As fábulas que nos
contaram encheram nossas
almas de informações
sábias. Para Espíritos
infantis nada melhor que
um bom contador de
histórias. Assim, a
sabedoria planetária
enviou ao plano dos
encarnados ilustres
alegoristas que, com
calma e bom humor,
convenceram milhares a
se converterem para uma
vida digna, honrada e
promissora.
Não é nosso propósito
aqui enumerá-las. Todas
cumpriram e cumprem seus
papéis dentro do
contexto literário de
aprimoramento do
indivíduo. A nossa
avaliação é outra: Até
que ponto as utilizamos
ao longo de suas
existências entre nós?
As alegorias vieram para
o Ocidente provenientes
do Egito, terra de
sábios, terra de
gigantes da comunicação
interestelar. Eles
cunharam o saber que a
humanidade ainda
desconhece. Toda a
riqueza da Biblioteca de
Alexandria não estava
circunscrita a ela. Há
tesouros guardados
dentro de segredos
arqueológicos que esta
humanidade ainda não tem
suporte ético e moral
para receber.
Aliás, o conhecimento é
gradativo e chega a cada
um na razão direta de
sua diluição. Diluir um
conhecimento de alta
valia tem que
representar absorvê-lo e
cumpri-lo. Quase ninguém
está apto a tal. Ainda
vive esta humanidade na
cantilena das sereias,
atraída pelas suas
imorredouras ilusões,
mesmo sabendo que o
tempo dessas notas
musicais esparsas já
acabou.
Daí que nos remontamos
ao tempo de Hermes
Trismegisto.
Tempo do saber
hermético, fechado, não
porque seus construtores
o quisessem e sim porque
tais conhecimentos
seriam jogados como
“pérolas aos porcos” na
expressão do Mestre
Divino. Aliás, Ele mesmo
anunciou: “Ouça quem tem
ouvidos de ouvir e veja
que tem olhos de ver”. E
quem tem olhos e ouvidos
afinados com a harmonia
cósmica? Poucos,
diríamos. Infelizmente,
poucos.
Quando se anuncia um
novo ciclo para o
planeta, muitos se
arvoram em dizer que
gostariam de aqui
permanecer. Outros,
menos felizes, juram que
nunca mais querem
retornar a este mundo de
penúrias. E quem medirá
tal separação ou
seleção? Somente cada
indivíduo. Dizem que a
incauta Pandora está
reunindo de volta à sua
caixa todos os vícios
que libertou um dia e
prendê-los-á de novo
soltando a esperança
retida. Mas, quem deseja
a esperança? Aliás,
esperar o quê? Que
sonhos acalenta a grande
maioria?
Dizem que há no céu um
departamento que avalia
os desejos e prazeres
humanos. Os desejos
estão na razão direta
dos prazeres. Assim,
temos o prazer do sexo,
da alimentação, do
equilíbrio, dos
relacionamentos, das
conversas, das
percepções e da
transcendência. É um
caminho de ascensão. Na
Idade Média os
Alquimistas denominavam
de Nigredo (escuro),
Albedo (claro) e Rubedo
(rubro) os caminhos que
a alma necessita trilhar
até encontrar-se consigo
mesma capacitando-se a
viver uma realidade
superior. É o Tao
apregoado pelos
orientais.
Muitos até hoje não
passaram da etapa
Nigredo. Ficam, como na
Alegoria da Caverna de
Platão, acorrentados no
fundo da mesma, vendo
sombras de manipuladores
que passam do lado de
fora, achando que
conhecem o mundo e o
definem a partir de
sombras de uma realidade
muito maior e extensa. E
por quê?
Há no ser o lado divino
e o lado humano. O
maniqueísta diria que é
o bem e o mal. Nem
sempre é assim. O lado
divino é incontestável.
O lado humano
necessário. É meio,
caminho, formatação. De
forma que o problema não
é estar humano e sim
como viver o humano.
Nele vamos encontrar o
ego inferior:
superficial, exigente,
amoral, às vezes imoral,
frágil, inseguro,
medroso, covarde,
sensual, arqueiro de um
reino em decadência. E
há o ego superior
afinando-se com a
divindade intrínseca em
cada um. De sorte que
cada um se forja com a
cunha que deseja.
