Sim. Ela é diversa. Ela
tende a se espraiar por
todos os setores da
sociedade e fazer com
que sintamos sua força
nos tomando de roldão e
nos levando para singrar
belos e intensos mares
nunca dantes navegados.
Ela é a fraternidade,
palavra originária do
latim fraternitas
e que significa
irmandade, reunião de
irmãos, de almas afins.
Como é bom quando nos
reunimos com pessoas
afins conosco, não é
mesmo?
E quanto às pessoas que
não fazem parte da nossa
turma? Ah, essas a gente
deixa para lá! Mas, aí,
onde fica a fraternidade
em seu conceito
universal, amplo,
fundamentalmente
cristão? Afinal, somos
ou não somos irmãos em
humanidade?
No livro A Voz do
Monte, o escritor
paulista Richard
Simonetti analisa o
Sermão do Monte. No
capítulo destinado ao
“Bem-aventurados os
pacificadores, porque
serão chamados filhos de
Deus”, ele observa como
é grande o número de
pessoas que se comportam
como se não tivessem
sido geradas pelo
Criador. Tiranos,
déspotas, sanguinários,
torturadores etc., sejam
eles figuras de grande
projeção ou simplesmente
anônimos.
Nas palavras de Richard,
um filho tem como dever
principal respeitar a
casa de seu pai e sua
mãe. Quem assim não
procede, “pode ser
chamado filho, sob o
ponto de vista
biológico, mas
moralmente é um bastardo
(...) por faltar-lhe o
elementar dever de
gratidão e respeito para
com aqueles que o
colocaram no mundo”.
Simonetti ressalta que
nossas contradições não
são evidências de que
não sejamos filhos de
Deus. Todos o somos. No
entanto, nossos
desajustes e
descompassos fazem parte
do processo de maturação
espiritual. Estamos em
franco aperfeiçoamento
moral, percebamos ou
não. Mais dia, menos
dia, a marca da filiação
Divina será mais latente
em nossa conduta. Quando
isso acontecer, nos
sentiremos
verdadeiramente filhos
do Pai Maior, pois
estaremos em sintonia
plena e constante com
Ele.
Se como filhos de Deus
ainda pisamos na bola,
como irmãos uns dos
outros, então, nem se
fala! É aí que a
fraternidade vem para o
centro da conversa.
Em 2015, o então
governador de S. Paulo,
Geraldo Alckmin, perdeu
o filho caçula – Thomaz
– em um acidente de
helicóptero que também
vitimou outros quatro
homens. À época, havia
constantes protestos
acerca das mudanças que
o governo de São Paulo
queria implantar na rede
estadual de ensino.
Houve quem fosse para as
proximidades do local do
velório, empunhando
cartazes, para protestar
contra a política
educacional de Geraldo
Alckmin.
Sou francamente
favorável às razões que
levaram os jovens
paulistas a tomar as
ruas e ocupar escolas.
Estou com eles e não
abro. No entanto, é
falta de fraternidade
perturbar alguém que
está de luto, ainda mais
devido à perda de um
filho. Há hora para
tudo, e o melhor a fazer
no momento era respeitar
a dor alheia. Nesses
momentos, não há espaço
para divergências
políticas. Deve haver
respeito calcado na
fraternidade.
O Brasil do meio da
segunda década do século
21 vem passando por
sérias turbulências
sociais e políticas e
dividindo as pessoas em
grupos (às vezes
raivosos) prós e contras
essa ou aquela ideologia
política, convicção
religiosa, orientação
sexual etc.
Em dezembro de 2015 o
cantor e compositor
Chico Buarque foi
achacado por alguns
jovens quando, em
companhia de amigos,
saía de um restaurante
no Leblon, bairro nobre
da Zona Sul carioca.
Um dos jovens o provocou
por ser simpatizante de
um partido de esquerda.
Disse, inclusive, que
todos os membros daquele
partido eram ladrões.
Chico deu uma resposta
simples e apaziguadora,
mas foi rebatido com
palavreado de baixo
calão. Em seguida, o
autor de A Banda
e outras joias da MPB
foi interpelado pelo
grupo por ter um
apartamento em Paris. Na
visão deles, alguém
simpático à esquerda não
deveria ter moradia na
capital francesa. O
achaque prosseguiu.
