Vivemos em uma época em
que a aceitação pelo
diferente é muito
difundida. Campanhas
contra o preconceito
ganham espaço e com
justiça tenta-se
estabelecer a relação de
igualdade entre os seres
humanos.
Se fizermos uma viagem
que nem precisa ser
muito longa, mas que nos
desembarca no século
XIX, constataremos como
as coisas no quesito
igualdade avançaram.
Poderia ficar aqui horas
falando sobre a ditadura
masculina, por exemplo,
mas citarei apenas um
caso.
A mulher naquela época,
século XIX, tinha de ser
virgem, caso contrário
era devolvida à família
como uma mercadoria.
Para constatar a
virgindade olhava-se o
lençol da noite nupcial,
caso manchado de sangue,
tudo tranquilo e
favorável; caso o sangue
não viesse, bem provável
a moça não ser mais
virgem e, portanto,
desonrada, logo seria
devolvida à família.
As mães preocupadas com
o destino das filhas
usavam esperta
artimanha: faziam bexiga
com tripa de boi, bem
fina, enchiam com sangue
de pombo e introduziam
na vagina da moça.
Quando o rapaz iniciasse
o ato sexual a bexiga
naturalmente estouraria
e o sangue daria seu
recado: ELA É VIRGEM!
Pronto, tudo resolvido,
e o rapaz, orgulhoso,
poderia mostrar a marca
de sangue de sua agora
esposa a dizer que ele
havia sido, realmente, o
primeiro homem.
Santa bobagem!
Mas essa prosa foi
apenas para mostrar o
quanto éramos
intransigentes e
ignorantes a levar uma
vida repleta de
preconceitos.
Engraçado que no mesmo
século XIX o Espiritismo
mostrava que homens e
mulheres são seres em
evolução, e que o fato
de estar homem ou mulher
em nada aumentava ou
diminuía os direitos e
deveres, sendo, pois,
igual para ambos.
Demorou um pouco para
que se começasse a
assimilar, mesmo que
timidamente, essa ideia
de igualdade entre as
partes.
No início tudo dói, dói
muito mudar, mas depois
a gente acostuma.
Percebe que não tem
jeito, que a evolução é
inexorável e não resta
saída a não ser a de
aceitar que o diferente
também ocupe o seu
espaço.
Pois bem, como dizia
antes, o diferente neste
início de século XXI vem
ganhando algum destaque.
Mas não é bem do
diferente que quero
falar, porque com o
diferente é até moleza
lidar.
– Como assim???? – Você
indagará.
– Sim, é isso mesmo,
moleza lidar com o
diferente. O problema é
compreender o
semelhante.
Os grandes entraves
ocorrem não com os
diferentes, mas, sim,
com os semelhantes, os
que agem de forma
semelhante.
Por que brigas
acontecem?
Porque ninguém sabe
ceder, um fala alto, o
outro mais alto ainda, o
primeiro revida e por aí
vai...
São iguais, ou melhor,
semelhantes, embora com
pontos de vista
contrários, opostos; são
iguais nas atitudes de
incompreensão.
E, iguais na falta de
educação, vão, não raro,
às vias de fato. Por
isso que muitas amizades
se desfazem, muitas
relações vão a pique,
muitos amores
naufragam...
É que as pessoas são
iguais, agem
apaixonadamente para
defender seu ponto de
vista e, claro, local
onde a paixão excede, a
coisa não fica boa...
Dizem os Espíritos que a
paixão deve ser
dominada, pois, se nos
deixarmos dominar por
ela, causaremos
prejuízos a nós e aos
outros.
Por isso que eu disse
ser moleza entender e
conviver com o
diferente, por conta da
paixão que deixamos nos
dominar.
Dois apaixonados não se
beijam... Ops... dois
bicudos não se beijam,
não é mesmo?
Então... por isso que
estar com o diferente é
mais tranquilo do que
com o semelhante...
Enquanto ele está calmo,
você fica nervoso...
Quando ele se aborrece,
você entende...
No dia em que ele quer
falar, você está
disposto a ouvir, e
vice-versa...
O problema de nosso
mundo não são os
diferentes, mas os
iguais, os semelhantes,
os que se equivalem...
Por isso que quando
encontro alguém que é
meu oposto suspiro
aliviado! Ah, que bom,
ele não é igual a mim...
Entretanto, o progresso
é lei da vida, dia
chegará em que com os
semelhantes ou não
semelhantes usaremos
sempre a educação e o
respeito.
Pensemos nisto.