Há os que falam dos
santos. Invejam os
santos e se dizem
distanciados deles
eternamente. Mas quem
são eles, senão os que
venceram galhardamente
seus egos inferiores? E
como se vence o ego
inferior? Conversando
amigavelmente com ele.
Mostrando-lhe os
caminhos da
superioridade. Há os que
entendem que o vencemos
com o recurso dos
látegos. Ora, assim
fazendo, estamos nos
igualando a ele. O ego
inferior necessita
carinho e atenção, assim
como uma criança bebê
necessita do peito
materno para sentir-se
seguro e alimentado. O
que dizer sobre uma
criança que chora a
noite toda e dorme
tranquilamente durante o
dia? Gritamos com ela?
Batemos nela?
Entorpecemos seu corpo
quando a noite aproxima?
Com certeza a esmagadora
maioria dos pais assim
não age, tendo em vista
o amor pela sua prole.
Amor, eis a palavra
chave. Nosso ego
inferior necessita de
amor. E tal como a
criança que vai se
acomodando às
necessidades do dia e da
noite, ele vai se
acomodando às
necessidades dos seres
superiores, claudicando
a princípio, firmando-se
depois para instruir-se,
assim como nossos filhos
nas universidades.
Isto seria a reforma
íntima? Damos o título
que quisermos. O fato é
que não há mais tempo a
perder. Ou nos
aproximamos do novo
ciclo preparando-nos
para ele ou seremos
engolidos pelas ondas
gigantescas de Poseidon
e iremos para planetas
cujos habitantes ainda
se encontram envoltos
nas brumas dos
primarismos,
necessitando de Zeus e
seus filhos e feitos. O
bom mesmo é sermos como
Ulisses desafiando o
deus do mar e vencê-lo.
Afinal, Ítaca nos
aguarda e nela Penélope
e nossos filhos. Homero
nos disse com sua
“Odisseia” que Ítaca é o
nosso mundo interior.
Penélope nosso par
interno e, as virtudes
conquistadas, nossos
filhos.
O logos substituiu o
mito e a razão iluminou
a consciência humana.
René Descartes nos
ajudou com sua teoria do
verificar, analisar,
sintetizar e enumerar.
Hegel nos falou sobre a
busca do Absoluto
mostrando-nos que o ser
está em si, em busca de
si. Platão nos disse que
deixemos de lado as
aparências e busquemos
as essências. Nem sempre
o soldado revestido de
forte armadura está apto
a ser bom guerreiro. É
necessário que busque a
justiça e a verdade. Ou
seja: não basta estar
encarnado. É necessário
avaliar suas buscas
enquanto tal. Sócrates
nos disse que a
verdadeira cura da alma
está na sua libertação
do corpo, pois quem
cuida do corpo esquece a
alma e quem cuida da
alma representa-se a si
mesmo. Aristóteles nos
concitou a viver com
alegria nossa posição no
universo. Somente a
alegria pode levar o
homem aos seus destinos.
Santo Agostinho nos
convida a sermos
cidadãos da Cidade de
Deus, esquecendo
definitivamente a Cidade
dos Homens. Cidadelas
perniciosas que prendem.
Kant nos convida ao
exercício da razão pura
e Espinoza nos informa
que Deus é imanente em
toda a sua criação.
Paulo de Tarso nos
alerta: “Levanta, oh tu
que dormes” e diz a
Timóteo que não se
envolva com essas coisas
que escravizam os
homens. Que sejamos,
antes de tudo, vasos de
honra onde Jesus possa
nos utilizar a todo
instante para a Obra do
Amor e do Bem. Pedro nos
alerta: “Busque a paz e
siga-a”.
Allan Kardec em sua
didática e reflexões
reuniu num único corpo
doutrinário todo o
conhecimento que a
humanidade já adquiriu
até agora, resgatando o
cristianismo de origem e
deixando aberta a porta
para a ciência,
perpetuando, assim, a
Doutrina Espírita.
