RICARDO ORESTES FORNI
iost@terra.com.br
Tupã, SP (Brasil)
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O pai, o filho e o
açoite
Perguntei determinado
dia, no Centro espírita
que frequento, quem
gostaria de ter um pai
que, por muito amar ao
seu filho, o educa.
A resposta unânime foi
afirmativa: todos
gostariam de ter esse
tipo de pai. Lembrei,
então, aos presentes que
educar é saber dizer
não na hora certa.
Deseducar é dizer sim
sempre.
Devido a isso muitas
vezes Deus diz não
aos nossos ininterruptos
pedidos a Ele dirigidos.
Mesmo assim a
preferência por esse
pai, que educa porque
ama, continuou.
Refiz a pergunta: quem
gostaria de ter um pai
que açoita seu filho
quando o recebe nessa
relação pai-filho?
Aí a situação mudou. A
maioria, senão todos,
não queriam ter um pai
desse feitio!
“Onde já se viu! Açoitar
um filho só porque se
acha nesse direito como
pai?!” – foram os
comentários.
Feito esse suspense
inicial e tendo induzido
ao raciocínio, li a
passagem de Paulo aos
Hebreus, 12:6: - “Porque
o Senhor corrige ao que
ama e açoita a qualquer
que recebe por filho”.
Está escrito aí! Açoita
aquele que recebe como
filho, ou seja, a cada
um de nós, é ou não é?
Ninguém falou, mas tenho
a certeza de que alguns
ficaram reavaliando se
compensava continuar
buscando a esse Deus que
açoita aquele que recebe
como filho, seja através
do Espiritismo,
Catolicismo, religião
evangélica, budismo,
religião maometana ou,
até mesmo, sem religião
alguma, porque podemos
buscar ao Criador sem
utilizarmos de qualquer
denominação religião.
E então, como ficava a
situação, perguntei?
Vamos aceitar o açoite e
continuar em nossa busca
pelo Pai?
Para que não ficassem em
dúvida esclareci aos
presentes que o açoite
não era um castigo de
Deus, uma punição, mas
simplesmente permitir
aos que já estavam
preparados receber nos
ombros a cruz que cada
um havia construído com
os desequilíbrios
cometidos.
Esse açoitar era
exatamente permitir que
a colheita chegasse até
ao semeador.
Muitas vezes escutamos
alegações de que outras
pessoas que não possuem
religião nenhuma vivem
mais em paz e sem
problemas do que aquelas
que têm alguma crença
religiosa. Como explicar
tal aparente
contradição?
Contradição nenhuma.
Todos nós, Espíritos
reencarnados em um
planeta de provas e
expiações, temos um
passado de contabilidade
negativa no Banco da
Providência Divina. A
não ser que sejamos
Espíritos muito
evoluídos emigrando de
algum planeta de
evolução superior ao da
Terra e estejamos aqui
apenas para contribuir
com a evolução dela. Ou
então, aquelas
raríssimas exceções de
Espíritos missionários.
Contudo, se não estamos
em nenhuma dessas duas
condições, precisamos de
muitos açoites
para a remissão do
passado culposo.
O açoite de uma
enfermidade que nos
acompanha como sombra
como consequência de
desequilíbrios
anteriores.
O açoite de
filhos problemáticos
resultantes de nossas
falhas em convivências
anteriores onde falhamos
na educação deles.
O açoite da
pobreza material para
nos reabilitarmos dos
desperdícios dos tempos
de abastança que
tivemos.
O açoite de um
estudo insuficiente como
resultado de termos
perdido as oportunidades
de estudos que se nos
apresentaram e que
malbaratamos.
O açoite de um
patrão implicante e que
nos aborrece no trabalho
para experimentarmos o
que fizemos quando
estivemos na posição
contrária à de
empregado.
O açoite de uma
esposa complicada para
nos redimirmos perante a
Amélia do passado
que abandonamos em busca
de outras aventuras
amorosas.
O açoite de um
marido que não é o
príncipe encantado como
consequência de não
termos cumprido com
obrigações anteriores.
E vai por aí afora.
Nosso lombo
culposo precisa do
açoite corretivo. E
é isto que Paulo anuncia
nas suas palavras aos
Hebreus.
Sempre é tempo de
pouparmo-nos de tal
encontro desde já,
procurando não assumir
compromissos com os
erros, com as más
escolhas ou fugindo à
responsabilidade que nos
cabe cumprir.
Deus ama e educa através
dos açoites, mas
quem confecciona esse
instrumento de
aprendizado não é Ele,
mas cada um de nós
quando optamos pelo erro
em desfavor do acerto.
Aliás, o primeiro
convite dEle é sempre
pelo exercício do amor.
O açoite só é
convocado quando não
aceitamos o convite
anterior.
Se o teu lombo
está doendo, poupe-o de
futuras chicotadas.
Cubra-se com o pelego
do amor ao semelhante
que o açoite ficará
paralisado no ar
das boas obras para
construção de um mundo
melhor.
E então, como ficou a
sua escolha? Aceita a
educação e o açoite
quando o convite do amor
não encontra guarida em
sua alma?