Chico, sem perder a
calma, rebateu dizendo
que, na opinião dele,
eram bandidos os membros
do partido que os
playboys supostamente
defendiam.
Meses depois, abril de
2016, foi a vez de o
ator José de Abreu
passar pelo mesmo
constrangimento quando
jantava com a esposa em
um restaurante de São
Paulo. O jovem que o
hostilizou alegou, em
voz alta, que achava um
acinte alguém da
esquerda comer num
restaurante japonês
voltado a pessoas de
alto poder aquisitivo. O
entrevero seguiu com
troca de ofensas e
acusações infundadas
vindas do rapaz e sua
acompanhante. Culminou
com Zé cuspindo em
ambos. Lamentável
desfecho.
Lembro que, certa vez,
um amigo postou na rede
social Facebook um
comentário maldoso
acerca da atriz Regina
Casé. Segundo ele,
Regina, apresentadora do
programa Esquenta,
enaltece a periferia e
os favelados, mas era
digna do desprezo dele
por morar no Leblon (ah,
o Leblon!). À época, o
deputado federal Jean
Wyllis, do RJ, membro de
um partido de esquerda,
foi alvo de críticas
semelhantes por ter
aceitado participar de
um evento, no qual ficou
no camarote VIP.
Chico Buarque e José de
Abreu são da esquerda e
sofrem agressões por
terem apartamentos em
Paris e jantarem em
restaurantes caros.
Regina, na visão do meu
amigo, não deveria morar
na Zona Sul carioca, mas
numa comunidade carente.
E Jean jamais poderia
aceitar bancar o
convidado VIP. Tudo isso
soa a despeito.
Vivemos uma espécie de
cultura do despeito,
sentimento que, segundo
o Espírito Joanna de
Ângelis, no livro
Vida Feliz
(psicografia: Divaldo P.
Franco), inspira-se em
atitudes infelizes,
fomentando perseguições
gratuitas, acusações sem
fim e informações
venenosas.
Por que artistas
simpatizantes de um
partido de esquerda não
podem ter imóveis em
Paris? Chico Buarque é
de família de
intelectuais de classe
média alta. Além disso,
é um dos mais
importantes nomes de
nossa cultura. E José de
Abreu trabalha desde os
14 anos. Tem uma longa e
consagrada trajetória no
cinema, teatro e TV. Ou
seja, ambos compraram
apartamentos na Cidade
Luz e jantam em
restaurantes caros
porque têm dinheiro
fruto de trabalho árduo
e incessante de décadas.
Qual é o problema? E
Regina Casé é neta de
Ademar Casé (pioneiro do
rádio no Brasil) e filha
de Geraldo Casé,
consagrado diretor de
TV, responsável, entre
outras obras, pela
premiada versão
televisiva do Sítio
do Pica-pau Amarelo
que foi ao ar na TV
Globo, na segunda metade
da década de 70 do
século passado. E Jean
foi a um evento para o
qual foi convidado. Por
que tanta celeuma em
torno disso?
Segundo o texto de
Joanna de Ângelis, “O
despeitado não perdoa o
triunfo do próximo”.
Nos casos acima, na
visão do despeitado,
Chico e José de Abreu
deveriam comer prato
feito no boteco da
esquina e morar num
quarto e sala de um
bairro popular. Mas como
almoçam em restaurantes
caros e têm dinheiro
para comprar imóveis no
exterior, são alvos da
ira dos despeitados.
Idem Regina que, na
visão dos playboys, não
pode morar bem e gostar
do pessoal que não mora
tão bem quanto ela.
Então, ela que se mude
para a favela e deixe os
despeitados em paz. E
Jean, deputado
esquerdista, que vá a
alguma festinha de fundo
de quintal; nunca a um
camarote VIP.
Joanna termina a
mensagem dizendo que
devemos aprender a
compartilhar do triunfo
do próximo. Aí, seremos
felizes. Isso se chama
fraternidade.
Infelizmente, e por
diversas razões, não é o
que temos visto. As
pessoas andam com raiva
de quem pensa de modo
diferente do delas.
