WELLINGTON BALBO
wellington_balbo@hotmail.com
Salvador, BA (Brasil)
|
|
Quando o presidente do
centro espírita recebeu
passe...
"Bem-aventurados os
pobres de espírito,
porque deles é o Reino
dos Céus.” (São Mateus,
V: 3)
Percebo que o
conhecimento intelectual
de determinada ciência
coloca-nos, não raro,
numa sinuca de bico. Se
por um lado liberta-nos,
porque conhecer é
libertar-se da
ignorância, por outro
lado aprisiona numa
espécie de
responsabilidade em ter
de dominar tudo daquela
área, ao menos é assim
que muitos pensam e,
também, como pensa a
sociedade, pois cobra
demais do indivíduo.
Se ele é médico
cardiologista deve saber
tudo de coração. Se é
psicólogo deve saber
tudo sobre emoção e
sentimento. Se é formado
em língua portuguesa
deve dominar a arte de
escrever por completo, e
por aí vai...
Entretanto, bem o
sabemos que as coisas
não funcionam desta
forma. Não é porque
somos especialistas
nisto ou naquilo que
tudo deste campo
saberemos, porquanto as
coisas neste planeta
estão evoluindo, então,
com frequência surgem
novas situações que
nosso conhecimento ainda
não abarcou.
Recentemente vi dois
exemplos claros da
pressão que o
conhecimento imprime nas
pessoas.
Vejamos:
Caso 1 – Na fila de
passe está o presidente
do centro espírita. As
pessoas admiram-se e
iniciam, mesmo que de
forma discreta, um
apontar o dedo,
balbuciando frases do
tipo: Mas você tomando
passe? Mas justo você
passando pelo
atendimento fraterno?
Mas você, com todo seu
conhecimento, em
depressão?
Caso 2 – Marcos,
voluntário do centro
espírita X, estava no
atendimento fraterno e
teve a oportunidade de
receber uma psicóloga
clínica. Com as emoções
em pandarecos ela disse
a Marcos sentir-se mal
com as cobranças que são
impostas pela sociedade
e por ela mesma, haja
vista que todos dizem
ser ela psicóloga e, por
isso, tem condições de
lidar com seus dilemas e
dramas de forma mais
tranquila. A psicóloga,
porém, informou a Marcos
que quer, em algumas
ocasiões, apenas um
pouco de colo,
entretanto sente-se
cobrada em demasia e
constrange-se em pedir
ajuda.
São cruéis as cobranças
acima.
Entretanto, podemos
livrar-nos desta
crueldade.
A liberdade tão almejada
de podermos bradar aos
quatro ventos que
queremos colo, ou que
não sabemos de tudo,
pode ser conquistada com
a prática da humildade e
do autoconhecimento.
Autoconhecimento para
entender que somos
Espíritos em
aprendizado, logo, mesmo
que especialistas em
alguma área, detemos
conhecimento relativo e
não absoluto, porquanto
esta área está evoluindo
e, claro, nós também.
Aliás, diga-se de
passagem, que
conhecimento absoluto em
qualquer campo é
atributo apenas de Deus.
Humildade para termos a
coragem de dizer: Não
sei... Humildade para
cantar a todos que, não
obstante sermos o
presidente do centro
espírita, também
necessitamos recompor as
energias e receber o
passe.
A humildade traz-nos a
liberdade de podermos
ser e sentir, de
caminhar sem máscaras,
tal qual somos, ou seja,
sem a pretensa ideia de
superioridade que
caracteriza, não raro,
aquele que conseguiu
avançar em alguma área
do conhecimento.
Kardec explica Jesus em
O Evangelho segundo o
Espiritismo e
informa-nos que os
humildes entrarão no
Reino de Deus. É a
humildade a virtude que
mais nos aproxima do
Pai. Entenda-se Reino de
Deus como a paz de
consciência, ou seja, a
harmonia interior de
alguém leve, sem o peso
das cobranças sociais ou
individuais para sempre
saber, sempre conhecer,
sempre ter uma resposta
na ponta da língua.
Definitivamente não
sabemos tudo...
Definitivamente
necessitamos também de
colo e de sermos
cuidados, amados,
queridos, dengados...
E penso ser um grande
prazer permitir-se
gritar:
Não sei, não sei, não
sei...
Porém, infelizmente,
esta coragem é para
poucos...
Uma pena...