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Crônicas e Artigos

Ano 10 - N° 474 - 17 de Julho de 2016

RICARDO BAESSO DE OLIVEIRA 
kargabrl@uol.com.br
Juiz de Fora, MG (Brasil)

 


A origem da moralidade


A moralidade se refere a diretivas para a vida, a obrigações. Ao que devemos e que não devemos fazer. Mas, afinal, por que somos seres morais? Qual a origem da ética?

Há duas propostas filosóficas a serem consideradas, segundo comenta o filósofo Michael Ruse, no livro Levando Darwin a sério. Primeiro, há a proposta segundo a qual a base final da ética é objetivista, ou seja, as normas morais existem independentemente dos seres humanos. As normas de conduta são fixas e eternas e, segundo alguns, retratam a vontade de Deus. Matar é errado, porque Deus afirma isso. O plano da natureza vem de Deus. Em consequência, a violação desse plano, no caso de nossos pecados contra a natureza, é uma afronta a Deus, o seu Ordenador.

A outra proposta filosófica, denominada de subjetivismo, alega que a moralidade é uma função da natureza humana, e que sem os seres humanos não existiria o certo e o errado. Não existe uma fonte independente de moralidade. Tudo depende dos sentimentos, pensamentos e inclinações humanos. Sendo assim, a moralidade vem se instalando e se desenvolvendo na consciência humana através da história, na medida em que não existia antes da consciência. Os subjetivistas se dividem em dois grupos: os que acreditam que a moral é resultado da evolução biológica, através da seleção natural, e os que creem que a moral é resultado da cultura e não da biologia.

O darwinismo explica que a moralidade surgiu porque se trata de uma maneira efetiva de tornar cooperativos os seres humanos. Segundo os biólogos evolucionistas, no processo da evolução vemos o caminho da moralidade e, no curso da evolução, a base do nosso conhecimento do bem e do mal, do certo e do errado. Edward Wilson, eminente biólogo de Harvard, afirmou que na evolução biológica (seleção natural, proposta pelo darwinismo) está a chave para a nossa perfeita compreensão da moralidade.

Existe uma regra férrea na evolução social humana: grupos altruístas derrotam grupos egoístas. Os seres humanos foram obrigados a buscar a moralidade – a fazer a coisa certa, se refrear, ajudar os outros, às vezes correndo risco pessoal, porque a seleção natural favoreceu essas interações dos membros do grupo que beneficiam o grupo como um todo.

Para outros teóricos, no entanto, a moralidade é algo que surge das relações interpessoais dentro da sociedade. Princípios éticos são o resultado da cultura e não da evolução biológica. As relações humanas intragrupos levaram ao desenvolvimento de regras comportamentais – o certo e o errado – para que a convivência humana se tornasse possível.

O surgimento da religião teve, sob esse aspecto, papel fundamental, ao reforçar o papel da ética no entendimento entre os homens e, consequentemente, na sobrevivência e no progresso das sociedades. A ideologia compartilhada pela religião ajuda a resolver o problema de como os indivíduos que não são parentes devem viver juntos sem se matar – dando a eles uma ligação que não é baseada em parentesco. Também dá às pessoas um motivo, além do interesse genético, para sacrificar suas vidas em favor dos outros. À custa de alguns membros da sociedade que morrem em batalha como soldados, a sociedade como um todo se torna muito mais eficaz em conquistar outras sociedades ou resistir a ataques. A fé religiosa oferece a segurança psicológica que advém exclusivamente do pertencimento a um grupo. O biólogo evolucionista David Sloan Wilson, citado por Dennett, no livro Quebrando o encanto, disse que a religião existe principalmente para que as pessoas consigam, juntas, o que não conseguem alcançar sozinhas.

 O que pensava Kardec a respeito? Na obra Kardequiana encontramos elementos que se identificam com ambas as propostas filosóficas. Kardec é objetivista, na medida em que afirma que Deus estabeleceu, no Universo, Leis morais, cuja finalidade é o progresso e a felicidade das almas, e que essas leis não dependem essencialmente das almas. Observamos em O Livro dos Espíritos:

- A lei natural é a lei de Deus. É a única verdadeira para a felicidade do homem. Indica-lhe o que deve fazer ou deixar de fazer e ele só é infeliz quando dela se afasta (item 614).

- É eterna a lei de Deus e imutável como o próprio Deus (item 615).

Mas Kardec também assume compromissos com a ideia subjetivista, porque mostra que os bons sentimentos não povoam a alma de uma só vez, mas são resultado de experiências multimilenárias em diferentes dimensões de vida. Conferimos também na obra já citada:

- Os homens são obrigados a modificar suas leis, por imperfeitas (item 616).

- É dado ao homem aprofundar-se nas leis de Deus, mas uma única existência não lhe basta para isso (617).

- Todos a compreenderão um dia, porquanto forçoso é que o progresso se efetue (619).

- O homem traz em sua consciência a lei de Deus, mas como ele a esquecera e desprezara, quis então Deus que lhe fosse lembrada, através de diferentes revelações (item 621).

Concluindo: as características que consideramos mais humanas, como nossa capacidade de sentir com o outro, nos identificando com suas dores e necessidades, assim como os sentimentos que guiam nossas relações familiares e sociais, provavelmente refletem um longo processo de aperfeiçoamento do princípio inteligente, que começou há dezenas de milhões de anos, quando nossos ancestrais começaram a viver em grupos sociais. Os seres que vivem em grupos sociais são capazes de desenvolver padrões de comportamento que não são puramente egoístas, no sentido de promover a sobrevivência ou o sucesso reprodutivo de um indivíduo à custa de outro. Muitos pesquisadores acreditavam que os valores morais, particularmente o altruísmo e a generosidade, que enobrecem grande parte dos seres humanos na contemporaneidade, tiveram suas sementes plantadas nessa fase de nossa evolução, quando a sobrevivência do grupo estava na razão direta da capacidade de cada um ceder em benefício do todo. Assim, através dos milênios, o ser espiritual vai incorporando em sua individualidade as noções do certo, do belo, do saudável, do bom, do útil, refletindo em suas ações as leis eternas de Deus.

 

 


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