Bem & mal sofrer
É preciso que a prece tenha por base uma fé viva
na bondade de Deus
"Não te revoltes no crisol das dores, mesmo que sejam dores reais. A dor chega para que o Espírito triunfe sobre ela, ao invés de ser por ela esmagado." - Joanna de Ângelis
Os Espíritos Superiores responderam a Allan Kardec em "O Livro dos Espíritos", questão nº. 633: "(...) a maior parte dos males cuja culpa o homem lança à Natureza, seria evitado se ele atendesse à voz da própria consciência”.
O bem e o mal obedecem à regra da reciprocidade ou de solidariedade; logo, todo o bem que gozamos ou todo o mal que sofremos, por força dessa regra, foram gerados por nós mesmos em oportunidades passadas. Assim, nada mais natural que estarmos a braços com a colheita de nossas sementeiras. Cumpre-nos, portanto, aceitar com humildade a consequência lógica de nossos atos e não lançar a culpa que nos pertence à Natureza...
Compreendemos assim, com o Mestre Lionês, quando narra em "O Evangelho segundo o Espiritismo", cap. VI, item 4: “a causa dos sofrimentos está nas existências anteriores e na destinação da Terra, onde o homem expia o seu passado. Mostra, assim, o Espiritismo, o objetivo dos sofrimentos, apontando-os como crises salutares que produzem a cura e como meio de depuração que garante a felicidade nas existências futuras. O homem compreende que mereceu sofrer e acha justo sofrimento. Sabe que este lhe auxilia o adiantamento e o aceita sem murmurar, como o obreiro aceita o trabalho que lhe assegurará o salário.
O Espiritismo lhe dá a fé inabalável no futuro e a dúvida pungente não mais se lhe apossa d`Alma. Dando-lhe a ver do alto as coisas, a importância das vicissitudes terrenas desaparece no vasto e esplêndido horizonte que ele descortina e a perspectiva da felicidade que o espera lhe dá a paciência, a resignação e a coragem de ir até ao termo do caminho. Assim, o Espiritismo realiza o que Jesus disse do ‘Consolador Prometido’: conhecimento das coisas, fazendo que o homem saiba donde vem, para onde vai e por que está na Terra”.
Em mensagem de peregrina beleza, inserta no cap. V, item 18, do mesmo livro, Lacordaire, explicando que Jesus, ao anunciar: "bem-aventurados os aflitos, o Reino dos Céus lhes pertence", não se referia de modo geral aos que sofrem, visto que sofrem todos os que se encontram na Terra, quer ocupem tronos, quer jazam sobre a palha. Mas poucos sofrem bem; poucos compreendem que somente as provas bem suportadas podem conduzi-los ao Reino de Deus. O desânimo é uma falta. Deus recusa consolações, desde que falte a coragem.
A prece é um apoio para a Alma; contudo, não basta: é preciso tenha por base uma fé viva na bondade de Deus. Ele não coloca fardos pesados em ombros fracos. O fardo é proporcional às forças, como a recompensa o será à resignação e à coragem. Mais opulenta será a recompensa do que penosa a aflição. Cumpre, porém, merecê-la, e é para isso que a vida se apresenta cheia de tribulações.
Bem-aventurados os aflitos ainda pode-se traduzir assim: “bem-aventurados os que têm ocasião de provar sua fé, sua firmeza, sua perseverança e sua submissão à vontade de Deus, porque terão centuplicada a alegria que lhes falta na Terra, porque depois do labor virá o repouso”.
No livro "Lampadário Espírita", capítulo 34, psicografado por Divaldo Pereira Franco, Joanna de Ângelis, com seu raciocínio lúcido, aconselha: "afasta a nuvem cinzenta do pessimismo e da queixa, enquanto a dor se demora contigo, concedendo ao Sol da esperança a oportunidade de fulgir ante os teus olhos acostumados às sombras das recriminações.
Enquanto não te disponhas ao combate contra a autopiedade e a autoflagelação por morbidez, ninguém poderá fazer nada por ti. Observa o voo ligeiro da ave colorida, o desabrochar de uma flor, a vitória da germinação de uma semente, o canto delicado do filete d’água na frincha da rocha, o triunfo da árvore, o milagre do pão, o deslumbramento do nascente, o ritmo da vida nos insetos, nos animais, em toda parte, e encontrarás as mãos divinas agindo, produzindo, zelando...
(...) Quando te entregas ao desânimo e o espalhas, conspiras contra a ordem natural, o equilíbrio e o progresso da vida. É pernicioso mal sofrer, malbaratando a oportunidade de aproveitar bem a lição do sofrimento. Se cultivas os cogumelos do pessimismo, respiras, evidentemente, em clima de sombras.
Acalma o vozerio agitado da tua mente alvoroçada pela revolta, ou desperta-a, adormentada que se encontra nos tecidos da comodidade, da preguiça ou do cansaço de sofrer, e escutarás, sim, mil vozes, algumas tão debilitadas pela fraqueza que será necessário um grande esforço para identificá-las, chorando e rogando socorro baixinho às fortunas que possuis no corpo e no espírito e teimas por desperdiçar, ignorando-as...
Se tuas legítimas aflições forem muito grandes e esmagadoras, evoca Jesus, quando na via dolorosa, esmagado sob a cruz e, no entanto, aconselhando e advertindo as ‘mulheres piedosas de Jerusalém’; ou cravejado, logo depois, no madeiro de infâmia, convocando dois estranhos e desafortunados salteadores, neles semeando as esperanças do Reino de Deus, instantes antes do ‘momento supremo’, e refaze as tuas forças, reconsidera a situação, recompõe os ‘joelhos desconjuntados’ e avança, confiante, contando com a certeza de que, após a partida libertadora, uma madrugada sublime te alcançará, fazendo-te ditoso por fim, vitorioso com o bem...".