Décio Iandoli
Júnior:
“Refazer a ponte
entre a ciência
e a
espiritualidade,
eis o objetivo
das AMEs”
O conhecido
médico e
palestrante,
atual presidente
da Associação
Médico-Espírita
de Mato Grosso
do Sul, fala
sobre a atuação
das associações
médico-espíritas
– AMEs – e seus
objetivos
|
Médico formado
em 1987, com
especialização
em cirurgia e
endoscopia e
doutorado pela
UNIFESP, Décio
Iandoli Júnior
(foto)
nasceu na
capital de São
Paulo e reside
em Campo Grande
(MS). Espírita
desde 1995,
vincula-se na
cidade onde
reside ao Centro
Espírita Maria
Modesto Cravo e
atua junto à
Associação
Médico-Espírita
estadual,
brasileira e
internacional.
Preside a AME-MS
e é
vice-presidente
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da AME-Internacional.
Suas respostas
trazem
expressiva
contribuição ao
pensamento
espírita na
vinculação da
ciência com a
religião.(1) |
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Como se tornou
espírita?
Após a morte de
minha avó
paterna comecei
a ter sonhos
perturbadores
com ela e uma
amiga espírita,
a quem contei o
que se passava,
passou a me
explicar como se
davam as
comunicações
entre encarnados
e desencarnados
despertando
minha atenção e
curiosidade. Com
isso, pedi a ela
uma referência
bibliográfica
para saber mais
sobre o assunto,
e ela me
indicou O
Livro dos
Espíritos.
Iniciei a
leitura no final
de um dia e só
parei no
amanhecer do
outro dia;
passei a noite
lendo
emocionado, sem
mesmo sentir
sono. Lembro-me
de que fui
trabalhar na
manhã do dia
seguinte (tinha
plantão no
pronto-socorro)
com o livro
debaixo do
braço. Costumo
dizer que
naquele dia não
me "tornei"
espírita, mas
"descobri" que
era espírita.
O que mais lhe
chama atenção na
Doutrina
Espírita?
A razão, a
lógica e o
pensamento
organizado e
cristalino com
que assuntos tão
complexos e
difíceis foram
tratados por
Allan Kardec,
deixando sempre
o espaço para a
evolução do
pensamento, ou
seja, uma base
sólida e
estruturada de
forma muito
segura, pronta
para receber o
conhecimento
científico na
medida em que é
produzido.
E o envolvimento
com a AME, como
se deu?
Na verdade, após
a leitura de
O Livro dos
Espíritos,
essa minha amiga
e seu esposo,
que também eram
médicos, me
convidaram para
participar das
reuniões da
AME-Baixada
Santista, hoje
AME-Santos, na
cidade onde
morei após minha
formatura e onde
vivi por 22
anos; portanto,
passei a
frequentar a AME
antes mesmo de
conhecer um
centro
espírita.
E como está hoje
a AME no país?
Quais as
repercussões
sentidas dessa
atuação?
Hoje temos mais
de 64 AMEs em
todo o Brasil
com vários novos
grupos se
formando a cada
dia e com vários
departamentos
atuantes com
realizações
importantes por
todo o Brasil e
fora dele
também. Muitas
publicações
científicas em
revistas
importantes e de
impacto mundial,
livros com
conteúdos que
desenvolvem o
paradigma
espiritualista à
luz da ciência,
promoção de
cursos, jornadas
e congressos,
com especial
destaque para o
MEDNESP, que é o
congresso
nacional das
AMEs e que
ocorre
bianualmente nos
anos ímpares,
além da presença
das AMEs nas
universidades
implantando
ligas
acadêmicas,
cursos de
pós-graduação e
disciplinas
optativas. No
movimento
espírita temos
procurado
auxiliar no
desenvolvimento
e divulgação dos
aspectos
científicos, sem
deixar de lado o
aspecto moral da
doutrina,
levando o centro
espírita para a
universidade e a
universidade
para o centro
espírita.
Quais as maiores
dificuldades
encontradas?
As resistências
oferecidas pelos
colegas médicos
são muito
sentidas por nós
no âmbito
acadêmico, além
do que muitos
dos nossos
confrades
espíritas ainda
avaliam o
movimento
médico-espírita
como sendo
elitista, o que
é uma pena. A
Dra. Marlene
Nobre, nossa
grande
orientadora e
responsável
direta pela
implantação das
AMEs no planeta,
sob a orientação
do nosso patrono
Dr. Bezerra de
Menezes, sempre
dizia que as
AMEs não eram um
movimento de
massas, ou seja,
não deveríamos
nos preocupar
com os
obstáculos ou
com a adesão dos
colegas de
profissão, mas
trabalhar
obstinadamente
para refazer a
ponte entre a
ciência e a
espiritualidade.
Os eventos
médicos
espíritas têm
gerado bastante
interesse em
todo o país.
Comente sobre
isso.
Em 2015, no
Centro de
Convenções de
Goiânia, foi
realizado o X
MEDNESP e,
também, foram
comemorados os
20 anos de
fundação da
AME-Brasil com a
participação de
mais de 100
oradores
nacionais e
internacionais e
um público de
mais de 2.000
pessoas. Em 2017
o XI MEDNESP
será no Rio de
Janeiro e já
está sendo
prevista uma
participação
ainda maior do
público. Além
disso, as
jornadas e
congressos
regionais e
internacionais
atraem cada vez
mais pessoas,
espíritas ou
não.