Principalmente se o
diferente for da mesma
classe social e
frequentar os mesmos
locais que ela. –
Mas, como? Ele é sócio
do mesmo clube,
frequenta os mesmos
restaurantes, tem o
mesmo padrão de vida que
o meu! Mora tão bem
quanto eu! Também viaja
de primeira classe! É
culto, é artista, é da
Globo e pensa diferente!
Ah, não! Não posso
aceitar!
Aí, ficam mordidos, o
despeito se instala e
partem para a agressão,
como nos casos citados.
Só que a fraternidade é
diversa, isto é, o mundo
não é esse lugar
arrumadinho que muitos
pensam. Daí, a
dificuldade em lidar com
o diferente que é
próximo. Se esse
diferente é de outra
classe social, mora em
local distante e tem
outra orientação sexual
etc., tudo bem. Mas o
diferente que está
próximo assusta. E como!
Aí, tratamos de
enxotá-lo, pois ele está
perturbando a hegemonia
de nosso mundinho
arrumado feito casa de
boneca.
Sou da esquerda, ok? Não
precisa fechar o livro e
sair correndo. Tampouco
atirá-lo ao fogo. Não
estou fazendo
proselitismo ideológico.
Só quero dizer que, por
formação de vida e
acadêmica, sou da
esquerda, embora não
seja filiado ou seguidor
desse ou daquele
partido. Sou filho de
famílias de operários,
tanto por parte de pai
como de mãe. Estudei
toda vida em colégio
público, fiz curso de
inglês porque consegui
bolsa, só cursei
faculdade quando já
trabalhava para pagá-la
e sou o único filho e o
único neto a ter curso
superior. A maioria dos
meus professores tinha
(e ainda tem) o
pensamento mais para a
esquerda. Mesmo porque,
trata-se de um curso
(Comunicação) em que
vamos fundo em questões
como indústria cultural,
manipulação das massas,
liberdade de expressão,
liberdade de imprensa,
teoria política,
sociologia da
comunicação etc.. Sou,
portanto, uma pessoa
voltada para a esquerda.
Isso sem falar que sou
canhoto rs... Essa é
minha formação e minha
história. Nem melhor nem
pior, apenas diferente,
ou melhor, diversa,
palavra com a qual
resolvi qualificar a
fraternidade.
Ao mesmo tempo, não
posso exigir que um
filho da alta classe
média paulistana que
sempre estudou nos
melhores colégios e fez
faculdade paga com o
dinheiro do pai pense
igual a mim. Idem o
boia-fria, o peão de
obra, o seringueiro, o
metalúrgico, o capitão
de indústria...
Principalmente em se
tratando de um país
extenso e cheio de
contrastes sociais,
geográficos e culturais
como o nosso. Não
existem o certo e o
errado, mas diversas
formas de encarar a
mesma realidade.
Nascemos em lares
diferentes, fomos
educados de modo
diferente, estudamos em
escolas diferentes,
temos profissões
diferentes, somos de
classes sociais
diferentes, temos
religiões diferentes.
Além disso, como
Espíritos imortais que
somos, temos trajetórias
totalmente diferentes.
Natural, então, que
tenhamos opiniões e
visões de mundo
totalmente diferentes.
É para isso que existe a
democracia, pela qual
devemos lutar. É no
espaço democrático que
nos reunimos e buscamos
um consenso que seja bom
para todos. Por isso, a
fraternidade é diversa.
Mas se eu julgar que só
o meu jeito de viver e
pensar é que é correto,
a diversidade fraterna
bate em retirada e
instala-se a
intolerância, gerando
toda sorte de dissabores
em nosso cotidiano. Vide
as constantes agressões
a homossexuais, a
refugiados do continente
africano e do Haiti e
até a profitentes de
religiões de cunho
africano, alvos da
intolerância de
seguidores de algumas
denominações
evangélicas.
Confesso a vocês que
alguns espíritas de
Petrópolis ficaram
extremamente chocados
quando souberam que eu
voto preferencialmente
em candidatos da
esquerda. Chegaram aos
meus ouvidos comentários
do tipo: – Ué, mas
logo ele, que é tão
inteligente! – Não é
possível, ele é tão bom
expositor! – Não
acredito; ele é tão
lúcido!
Perceberam como
condicionamos
determinadas qualidades
aos que julgamos
rigorosamente iguais a
nós e como qualquer,
digamos, desvio da norma
abala as pessoas? Gente
assim raciocina da
seguinte forma: quem não
pensa rigorosamente como
eu não é tão bom como
eu. Deus me livre!
Até parece que centros
espíritas são ilhas da
fantasia, onde todo
mundo pensa igual a mim
sobre absolutamente tudo
só porque todos fazem
parte da mesma religião.
Saindo um pouco do
centro espírita,
experimente dizer que é
espírita para alguns
amigos católicos que
frequentam as mesmas
rodas sociais que você e
que já o observaram
falando sobre ética,
respeito ao próximo,
Jesus Cristo etc. Muitos
devem pensar que você é
católico. Se você disser
que é espírita, abalará
as estruturas e deixará
muitos chocados porque
descobrirão que você não
é tão igual quando se
pensava.
Foi um fato desses que
aconteceu com Artur
(nome fictício), gerente
de um importante banco
público. Ele foi
transferido de uma
cidade grande para ser
gerente geral de uma
menor. Isso foi na
década de 70 ou 80 do
século 20, época em que
gerentes de bancos, em
cidades pequenas, tinham
grande status.
Artur e família eram
convidados para
churrascos, fins de
semana em sítios,
aniversários etc. Um
dia, um dos novos amigos
perguntou a Artur por
que ele ainda não tinha
aparecido na missa
dominical. Artur
respondeu que era
espírita. Assombro total
do interlocutor. Nunca
mais convidaram Artur
para nada. Perceberam
como o igual que se
mostra diferente abala
as estruturas?
Em 1993, chegou às telas
de cinema o filme
Philadelphia, que
deu o Oscar de melhor
ator a Tom Hanks. É a
história de Andrew
Beckett, 26 anos, jovem
e brilhante advogado que
é contratado por um
grande escritório de
advocacia da cidade
americana de Filadélfia.
Tudo ia bem com a
carreira em ascensão de
Andrew. Ele era elogiado
pelos donos da firma,
ganhava causas com
argumentos brilhantes,
frequentava as festas da
alta roda jurídica etc.,
até que descobrem que
Andrew é gay e portador
do vírus HIV. Armam uma
situação para que ele
perca uma causa e o
demitem sumariamente.
Andrew, então, contrata
um advogado homofóbico
(interpretado por Denzel
Washington), que abraça
a causa e faz uma defesa
brilhante. Lá pelas
tantas, um dos donos do
referido escritório, em
conversa com os outros
maiorais, refere-se a
Andrew como uma ameaça à
paz, às famílias etc..
Reafirmando: tendemos a
ser fraternos só com
quem julgamos ser da
mesma patota que a
nossa. Mostrou-se
diferente, a gente
descarta. Ou, então,
tentamos converter o
desertor à nossa
ideologia, a fim de que
ele faça parte do lado
certo (como se isso
existisse) e nós
possamos dormir
tranquilos.
No livro
Homossexualidade sob a
Ótica do Espírito
Imortal, o médico
mineiro Andrei Moreira
cita um artigo da
jornalista Cláudia
Werneck que contém uma
importante reflexão
sobre o uso leviano da
palavra ‘todos’.
Segundo ela, é comum
falarmos da boca para
fora que queremos um
mundo melhor e mais
justo para todos. Mas
quantas pessoas de fato
cabem no nosso ‘todos’?
Os índios cabem? E os
seringueiros? Será que
os ricos, magnatas,
empresários e socialites
cabem? E os pobres,
catadores de papel,
moradores de rua,
favelados e afins? Será
que sobra no nosso
‘todos’ um lugar
para os presidiários,
dependentes químicos e
portadores do vírus HIV?
Será que os
homossexuais,
bissexuais, travestis e
transexuais merecem
figurar no nosso
‘todos’? E o que
dizer das prostitutas e
garotos de programa?
Terão eles vez no
‘todos’ que falamos
à boca pequena? Caberão
os negros no nosso
‘todos’? E os
refugiados? E os idosos,
obesos, deficientes
físicos? E os doentes
mentais? E os espíritas,
evangélicos, budistas,
muçulmanos, católicos,
ateus? E os socialistas,
capitalistas,
comunistas, direitistas,
esquerdistas? Há lugar
para tantos ‘todos’
assim na nossa vida?
Segundo Andrei, muitos
dos ora citados “são
grupos que sofrem
discriminação frequente
e recorrente, ficando de
fora do processo de
inclusão social”.
Onde a fraternidade que
é diversa e abraça a
todos?
Allan Kardec, em O
Evangelho segundo o
Espiritismo, fala
sobre as diferentes
categorias de mundos
habitados. É uma escada
de cinco degraus. No
primeiro, mais baixo, é
o mundo primitivo, pelo
qual já passamos. Foi a
época dos dinossauros e
homens das cavernas.
Depois, vem o segundo
degrau, chamado mundo de
provas e expiações. Esse
a gente conhece bem,
pois se estende dos
primórdios da
civilização até hoje.
Brindou-nos com guerras,
genocídios, desmandos,
escravidão e outras
barbaridades, mas também
trouxe artes,
descobertas científicas,
sabedoria. Terceiro
degrau: mundo de
regeneração. Quarto e
quinto degraus, sobre os
quais não falarei porque
ainda falta muito para
chegar lá: mundos
felizes e mundos
perfeitos.
Aos poucos, estamos
dando adeus ao segundo
degrau e entrando no
terceiro. Não é nada,
não é nada, mas já
estaremos no meio do
caminho. E não é uma
transição tranquila. É
lenta, gradual e marcada
por várias lutas e
conturbações.
Talvez seja por isso que
estejamos testemunhando
uma onda de
reacionarismo em todo o
mundo. É a turma que não
quer que nada mude. Por
isso, insiste em puxar o
planeta Terra para trás.
– Ué, mas o mundo não
está ruim? – indagam
alguns.
Claro que sim, embora já
tenha sido bem pior. O
problema é que há muitos
homens e mulheres
acomodados. Uns por
interesses escusos;
outros por covardia
moral e medo do novo.
Está ruim, mas como já
conhecem como tudo
funciona, preferem ficar
onde estão. É o povo que
tem medo de se despir de
convenções, prevenções e
preconceitos. Um povo
que, na verdade, tem
medo de ser feliz.
Prefere ser um infeliz
acomodado a um feliz
ousado. É a popular zona
de conforto. Está ruim,
mas está bom.
Todavia, como é
impossível deter as
mudanças, elas vão
ocorrendo debaixo de
homofobia, corrupção,
terrorismo, xenofobia,
fanatismo, misoginia,
preconceito social e
outros males que ficarão
comendo poeira à medida
que entrarmos cada vez
mais num mundo
regenerado e calcado na
diversidade.
Muita gente, incluindo
alguns espíritas, acha
que uma sociedade
plenamente fraterna é
aquela em que todo mundo
pensará como eu ou você.
Ledo engano. O mundo de
regeneração está
sinalizando que será um
local plural e diverso,
onde as inúmeras formas
de ser, pensar, amar e
sentir conviverão em
paz, pois haverá
fraternidade. Um mundo
laico e democrático no
qual muita gente outrora
reprimida terá cada vez
mais voz. Em suma:
quando se fala em todo
mundo, é todo mundo
mesmo! E não todo mundo
que a gente conhece ou
admira porque é bonito,
rico ou frequenta o
mesmo clube ou
restaurante.
Preparemo-nos para
tanto.
Nas palavras de Allan
Kardec no livro Obras
Póstumas, “Os homens não
podem ser felizes se não
vivem em paz, quer
dizer, se não estão
animados de um
sentimento de
benevolência, de
indulgência e de
condescendência
recíprocos, em uma
palavra, enquanto
procurarem se esmagar
uns aos outros. A
caridade e a
fraternidade resumem
todas as condições e
todos os deveres
sociais; mas supõem a
abnegação (...)”.
É essa abnegação que
está nos levando a
reavaliar condutas e a
respeitar fraternalmente
as pessoas em suas
diversidades.
Talvez seja por isso que
Kardec (sempre ele!)
afirme, no livro A
Gênese, que “A
fraternidade deve
ser a pedra angular da
nova ordem social”.
Uma fraternidade que
superará dogmas
particulares e fará com
que todos os homens se
vejam como filhos do
mesmo Pai e estendendo,
enfim, as mãos uns aos
outros.