A imagem é
meramente
circunstancial e
não deve ser
levada ao pé da
letra, como se
dizia
antigamente,
para não reduzir
a dimensão do
homem e seu
trabalho pelo
Espiritismo,
trabalho esse
realizado
especialmente na
primeira metade
do século XX.
Qualquer um que
se dá ao luxo de
ler sobre este
homem fica
impressionado
com sua
dedicação,
entusiasmo, mas
igualmente com
sua visão e
coragem com que
se colocou na
linha de frente
de combate,
buscando
garantir um
lugar de
destaque na
sociedade para
as ideias e os
princípios
espíritas.
Aqueles que se
formaram ao
contato com os
seus livros, ou
que viveram sob
sua influência,
notadamente no
Sudeste do
Brasil, ficam
impressionados
com o seu poder
de luta. E falar
disso para as
gerações da
atualidade, em
2016, parece
relembrar um
tempo
desconhecido e
utópico, afinal,
vivemos a era do
imediato, da
fragmentação, da
unidade
aparentemente
frágil.
Vejo Cairbar
Schutel em cada
uma das variadas
fronteiras em
que atuou: como
jornalista,
editor,
farmacêutico,
orador, líder
espírita,
polemista e até
político. E ao
representá-lo
nessa
multiplicidade
de imagens,
encontro-o como
homem de visão,
como rompedor de
limites, vestido
da indumentária
apropriada a
cada situação,
mas em todas
elas com a
bandeira do
Espiritismo na
mão. Um exemplo,
enfim, para a
nossa era
individualista,
de escassez de
lideranças
naturais e de
líderes
assentados em
frágeis
estruturas
doutrinárias.
Talvez se deva
dizer que o
Cairbar político
não tinha,
ainda, a base
espírita, pois
tomaria contato
com o
Espiritismo por
volta de 1904,
quando sua
atuação a favor
da terra
matonense já
havia se
iniciado, porém
o sentimento que
o levou,
primeiro, a
escolher aquela
localidade e,
depois, por ela
lutar para
dotá-la das
melhores
condições
possíveis, era
já elogiável,
capaz de
colocá-lo ao
lado dos
desbravadores
dos sertões
paulistas.
O contato com o
Espiritismo, o
estudo da obra
kardequiana e o
convencimento do
valor dos
conhecimentos
que tinha à mão
vão encontrar
nele as bases
consolidadas
para a tarefa a
que se propôs,
levando-o a
descartar a
atuação política
intensa e a
ocupar-se,
agora, com a
conquista do
espaço para o
Espiritismo.
Então, o
farmacêutico
prático e
generoso
desenvolve
outras
habilidades para
jogar-se de
corpo e alma no
trabalho de
divulgação dos
princípios
espíritas,
descobrindo que
esse campo
exigia muito
mais do que o
simples discurso
oral.
O jornalista
Cairbar Schutel
é o narrador dos
acontecimentos
que, também,
dirige a
tipografia
adquirida com
esforço; é o
tipógrafo que de
componidor em
punho cata as
letrinhas e
monta palavra
por palavra,
frase por frase,
linha por linha,
e leva para a
impressora
manual, onde vai
também colocar
sua energia
física para
gravar os textos
em folhas de
papel, que
depois serão
dobradas,
refiladas e
distribuídas
muitas vezes por
ele mesmo, nas
esquinas, nos
cemitérios, à
porta das
igrejas, em
datas comuns e
especiais.
Assim, sob o
cheiro tóxico da
tinta e os gases
perigosos do
chumbo, aquele
jornalista passa
dias e noites e
tem pouco
descanso.
Não falo de
alguém nascido
num planeta
primário criado
pela imaginação;
falo de uma
localidade de
nome Matão que
não era mais que
uma vila
incrustrada no
coração de São
Paulo nos finais
dos anos 1800.
Ali, o
jornalista
apaixonado pelo
Espiritismo se
torna também
escritor,
editor,
distribuidor e,
para não deixar
que padres e
pastores retirem
o direito do
Espiritismo de
coexistir e se
disseminar,
Cairbar Schutel
torna-se um
polemista de
verve franca,
viril. E dali
mesmo vai
irradiar para o
estado de São
Paulo, para o
Brasil e
ultrapassar as
fronteiras do
país a mensagem
contida nas
obras de Allan
Kardec.
Em tempos em que
o
empreendedorismo
adquire
contornos de
meio de sucesso
empresarial, a
história de
Cairbar Schutel
é de exemplo
raro a ser
seguido. E mais,
em um mundo
tecnológico como
o atual, da
comunicação em
real time,
o desempenho
desse homem
magro e vigoroso
com a
comunicação é de
fato de
espantar. O
jornal que
fundou em 1905 e
editou a custo
do sacrifício
pessoal, sempre
diante da
perspectiva do
fracasso
financeiro,
tornou-se
pequeno para a
quantidade de
notícias e
estudos que o
Espiritismo
propiciava.
Cairbar cria uma
revista, então,
e dota-a, numa
atitude corajosa
sem precedentes,
das melhores
qualidades
gráficas e outra
vez com ousadia
editorial, de
conteúdo
extraordinário,
veiculando
acontecimentos
do Brasil e do
exterior,
estudos
assinados por
personalidades
que só nos
chegavam na
raridade dos
livros na língua
original. Com
esta visão
corajosa de que
era possuído,
denominou-a de
Revista
Internacional do
Espiritismo e
fez jus ao nome.
Ainda hoje não
se tem notícia
de alguém que
tenha feito obra
semelhante...
Jornal e revista
juntos,
atuantes,
atuais, fazendo
imprensa
vibrante eram
também pouco
para o
visionário de
Matão. Criou ele
a editora,
escreveu os
textos das
polêmicas,
juntou-os em
livros; escreveu
estudos e
publicou mais
livros. Pensava,
sentia, vibrava.
Enfrentava a
lama e a poeira
das estradas, as
dificuldades
financeiras e às
vezes a ausência
de apoio e nada
disso o
desanimava.
Enfrentava
padres, bispos e
pastores
maldosos, que
muitas vezes não
tinham
escrúpulos e
excitavam a
população a
marchar contra o
destemido homem,
e nada o
arredava do
caminho, nada o
fazia perder o
bom senso, este
raciocínio que a
Doutrina
Espírita oferece
na lógica dos
seus princípios.
Lá, da sua quase
insignificante
Matão, tornou-se
uma voz
respeitada. E
mais, tornou-se
admirado e
exemplo para
figuras que mais
tarde se
tornariam
expoentes do
Espiritismo
brasileiro.
Talvez, aquela
que melhor
encarne essa
admiração seja a
do nosso “metro
que melhor mediu
Kardec”, J.
Herculano Pires.
Este não se
cansava de dizer
das qualidades
do nosso
bandeirante
espírita, a quem
a doutrina em
terras
brasílicas deve,
e deve muito.
Cairbar Schutel
chegou a este
mundo no século
XIX, atravessou
o século XX e
permanece no
século XXI como
um exemplo nos
diversos e
diferentes
campos em que
atuou. Quase
ficou conhecido,
também, como o
primeiro
espírita a levar
a doutrina ao
rádio, tal era a
sua capacidade
de vislumbrar
oportunidades de
disseminar os
seus princípios.
A história
corrigiu o
engano, esta
mesma história
que o traz hoje
ao mundo
contemporâneo
para nos fazer
relembrar que é
possível sonhar
grande se a alma
não é
pequena...
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