Palavra e exemplo
Não se pode negar o
valor da boa palavra, o
poder de influência que
ela tem na construção do
pensamento, na
construção das relações.
Há coisas lindas, tão
bem ditas! Há
verdadeiras
descobertas que se
fazem juntando palavras
que, soltas, não teriam
nem beleza, nem
significação.
A palavra tem poder! O
mundo da palavra é
maravilhoso. Uns esperam
com ela penetrar
segredos, outros a
revelação do
desconhecido; há os que
buscam a intimidade no
reino da poesia ou da
ciência. Há quem tente
extrair dela a salvação
de si mesmo, do mundo,
como se só a palavra,
sujeita às
interpretações e aos
desejos humanos, pudesse
resgatar a culpa, o
desvio, pulando etapas
necessárias à conquista
da compreensão. A
palavra é uma coisa boa,
e bem usada faz
maravilhas na material
vida humana.
Mas há outro tipo de
linguagem de que a massa
de viventes na Terra
pouco sabe: a linguagem
do pensamento.
Segundo o Espiritismo, o
pensamento é a linguagem
usada pelos Espíritos no
mundo invisível, próprio
deles. Essa forma de
comunicação talvez seja
mais importante que a
palavra, pois transporta
as ideias na sua
essência, como elas são,
de Espírito para
Espírito, impregnadas
dos sentimentos que lhes
deram origem. Nesse
mundo invisível é mais
difícil misturar o
pensamento com a
hipocrisia, com a
mentira, como fazemos na
Terra com a palavra. E
como Deus faz as coisas
certas, todos chegarão,
mais cedo ou mais tarde,
a experimentar esse
método de comunicação de
maneira bem usual,
bastando para isso
que morram.
Enquanto isso não
acontece, no que se
refira às nossas
relações ainda bem
materializadas, o
exemplo é mais pujante
que a palavra. Aquele é
concreto, realizado;
esta é concepção e está
submetida ao filtro
intelectual de cada um.
A palavra insinua,
sugere, é intenção. O
exemplo mostra como deve
ser feito, é fato.
O bom exemplo contagia e
nos faz ter esperança,
inclusive em nós mesmos,
pois sentimos vontade de
copiá-lo. Se o outro
pode fazer coisas
nobres, belas, justas,
eu também poderei! Esta
dedução nos motiva.
Passamos a querer
imitá-lo, queremos ser
(ou ver-nos) comparados
a ele. Ainda que não
tenhamos a força
suficiente para isso, o
que vemos se fixa em
nossa mente como ideia
realizável.
Agir com correção,
generosidade e justiça
em relação ao próximo e
a tudo, perceber as
nuanças morais nos
fenômenos da vida requer
o que Allan Kardec
chamou de maturidade do
senso moral, “inerente
ao desenvolvimento do
Espírito encarnado”.
O exemplo, sendo moral
ou factual, tem como
testemunhas não somente
os vivos, mas também os
mortos, já que
estamos o tempo todo
cercados por eles,
conforme insinua a
expressão evangélica
(Paulo, Hebreus, 12:1).
Este é um aspecto em que
poucos pensam.
O que caracteriza o bom
exemplo é a
naturalidade, a isenção,
o desinteresse, o
distanciamento de
qualquer presunção
pessoal de quem produz a
ação.
O bom exemplo está
associado ao cumprimento
do dever, a certo estado
de equilíbrio da
consciência, a um
sentimento que
transcende o
comportamento civil e
adentra o domínio da
legislação divina ou
natural.
Talvez seja por isso que
o bom exemplo cause
forte impressão (ainda
que tardia) até mesmo ao
néscio e faz respeitado
o indivíduo que o
prodigaliza.