O Além e a Sobrevivência
do Ser
Léon
Denis
(Parte 8)
Continuamos nesta edição
a apresentar o
estudo do livro
O Além e a Sobrevivência
do Ser, de
autoria de Léon Denis,
com base na 8ª edição
publicada em português
pela Federação Espírita
Brasileira.
Questões preliminares
A. Que disse sobre a
tragédia do Titanic
o Espírito de William
Stead, que foi também
uma das vítimas do
conhecido naufrágio?
A mensagem de William
Stead foi transmitida no
dia 21 de maio de 1912,
a Mme. Hervy, em um
grupo de Paris. Segundo
ele, a agonia do
Titanic teve alguma
coisa de horrível, mas
também de sublime. Houve
desesperos loucos e
manifestações covardes e
brutais do egoísmo
humano. Mas, quantos,
por outro lado, medindo
toda a extensão da
coragem, se sentiram
maiores diante da morte,
mais nobres e mais
santos, mais perto de
Deus! Agonia de centenas
de seres, sim, mas
agonia que para muitos
era a aurora de um novo
dia. (O Além e a
Sobrevivência do Ser.)
B. Na visão de William
Stead, quem mais sofreu
com o afundamento do
Titanic?
Em sua mensagem William
Stead diz que os que
morreram com o naufrágio
sofreram, sim, mas
pouco, menos do que os
que sobreviveram. É que
eles, os escolhidos, já
estavam a meio no mundo
espiritual, onde em tudo
rebrilha uma vida
etérea. A maior
amargura, pois, não era
a deles, mas a dos que,
presos à matéria,
enchiam os barcos de
socorro, que os levavam
para continuarem neste
mundo a peregrinação da
dor, de que ainda não se
haviam libertado. (O
Além e a Sobrevivência
do Ser.)
C. Extasiados com a
maravilhosa beleza da
vida espiritual, os
Espíritos tendem a
esquecer seus amigos
encarnados na Terra?
De modo nenhum. A vida
espiritual, de
maravilhosa beleza, não
os faz esquecer seus
amigos terrenos. Por
felizes que sejam, por
indizíveis que sejam os
gozos que os embriaguem,
sempre e sem cessar são
eles atraídos para o
lugar onde transcorreu
sua última existência e
para todos aqueles a
quem os unem os laços de
uma afeição fraterna.
Eles vão até onde se
encontram seus afetos,
para repetir, num eco
distante, que devemos
esperar e amar acima de
tudo, por muito rude,
por muito árida que seja
a vida. (O Além e a
Sobrevivência do Ser.)
Texto para leitura
97. Léon Denis
refere-se, na sequência,
às mensagens que primam
pela elevação do
pensamento, das quais
inseriu nesta obra
algumas até então
inéditas.
(O Além e a
Sobrevivência do Ser.)
98. Eis a primeira,
transmitida pelo
publicista inglês
William Thomas Stead no
dia 21 de maio de 1912,
a Mme. Hervy, em um
grupo de Paris. Stead
foi uma das vítimas do
naufrágio do Titanic.
Disse ele:
“Caros amigos, uma
sombra feliz vem até
vós. Desconhecendo-lhe a
pessoa, não lhe
ignorais, entretanto, o
nome, nem a morte
trágica no naufrágio do
Titanic. Sou
Stead. Amigos comuns,
entre os quais a duquesa
de P..., me trouxeram
aqui para que me
manifestasse por
intermédio de Mme. Hervy,
sua amiga. Talvez vos
cause admiração que meus
Espíritos familiares não
me tenham avisado da
fatalidade que pesava
sobre o Titanic.
É que nada pode
prevalecer contra o
destino, quando
irremediável, e eu devia
morrer sem que a nenhuma
potência humana ou
espiritual fosse
possível retardar a
minha derradeira hora. A
agonia do Titanic
teve alguma coisa de
horrível, mas também de
sublime. Houve
desesperos loucos e
manifestações covardes e
brutais do egoísmo
humano. Mas, quantos,
por outro lado, medindo
toda a extensão da
coragem, se sentiram
maiores diante da morte,
mais nobres e mais
santos, mais perto de
Deus! Saber que se vai
morrer na plenitude da
vida, na exuberância da
força, pela ação dessas
potências da Natureza,
indomadas sob a
aparência da submissão;
morrer ao cintilar das
estrelas impassíveis;
morrer na calma fúnebre
do mar gelado, em meio
de uma solidão infinita,
que angústia para a
pobre criatura humana! E
que apelo desvairado ela
dirige a esse Deus, cujo
poder repentinamente
descobre!... Oh! as
preces daquela noite, as
preces, os
desprendimentos, as
consciências a se
iluminarem por súbitos
relâmpagos e a fé a se
elevar nos corações por
entre as harmonias do
belo cântico: ‘Mais
perto de ti, meu Deus!’
Agonia de centenas de
seres, sim, mas agonia
que para muitos era a
aurora de um novo dia.