Acredito que
esse interesse
se dá pela
evidente mudança
de paradigma que
estamos vivendo
na ciência hoje,
atraindo todos
os que têm algum
interesse nas
questões do
espírito, além
do mais, para os
espíritas de uma
maneira geral,
os assuntos
abordados trazem
maior
entendimento
para os
fenômenos
espirituais,
assim como aos
aspectos morais,
que passam a ser
discutidos sobre
uma base
científica,
reforçando os
ensinamentos
morais e
filosóficos da
doutrina.
Quais as
principais
expectativas do
público quando
de um evento
médico-
espírita,
considerando a
velha questão
saúde do corpo e
da alma? E como
a AME tem
administrado a
questão na
escolha dos
temas e
palestrantes?
O interesse principal
do público é
sobre Saúde e
Espiritismo e as
AMEs têm
levantado
questões e
hipóteses com o
intuito de
trazer uma nova
visão para o
binômio
saúde-doença.
Mesmo os
espíritas que
não são da área
da saúde prestam
assistência aos
frequentadores
dos Centros
Espíritas e, por
isso, buscam
informações
teóricas e
orientações
práticas que
possam aperfeiçoar seu
atendimento. Os
temas têm sido
levantados pelos
próprios
participantes
das AMEs, de
acordo com seus
estudos e as
pesquisas que
surgem segundo a
demanda de cada
um em suas
instituições
específicas e
suas
experiências
profissionais;
entretanto,
estudos sobre
mediunidade, obsessão,
passe,
perispírito,
evolução têm
sido assuntos
bastante
discutidos, além
dos temas de
saúde mental
como a depressão
e as psicoses,
desenvolvidos
por psiquiatras
e psicólogos
vinculados às
AMEs ou à ABRAPE
(Associação
Brasileira
dos Psicólogos Espíritas),
que tem
participado
conosco em
estudos e
eventos, numa
parceria muito
interessante.
Os profissionais
médicos
espíritas têm
sido sensíveis à
causa da AME?
Como?
Acho que o
discurso sóbrio
e bem embasado
que sempre foi
característica
das AMEs,
acrescido do
manancial de
estudos
científicos e
livros
produzidos, tem
trazido à AME,
cada vez mais, o
seu
reconhecimento
como instituição
séria e
confiável no
meio acadêmico e
espírita, tanto
para a produção
de conhecimento
científico, como
consultora em
aspectos éticos
voltados à
medicina e à
saúde humana e
animal (temos
importante
participação dos
médicos
veterinários nas
fileiras das
AMEs). Sendo
assim, muitos
colegas que
inicialmente
rejeitavam o
movimento
médico-espírita
têm percebido o
potencial do
grupo para
colaborar com o
movimento
espírita de uma
forma geral,
assim como se dá
com as demais
instituições
espíritas
chamadas de
especializadas,
trabalhando em
uníssono com o
movimento
federativo e
buscando
colaborar com as
Federativas e o
CEI – Conselho
Espírita
Internacional.
Devagar os
preconceitos
devem ceder à
vontade de poder
integrar o
conhecimento do
Espiritismo às
nossas atuações
profissionais,
elevando a
qualidade do
atendimento que
prestamos às
pessoas.
Algo marcante de
sua experiência
médica e
espírita que
gostaria de
relatar?
Acho que o que
mais me marcou
nesses anos de
doutrina foi a
receptividade
dos europeus e
dos
norte-americanos
ao nosso
discurso, que
tem propiciado
várias e
importantes
parcerias no
campo da
pesquisa
científica, além
de chamar a
atenção para o
Espiritismo fora
do Brasil. Desde
2003 que tenho
tido a
oportunidade de
participar com a
Dra. Marlene
(desencarnada em
janeiro de 2015)
de eventos de
medicina e
espiritualidade
na Europa e nos
EUA e pude
acompanhar de
perto o
crescente
interesse que a
doutrina provoca
e como,
principalmente o
europeu, se
sente
gratificado
quando
apresentamos a
eles uma
possibilidade de
se religarem a
Deus por um
caminho
científico e
compatível com o
pensamento
racional que
eles têm.
Lembro-me muito
claramente do
primeiro
congresso que
realizamos em
Londres com o
auxílio da BUSS
(federativa
espírita
britânica), e
que, quando fui
iniciar minha
palestra com o
auditório
lotado, pude
perceber que a
imensa maioria
dos espectadores
colocou o fone
de ouvido para
ouvir o
tradutor.
Pensei: - Meu
Deus, estamos,
realmente,
falando para os
europeus, não
são apenas
brasileiros que
vivem na Europa.
Esta experiência
me marcou muito.
Algo mais a
acrescentar?
Queria ressaltar
a importância
que a obra de
Chico Xavier -
André Luiz e
Emmanuel - tem
para nós das
AMEs. Esses
livros têm-se
demonstrado
verdadeiras
bússolas que
orientam o
caminho a ser
seguido para
desenvolvermos a
ciência sob o
paradigma
espiritualista,
assim como a
obra Divaldo
Franco. Joanna
de Ângelis tem
sido importante
para os
psicólogos e
psiquiatras que
trabalham para
avançar no tema
da saúde mental.
Palavras finais.
Minhas palavras
finais vão para
a nossa querida
Dra. Marlene
Nobre que,
obstinadamente,
aceitou e
executou o
trabalho de
implantação das
AMEs na Terra,
inicialmente com
a AME-São Paulo
fundada em 1968
e, depois,
desenvolvendo as
AMEs regionais e
fundando a
AME-Brasil e a
AME-Internacional. Ela
merece toda a
nossa gratidão
pela
oportunidade de
trabalho que nos
ofertou,
permitindo
que pudéssemos refazer
equívocos do
passado e
reconstituir a
tão necessária ligação
entre a ciência
e
a espiritualidade.
(1)
A sigla AME
significa
Associação
Médico-Espírita.