MARCUS VINICIUS
DE AZEVEDO BRAGA
acervobraga@gmail.com
Rio de Janeiro,
RJ (Brasil)
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Os problemas resultam
dos demônios
Vá lá, ilustre leitor,
desculpe, mas esse foi
um título somente para
chamar a sua atenção,
utilizando-me de um
apelativo duplo
sentido... Um artifício,
dada a aridez do tema.
Não, não se trata de um
texto evangélico e nem
da culpabilização de
entidades extracorpóreas
voltadas ao mal de
nossas mazelas terrenas.
Contrariando o senso
comum atual, os demônios
a que se refere o
presente texto são
outros...
Falamos aqui dos
demônios interiores, que
nos consomem dias a fio.
Alimentados das nossas
tristezas, frustrações,
medos e arrependimentos,
são filhos dos fantasmas
do passado desta e de
outra vida, e que
arrastamos em nossas
mentes, como uma
tormenta que nos conduz
aos consultórios
médicos, às clínicas
terapêuticas e às casas
espíritas, na busca de
uma solução ou, quiçá,
de um alívio a esse
fardo.
Cada um tem os seus, em
maior ou menor lotação
e, por vezes, nos vemos
dominados por eles, em
uma possessão de dentro
para fora e que termina
por atrair outras
consciências que,
utilizando dessas nossas
sombras, nos fazem
sofrer. Um sofrimento
oriundo do medo da
própria dor, do remorso
de decisões e da
decepção com a nossa
fraqueza diante dos
desafios que se colocam
em nosso caminho de
crescimento espiritual.
Vai o remédio, o
tratamento espiritual, a
conversa, a reflexão e
assim vamos conseguindo
domar nossos demônios
interiores, à espera de
mais uma crise, uma
emersão que os traga à
superfície, a nos
infernizar. Muitos
buscam soluções
químicas, ou a violência
da revolta, outros ainda
perseguem santos e
gurus, mas eles ainda
sim continuam lá,
impressos em nossa alma,
nos lembrando de sua
existência.
Vencê-los? Ignorá-los?
Superá-los? Acho melhor
entendê-los... dialogar
com eles, buscar
compreender a sua
dimensão, as suas raízes
e, contando com a ajuda
de amigos, profissionais
e dos Espíritos amigos,
buscar a sua
transcendência.
Trazê-los para o seu
papel de melhoria, de
aguilhão que nos
impulsiona na insondável
estrada da evolução.
O remorso de algo
negativo reclama a
reparação... A tristeza
demanda o recomeço
construtivo... A
frustração nos leva a
refletir sobre como o
orgulho nos faz
subestimar a nós
mesmos... O medo quando
bebe da fé sincera e
coerente encontra
rachaduras em seus
alicerces... De cada
fantasma, de cada
sombra, temos na
encarnação a
oportunidade de
trabalhá-los, fazendo
luz, sem mágicas ou
milagres, mas de maneira
produtiva, que não os
permita vencer, mas que
não os extermine, pois
são parte de nós e têm
seu papel nessa
narrativa.
Necessitamos crescer com
os nossos demônios
interiores, sem que nos
consumam. Precisamos
entendê-los como uma
carta do passado que
precisa ser reescrita.
Construídos de fatores
de nossa história, esses
algozes interiores
alimentam e são
alimentados por nossa e
por outras mentes,
chamados erroneamente de
demônios, e que são um
reflexo dos interiores
conhecidos de outros
cenários, e que precisam
de nossa ação firme e
produtiva para também se
libertarem, na magia
reencarnatória da
reconstrução de laços.
Paliativos são
válidos... Mas a luta
interior, o bom combate
no amadurecimento
psicológico, este não
pode ser abandonado.
Afinal, nossos problemas
residem nos demônios
anteriores, que nada
mais, nada menos são do
que o homem velho que
está lá, oculto,
ruminando suas questões
e buscando chegar à
superfície. E para essas
lutas, além das citadas
ajudas da clínica, do
hospital e do passe,
temos outras ferramentas
imprescindíveis, como a
palavra amiga e o bem
desinteressado, todos
eles elementos
fundamentais nesse
processo de
reconstrução, a remexer
o decantado lodo de
nosso ser.
Nosso interior, visto
como porão ou como
universo, é parte de
nós, um local que não
vive apenas de lógica
positivista, mas também
de sentimento, e que
interage constantemente
com o mundo exterior,
pelos sentidos
conhecidos ou não, e se
reconceitua a cada dia.
Quando acabar a romagem
terrestre e nos
despirmos dessas vestes
carnais, será esse
interior que sobrará, e
nos veremos mais amiúde,
de forma inevitável, com
os demônios com os quais
ignoramos dialogar, nos
balanços periódicos
entre uma encarnação e
outra.