regem o Universo, mas essas leis, uma vez criadas, funcionam sozinhas e seu autor não se ocupa mais de nada. As criaturas fazem o que querem ou o que podem, sem que com isso se inquietem. Não existe a Providência; não se ocupando Deus conosco, nada há a agradecer-lhe nem a pedir-lhe.
Esta crença é resultado do orgulho; é sempre o pensamento de estar submetido a uma força superior que melindra o amor-próprio e da qual procura libertar-se. Ao passo que uns recusam absolutamente essa força, outros consentem em reconhecer a sua existência, mas a condenam à nulidade.
Os deístas providenciais creem não só na existência e no poder criador de Deus na origem das coisas; creem também em sua intervenção incessante na criação e a pedem, mas não admitem o culto exterior e o dogmatismo atual. (Obras Póstumas – As cinco alternativas da humanidade.)
116. Que ensina o dogmatismo, isto é, as doutrinas dogmáticas?
Segundo tais doutrinas, a alma, independente da matéria, é criada no nascimento de cada ser; sobrevive e conserva a sua individualidade depois da morte; a sua sorte está, desde esse momento, irrevogavelmente fixada; os seus progressos ulteriores são nulos; ela será, consequentemente, por toda a eternidade, intelectual e moralmente, o que era durante a vida.
Sendo os maus condenados a castigos perpétuos e irremissíveis no inferno, disso ressalta, para eles, a inutilidade completa do arrependimento. Deus parece, assim, recusar-se a lhes deixar a oportunidade de reparar o mal que fizeram.
Os bons são recompensados pela visão de Deus e a contemplação perpétua no céu. Os casos que podem merecer, pela eternidade, o céu ou o inferno, são deixados para a decisão e o julgamento de homens falíveis, a quem é dado absolver ou condenar.
Essas doutrinas ensinam também a separação definitiva e absoluta dos condenados e dos eleitos; a inutilidade dos auxílios morais e das consolações para os condenados; a criação de anjos ou almas privilegiadas isentas de todo trabalho para chegarem à perfeição.
Em face de tais ideias, ficam sem solução os graves problemas seguintes:
1º De onde vêm as disposições inatas, intelectuais e morais, que fazem com que os homens nasçam bons ou maus, inteligentes ou idiotas?
2º Qual é a sorte das crianças que morrem em tenra idade? Por que entram elas na vida feliz sem o trabalho ao qual outras estão sujeitas durante longos anos? Por que são recompensadas sem terem podido fazer o bem, ou privadas de uma felicidade sem terem feito o mal?
3º Qual é a sorte dos cretinos e dos idiotas, que não têm consciência de seus atos?
4º Onde está a justiça da miséria e das enfermidades de nascimento, uma vez que não são resultado de nenhum ato da vida presente?
5º Qual é a sorte dos selvagens e de todos aqueles que morrem forçosamente no estado de inferioridade moral, onde se encontram colocados pela própria Natureza, se não lhes é dado progredir ulteriormente?
6º Por que Deus cria almas mais favorecidas umas do que as outras?
7º Por que chama a si, prematuramente, aqueles que teriam podido se melhorar se tivessem vivido por mais longo tempo, tendo em vista que não lhes é dado avançar depois da morte?
8º Por que Deus criou anjos, chegados à perfeição sem trabalho, ao passo que outras criaturas estão submetidas às mais rudes provas, nas quais têm mais chances de sucumbir do que de sair vitoriosas? (Obras Póstumas – As cinco alternativas da humanidade.)