Considere o leitor que a
vida é uma sequência de
desafios nos
aprendizados de cada
dia, onde se incluem as
dificuldades dos
relacionamentos – muitas
vezes tensos – e as
próprias limitações
pessoais.
Na verdade, a vida
reserva a cada um de nós
a felicidade completa
que, claro, será futura
e não imediata. Por esta
mesma razão, é uma
construção gradativa,
lenta, e que exige lutas
constantes, sacrifício
dos caprichos nem sempre
recomendáveis e esforço
nessa direção. E não é
imediata porque é
impossível que se
conquistem, num espaço
tão curto e rápido, como
é a vida humana – por
mais longa que seja –,
as virtudes e o
conhecimento que formam
a autêntica felicidade
que não está baseada no
ter, mas no ser.
Na verdade, é a
felicidade oriunda da
paz de consciência, onde
não há remorsos, nem
arrependimentos e a vida
é voltada para fazer o
bem em sua integridade.
Lembrei-me dessas
considerações ao ler a
frase “(...) A vida, que
a todos nos reserva
felicidade futura,
estrutura-se em
contínuos testes de
humildade e paciência.
(...)”. A frase consta
do capítulo primeiro do
livro Tramas do
Destino, de Manoel
Philomeno de Miranda,
por Divaldo Pereira
Franco.
Primeiro chamou-me
atenção a palavra
estrutura-se, no
caso da frase em
questão, indicando as
bases da felicidade
futura nos alicerces da
humildade e da
paciência. A própria
palavra estrutura já
indica solidez,
segurança, apoio. Mas
ela vem acompanhada da
curiosa expressão
contínuos testes,
que por sua vez leva à
lembrança dos desafios.
Afinal, teste lembra
avaliação, exame ou
verificação. E a frase é
concluída com as
virtudes da humildade e
da paciência. Repitamos
a frase: “(...) A vida,
que a todos nos reserva
felicidade futura,
estrutura-se em
contínuos testes de
humildade e paciência.
(...)”.
Ficou interessante ligar
felicidade no futuro com
estrutura (que lembra
solidez e segurança,
garantia) baseada nas
duas citadas virtudes. E
mais ainda perceber a
abrangência quando
prestamos atenção à
palavra reserva. A vida
reserva, ou em outras
palavras, a vida trará
no tempo certo ou deixa
como herança a
felicidade. Vamos
entendendo que ela
precisa ser construída
nas bases da paciência e
da humildade.
Agora, pensemos nas
virtudes citadas.
Já parou o leitor para
pensar nos testes
diários de paciência?
Seja na convivência, nos
obstáculos, nas
carências próprias, nos
travamentos
psicológicos, nos
embaraços burocráticos
ou nas diferenças
individuais que lesam os
relacionamentos, na
enfermidade e mesmo nas
imperfeições morais que
ainda caracterizam a
sociedade humana, de
quanta paciência
precisamos? E que quando
não a cultivamos, e nos
deixamos empolgar pela
irritação ou pela
ansiedade, quantos
prejuízos daí são
decorrentes?
Observemos com atenção:
somos testados a todo
instante. Assim também
no que se refere à
humildade. Quantos de
nós não somos vencidos
pela vaidade ou pela
prepotência, pelo
desprezo ou indiferença
que direcionamos a
alguém ou aos interesses
coletivos e
humanitários, no
desrespeito à lei ou às
diferenças humanas?
Quantos não somos
derrotados pela
arrogância ou pelo
desejo de autopromoção?
E aí nos lembramos dos
grandes vultos da
humildade e da
paciência, vencedores de
si mesmos, autênticos
heróis e legítimos
representantes dos
alicerces que estruturam
a felicidade, como Irmã
Dulce, Madre Thereza,
Chico Xavier, entre
tantos outros, inclusive
anônimos...
Ficamos na teimosia da
imposição de ideias, nos
recalques do ciúme e da
inveja, incomodados com
o destaque pessoal
próprio e alheio, na
tola ilusão de mando,
nos melindres que mais
lembram a infância
quando falávamos:
também não brinco
mais... e com isso
vamos adiando a
construção da própria
felicidade.
Quanto tempo ainda
perdemos com discussões
vazias, com maledicência
que corre solta, com
críticas destrutivas
perfeitamente
dispensáveis, iludidos
pela própria ganância ou
pela prepotência que
ainda nos caracteriza o
estágio humano e
esquecemos que a
felicidade está na
consciência tranquila
que só pode mesmo ser
conquistada com a
paciência e a humildade,
porque estas não exigem
nada, não impõem,
aceitam, resignam
ativamente e agem bem em
favor de todos, sem nada
esperar, sem
expectativas, sem
ansiedade. São felizes
aqueles que
gradativamente vão
construindo esses
alicerces.
Temos muito o que
aprender realmente. Não
percebemos ainda que nos
perdemos pelo egoísmo,
pelo orgulho e pela
intolerância,
comportamentos
contrários àqueles que
trazem a autêntica
felicidade que será
conquista inapagável,
que o ladrão não rouba,
nem a tempestade destrói
ou a traça e ferrugem
corroem, como afirmou o
Mestre da Humanidade.
Aliás, por falar Nele,
como esquecer seus
exemplos de paciência e
humildade para que
aprendêssemos a mansidão
e a fé? Ele é mesmo o
modelo e guia para a
Humanidade, a quem
devemos seguir sem
receios, temores ou
acomodação. Não há outro
caminho, é só por Ele
mesmo que conquistaremos
essa lucidez de
espírito.