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Crônicas e Artigos

Ano 10 - N° 473 - 10 de Julho de 2016

EURÍPEDES KÜHL
euripedes.kuhl@terra.com.br
Ribeirão Preto, SP (Brasil)

 


A paz de Jesus


Anos mais tarde, aproximando-se o martírio no Calvário, segundo João, em 14:27, JESUS reuniu seus apóstolos e lhes disse: “Deixo-vos a paz, minha paz vos dou. Não vo-la dou como o mundo a dá. Não se perturbe nem se intimide vosso coração”.

Antes de refletir sobre a paz de Jesus, registro apenas alguns dos inúmeros significados e empregos da palavra paz, palavra essa que carreia suavidade em si mesma:

1. Ausência de lutas, violências ou perturbações sociais; tranquilidade pública; concórdia; harmonia.

2. Ausência de conflitos íntimos, ou entre pessoas; bom entendimento.

3. Repouso; silêncio; sossego.

4. Cessação de hostilidades.

Fazer as pazes: reconciliar-se; tranquilidade de alma; “alma em paz”: pessoa consciente de ter cumprido o dever. (Novo Dicionário Básico da Língua Portuguesa, FOLHA/AURÉLIO, pág.489, Folha de S. Paulo, 1995.)

Para falar da paz de Jesus é bom lembrar que antes da sublime visita do Mestre neste planeta, como homem, encarnado, povos antigos, muitos se expressando em Latim, preocupados com a paz, proclamavam:

“Si vis pacem, para bellum” = Se queres a paz, prepara a guerra.

Isso significava que para viver em paz, a pessoa ou a nação deveriam estar armados como se fossem entrar em guerra. No fundo, no fundo, o pensamento é de que, se mostrassem possuir mais força, desencorajariam agressores mais fracos.

Outro conceito é o de que a morte dá paz e assim é que também vem da antiguidade a expressão dos textos litúrgicos, referentes à missa dos mortos e das encomendações dos defuntos:

“Requiescat in pace” = Descanse em paz!

Jesus, recomendando o perdão, implodiu o conceito do “olho por olho” que Moisés cristalizou, segundo o qual, para obter a paz era permitido ao agredido eliminar o agressor.

Hoje, com o domínio da energia atômica por vários países, o mundo vivencia a “paz compulsória”, imposta pela certeza de que, se um dos países do clube atômico lançar uma bomba atômica em outro país também sócio desse clube, não haverá vencedor. A retaliação eliminará ambos do mapa mundial, e por extensão... Praticamente a Humanidade toda...

Jamais qualquer guerra trouxe a paz. Ficam sequelas que o tempo dificilmente apaga. E aí surgem as perguntas: onde encontrar a paz? Onde buscar a paz?

De início, em nós mesmos, pela observância das Leis Divinas.

Para mim, a fonte mais viável e sublime da paz é praticar os conselhos de Jesus, de forma específica àquele que recomenda o Amor a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo.

Ressalto que sobre a paz há tantos pronunciamentos no Antigo Testamento e em particular no Novo, além de expressivo número na literatura espírita, que seria impraticável citá-los aqui. Não foi, pois, sem razão que os Profetas, e com ênfase Jesus, tanto a enalteceram.

Aliás, já quando Jesus nasceu o Anjo do Senhor apareceu a pastores das regiões próximas da abençoada estrebaria e anunciaram: Glória a Deus no mais alto dos Céus e paz na Terra aos homens que ele ama! (Lucas 2:14.)

Possuir a paz requer a aquisição e prática permanente de virtudes possíveis a todos, em qualquer tempo, com realce à tolerância... Paz que é fruto da transformação moral e do combate às más inclinações, como asseverou Allan Kardec no item quatro do cap. 17, de O Evangelho segundo o Espiritismo.

Reduzindo os termos: a posse da paz é uma construção individual, Espírito a Espírito, dia a dia, que exige um “homem novo” no lugar do “homem velho” — autorreforma.

Na Mansão da Paz, alvo de ataques das sombras, o Instrutor Druso leciona que “a paz não é conquista da inércia, mas sim fruto do equilíbrio entre a fé no poder divino e a confiança em nós mesmos, no serviço pela vitória do bem”. (Livro Ação e Reação, André Luiz/Psicografia de F. C. Xavier, cap.3, pg.38, 5ª Ed., 1976, FEB, RJ/RJ).

Não deixo de citar o aparente paradoxo de haver o Cristo declarado que não viera trazer a paz, mas sim a espada (Mateus 10:34), aludindo guerra em família: obviamente não se referia a conflitos físicos (duelos), mas à vivência difícil junto aos parentes. Difícil também não só com eles...

A espada a que Jesus se referia é aquela cujo detentor, simbolicamente em ação própria, corta o egoísmo, o orgulho, a vaidade, a vingança.

Tenho como bem clara a intenção de Jesus quando proclamou: “É preferível ganhar o Céu, mesmo que para isso o homem venha a perder a Terra”. Os apóstolos deram testemunho disso, os mártires também são exemplos dessa “perda da Terra”. Hoje, não precisamos mais ser trucidados em arenas por feras. Aliás, foi o próprio Mestre que no abençoado Sermão do Monte, referindo-se às bem-aventuranças, disse à multidão: Bem-aventurados os pacíficos porque serão chamados filhos de Deus.

Recomendando a doçura e a afabilidade, o Cristo ensinou o roteiro que leva o Espírito “a ganhar o Céu” (o Reino de Deus), pleno de paz.

Por toda parte a doutrina de Jesus ensina que para o homem encontrar a paz é necessário que proceda sempre com mansuetude, com tolerância, com afabilidade, perdoando “setenta vezes sete vezes”.

Finalizando:

Na tarde da aparição a Maria Madalena, Jesus apresentou-se aos discípulos que mantinham fechadas as portas onde se encontravam, por medo dos judeus. Jesus veio e pondo-se no meio deles, lhes disse: “A paz esteja convosco”, e a seguir mostrou-lhes as mãos e lhes disse de novo: “A paz esteja convosco” (João 20:11, 19 a 21).

A paz de Jesus é pulsante, é luz sem sombra e movimento harmônico de corações. É plena de Amor. 

 

 


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O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita