WELLINGTON BALBO
wellington_balbo@hotmail.com
Salvador, BA (Brasil)
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A felicidade que se pode
sonhar neste mundo
A felicidade é tema que
vem sendo debatido desde
que o mundo é mundo.
Aspiração de todos,
conquista de poucos.
Enfim, é possível ser
feliz sempre, ou a
felicidade é momentânea
aqui na Terra?
Para a pergunta acima se
encontra resposta no
Espiritismo, que explica
ser, ao menos na Terra,
impossível desfrutar de
uma felicidade absoluta,
haja vista que a vida
foi dada ao homem como
prova e expiação,
contudo, depende dele
abrandar seus males e,
então, ser feliz tanto
quanto é possível num
mundo que pertence à
hierarquia mencionada
acima.
Informam os Espíritos
ainda que é a falta de
observância das leis de
Deus o fator decisivo
para afastá-lo da
felicidade neste
planeta.
Logo, ao cumprir as leis
de Deus, o homem,
certamente, encontrará a
felicidade. Portanto,
toda infelicidade ou
todo momento infeliz
tem, em sua essência, o
não cumprimento das leis
do Eterno.
E quais são essas leis
que o homem deve cumprir
para ser feliz?
Basicamente encontram-se
nas palavras de Jesus:
Amar ao próximo como a
si mesmo!
Ao amar a si mesmo
cumprirá com os mais
elementares deveres com
seu corpo físico, sua
vida mental, seus
afazeres. Ao amar o
próximo abraçará,
conforme pondera
Emmanuel na mensagem “O
auxílio virá”, pela
psicografia de Francisco
Cândido Xavier, o
dever que a vida lhe
assinala.
Segundo os Espíritos,
então, será apenas
cumprindo o dever que o
homem encontrará a
felicidade.
Há um filósofo de nome
Epicuro que viveu
aproximadamente 340 a.
C. e afirmava estar a
felicidade nas coisas
simples da vida.
Para Epicuro a
felicidade encontrava-se
na ataraxia, o que
significa tranquilidade
da alma, ausência de
perturbação do espírito.
A felicidade, portanto,
consistia em dosar os
seus desejos e apetites,
utilizando a natureza
como parâmetro, a fim de
manter-se em equilíbrio.
Toda infelicidade e
perturbação da alma
advêm de quando o homem
ultrapassa seus limites.
Se o homem segue a
natureza estará junto à
felicidade, dizia
Epicuro.
Imagine, apenas para
título de exemplo, que
você está faminto. Ao
ver perto de si um prato
de arroz e feijão o
devora e, então, sacia
sua fome, logo, fica
feliz. Naquele momento
você combateu a sua dor
– fome – com o prato de
arroz e feijão.
Saciou-se. Contudo, se
persistir
alimentando-se, indo
além do que sua natureza
permite, muito provável
que passará mal, terá
dores, desconforto,
desprazer e
experimentará, por
instantes, uma boa dose
de infelicidade.
Eis a razão pela qual o
filósofo recomendou que
o homem, para ser feliz,
deve seguir a natureza,
pois esta traçou os
limites do que é
necessário à sua
satisfação.
O Espiritismo
complementa e diz: Ao se
afastar das leis de
Deus, o homem afasta-se
da felicidade.
Há, ainda, em O Livro
dos Espíritos preciosa
sinalização sobre a
felicidade. Dizem os
Espíritos que
encontrá-la, mesmo que
relativamente aqui na
Terra é possível, de
forma comum, sob dois
aspectos.
São eles: o material e o
moral.
Aspecto material -
Sob o aspecto material é
possível ser feliz com a
posse do necessário.
Como diz Epicuro, a
felicidade está nas
coisas simples da vida.
É claro que a
civilização criou novas
necessidades e o
progresso trouxe
melhorias, comodidades e
confortos que hoje são
necessidades. Um exemplo
é o computador. Na
década de 1980, século
passado, as empresas
funcionavam
tranquilamente sem
computador, hoje,
contudo, é impossível. O
progresso trouxe a
melhoria e esta melhoria
tornou-se uma
necessidade, pois não se
consegue, sequer,
permanecer no mercado
sem a utilização desta
tecnologia.
Portanto, ficar feliz
com o necessário não é
voltar à Idade da Pedra,
mas saber aproveitar as
coisas para que as
coisas não se aproveitem
de nós.
Quando eu saio do campo
da necessidade real e
inicio o processo de
afastamento do que é
simples, corro o risco
de comprometer minha
felicidade porque gero
“necessidades” irreais
e, por isso, julgo que
só serei feliz quando
delas tomar posse.
Ledo engano, pois obter
essas coisas apenas
saciarão os desejos, mas
logo surgirão novas
“necessidades” que,
obtidas, serão
substituídas por outras
e outras, num intenso
processo de querer mais.
Dizem os Espíritos:
aqueles que sabem
limitar seus desejos e
enxergam sem inveja os
que estão acima de si
poupam-se de muitos
dissabores e decepções.
É justamente isso:
felicidade com a posse
do necessário, limitando
os desejos. Em outras
palavras, não deixar de
buscar o progresso, mas
alegrar-se com o que se
tem, com o que já foi
conquistado e,
principalmente, com as
coisas mais simples.
Voltando ao outro
aspecto da felicidade a
que se referem os
Espíritos, que é o
moral, dizem eles:
Aspecto moral -
Para a felicidade são
necessárias a
consciência tranquila e
a fé no futuro.
Impossível ser feliz sem
a consciência tranquila.
Sem, como vulgarmente se
diz, deitar a cabeça no
travesseiro de forma
serena e dormir o sono
de quem fez de seu dia
um dia bom.
E consciência tranquila
é, como diz Epicuro, a
ataraxia, a serenidade
da alma. Atualmente,
porém, as pessoas perdem
a tranquilidade da alma
justamente porque se
obrigam a ser felizes.
O indivíduo que se
encontra triste logo é
discriminado.
Tem de tudo, mas está
lá, infeliz, comentam
todos.
Está triste? Tome logo
esse remédio para ficar
melhor, para ficar
feliz. Logo, o sujeito
que está triste,
passando por uma fase
difícil, sente-se um
peixe fora d’água,
alguém totalmente
deslocado, porquanto a
sociedade é feliz e
manda ele ser feliz de
qualquer jeito. Caso não
seja: medique-se!
E esse indivíduo, então,
obriga-se a ser feliz
sem refletir nas razões
pelas quais está triste,
sem saber a essência de
sua chateação.
Outro dia uma amiga
comentou: Apenas eu sou
infeliz! Todos são
felizes, postam fotos de
felicidade nas redes
sociais. E eu? Será que
serei apenas eu a
escolhida pela
infelicidade?
Pois bem. Tenho visto
muita gente assim, nessa
obrigação, nessa neurose
para ser feliz, porque o
mundo ficou “feliz”.
Mas ninguém é feliz
obrigado, a consciência
de ninguém estará
tranquila por uma
imposição.
Na Terra haverá os
momentos de dor, de
lágrimas e o fundamental
é refletir nas razões
pelas quais estamos
passando por essas
fases, de modo a
elaborar o luto e, a
partir do processo de
reflexão, buscar a
melhoria do estado de
ânimo, a cessação da dor
e, consequentemente, o
retorno dos momentos
felizes.
Terapias, ajuda
espiritual, passes e
preces são ferramentas
que, entretanto, não
prescindem da reflexão
em torno de si mesmo e
na construção do
autoconhecimento para
que se encontre com a
felicidade. Por isso é
tão importante elaborar
a tristeza, não a
jogando para debaixo do
tapete por imposição
social de ser sempre
feliz e forte.
Um outro ponto do
aspecto moral é a fé no
futuro. A fé no futuro
representa a esperança
em dias melhores. A fase
pode não estar boa, mas
a fé no futuro sussurra
aos ouvidos: Prossiga,
continue, ore e sirva
porque tudo vai mudar
para melhor. Isso é
apenas uma fase e
passará.
Então, recapitulando um
pouco os pontos que
podem fazer o encontro
com a felicidade, sem
querer, naturalmente,
transformar em uma
receita de bolo:
– Prazer nas coisas
simples;
– Posse do necessário;
– Reflexão nas fases
tristes e elaboração do
luto;
– Fé no futuro.
Acrescenta-se mais um:
Estar ao lado de quem
amamos, das almas afins,
pois, segundo os
Espíritos, é junto aos
amigos, perto das almas
afins que sentimos o
gosto da felicidade mais
plena que já gozam
Espíritos mais
evoluídos.
Enfim, aqui na Terra,
muito mais do que
alcançar a felicidade é
buscar momentos que nos
fazem felizes, momentos
que dizem valer a pena
existir.
Ao escrever esta singela
matéria eu encontrei um
pouco da felicidade, um
pouco da alegria.
Encerrar o texto deu-me
a sensação de dever
cumprido, mas escrevê-lo
foi o que me fez feliz.
Eu fui, ao menos por
algumas horas, feliz
neste mundo.
Espero que você, leitor
amigo, encontre também
um pouco de felicidade
na leitura e, além
disso, torço para que
encontre mais felicidade
em seu caminho, pois é
no caminho que
encontramos as flores e
os espinhos que compõem
o jardim da felicidade.
Até a próxima.