Depois dele, grandes
almas, alcandoradas
pelas lidas ao lado de
Jesus e suas propostas,
contribuíram e
contribuem de forma
sábia e elegante para
que não nos percamos nas
vielas que vão ao lado
do grande caminho. Chico
Xavier nos ofereceu
noventa e dois anos de
extrema dedicação,
renúncia, exemplos e
trabalho, para nos
deixar um legado de
proporções ainda
inimaginadas por todos
nós.
Agora está surgindo
outra lenda. Alegoria
estranha que diz serem
alegorias funestas os
ditos de André Luiz
sobre o plano
espiritual, suas
colônias, seus zelos e
acolhimentos. Seus
caminhos de instruções e
preparações
reencarnatórias. Há
mesmo quem o classifique
de suicida
desqualificado ou pregue
em tribunas espíritas
sem citar uma única
referência aos trabalhos
do médium mineiro. Outra
alegoria diz que
Emmanuel nos quer levar
de novo aos mosteiros e
claustros medievais com
suas anotações
evangélicas. E há ainda
aqueles que desejam
encarnar Chico Xavier em
suas preces finais dos
eventos. E, estranho, o
mesmo Chico Xavier faz
uma prece por um médium
no Nordeste e ao mesmo
tempo faz outra, bem
diferente, por outro
médium, lá no Sul. E
tudo transmitido ao vivo
pela internet. Isto
passa pelas três
peneiras de Sócrates: é
verdadeiro, é bom, é
necessário?
E por que isto? –
perguntamos. Será mesmo
que Chico Xavier nos
enganou? Ah, mas, com
sua estrema simplicidade
e humildade, ele mesmo
teria se desincumbido de
tal missão. Tivemos a
honra de conhecer Chico
Xavier de perto e
dizemos: ele jamais
faria isto. E os que
apregoam sua
“insanidade”, serão
mesmo pessoas de pura
sanidade? Ou antigos
sofistas que retornaram
em busca da Ágora na
Atenas destruída? Mas
Atena é a deusa da
sabedoria! Ou, quem
sabe, são juízes crespos
no Areópago esmaecido
tentando ter voz onde
nunca tiveram?
Não há mais tempo para
esses dizeres que em
nada contribuem. André
Luiz antecipou em
décadas a ciência, e
Emmanuel antecipou em um
sem-número de contas o
real sentido dos
capítulos e versos do
Evangelho de Jesus. Quem
duvida que apresente
algo melhor. E aí a
nossa dúvida: será que
terão algo melhor? O
interessante é que esses
sofistas do presente
utilizam-se dos
conteúdos kardecistas
para amparar suas
teorias. Mas, onde Chico
Xavier contrariou Allan
Kardec? Emmanuel mesmo
disse ao médium que se
ele, Emmanuel, se
desviasse de Kardec, que
seguisse o mestre lionês
e não a ele, Emmanuel. E
as preces? Por que não
fazê-las por nós mesmos,
no silêncio das nossas
intimidades e na
lealdade aos nossos
propósitos de evolução?
Cuidemos, porque estamos
escrevendo uma história
dentro da história do
Espiritismo, Consolador
Prometido. Cuidemos
ainda para não sermos
relegados ao abandono
por aqueles do próximo
ciclo, taxados de
inábeis e inconsistentes
ao mesmo tempo em que
vagos presunçosos e
inconsistentes. Estudar
sim, acrescentar também.
Contudo, com bom senso
para não escrevermos
fábulas impróprias para
maiores.
Seriam egos inferiores
acicatando outros e a si
mesmos, ou egos
pré-superiores tateando
e buscando se firmar
nalguma plataforma ainda
difícil para eles? Bem,
confesso que não tenho a
resposta. Nem estou aqui
como juiz ou conselheiro
e sim como observador.
Uma coisa eu sei: “eu
era cego e agora vejo”.
Graças aos trabalhos dos
grandes sábios da
filosofia, das ciências
e da teologia, incluindo
Allan Kardec, Chico
Xavier e os Espíritos
iluminados que se
utilizaram da sua
mediunidade, hoje posso
olhar o mundo de frente
e sentir-me Espírito
livre para crescer
dentro de uma Doutrina
cuja extensão e a
complexidade fogem aos
meus entendimentos, mas
que me chama e me busca
o tempo todo. E eu vou!