Há, para os que viveram,
pensaram, sofreram, como
também para os que muito
gozaram das falazes
alegrias que a fortuna
dispensa às suas
vítimas, um alívio
interior e como que um
arroubo de esperança, ao
reconhecerem que dentro
de alguns instantes tudo
estará acabado. A alma
freme na carne e a
subjuga, malgrado os
sobressaltos
inconscientes da
animalidade. E quantos
dentre nós, proferindo
as palavras do cântico:
‘Mais perto de ti, meu
Deus!’ se sentiram bem
perto do Ser inefável
que nos envolve com a
sua onipotente
serenidade! Pelo que me
toca, vi, cheio de
estranha doçura,
aproximar-se a morte,
sentindo-me amparado
pelos meus amigos
invisíveis, penetrado de
um misterioso magnetismo
que galvanizava os que
iam morrer e que tirava
à morte todo o horror.
Os que morreram sofreram
pouco, menos do que os
que sobreviveram. Os
escolhidos já estavam a
meio no mundo
espiritual, onde em tudo
rebrilha uma vida
etérea. A maior amargura
não era a deles, mas a
dos que, presos à
matéria, enchiam os
barcos de socorro, que
os levavam para
continuarem nesse mundo
a peregrinação da dor,
de que ainda se não
haviam libertado.” – W.
Stead. (O Além e a
Sobrevivência do Ser.)
99. Mais duas mensagens
obtidas por meio da
escrita mediúnica, em
março e abril de 1912. A
primeira é assinada por
Loyson:
“Prezada Senhora,
obrigado pelo serviço
que me prestastes,
obrigado por me terdes
ajudado a sair da
perturbação que se segue
à morte, obrigado por me
haverdes posto em
contacto com almas tão
nobres, tão puras, que
sonham com o triunfo do
verdadeiro Cristo e com
o da prática da sua
doutrina no seio de uma
Humanidade corroída pela
febre malsã do
materialismo e pelo
surto dessas doutrinas
de uma filosofia
nebulosa, que,
pretendendo criar
super-homens,
desconhecem o homem. O
materialismo de um lado
e, de outro, as nefastas
doutrinas que hão
exaltado o eu em
detrimento do nós
e o indivíduo à custa da
coletividade humana, da
qual não o podem
separar, criaram uma
amoralidade geral, uma
degeneração da
consciência, que as
velhas fórmulas
religiosas são incapazes
de deter. Oh! muito
teremos que fazer, nós
os missionários do
Cristo novo, e não nos
faltará trabalho na
vinha do Senhor; mas,
que alegria para o
apóstolo é sentir que
sua missão se precisa e
se dilata, ver que a
morte, longe de
imobilizar o homem sob a
lápide do sepulcro, lhe
aumenta, estende,
amplifica as faculdades,
que a liberta das
dúvidas, das hesitações,
dos falsos escrúpulos
que lhe turbavam a
consciência! Minha vida
passada não foi mais do
que a baça crisálida em
que minha alma se
transformou, pelas
provações e dores, em
maravilhosa borboleta.
Oh! alegria imensa que
faz regurgitar o
coração!, alegria que
arrebata a alma como que
num arranco desordenado,
para arrojá-la,
palpitante de
reconhecimento, aos pés
do Criador Celeste, que
tão generosamente paga o
resgate do pecador! Não,
meus irmãos, imersos nas
trevas da prisão
terrestre, não podeis
conceber a felicidade da
libertação terrena.
Sentir o engrandecimento
da capacidade de
conhecer e aprender, que
já fez do homem o senhor
do universo material;
sentir que, com a
inteligência e a
compreensão, crescem
todas as possibilidades
de ação; sentir que o
coração se depura e
conhecer, enfim, a
verdadeira amizade e o
verdadeiro amor na
comunhão íntima dos
seres, que, por
intransponíveis
barreiras, os pesados
invólucros materiais
separam, são coisas que
se não podem exprimir
por palavras e
impossível me é
fazer-vos experimentar a
plenitude de vida que
sucede ao sono
terrestre; pois que, na
Terra, o homem se
assemelha à semente
enterrada no solo,
gérmen obscuro, noção
que prepara o
desabrochar futuro, mas
que não está, por isso,
menos enredado nos
liames da matéria.
Obrigado, ainda uma vez,
Senhora, por terdes
apressado o meu
despertar, por me terdes
granjeado tantos e tão
elevados amigos, tão
dignos e tão
compenetrados da palavra
do Cristo; obrigado por
me terdes feito entrar
nesta falange que conta
os Lacordaire, os Didon,
os Bersier, falange que
desempenha a missão
divina da renovação do
ideal do Cristo. Aqui
está, pois, de novo o
ardente, o fervoroso
apóstolo que
conhecestes, minha
querida e fiel irmã (o
Espírito se dirige neste
ponto a uma das pessoas
presentes), dispondo de
maior clarividência e de
mais inteligência das
coisas, com a esperança
viva de poder mais tarde
e mais perfeitamente
retomar a tarefa que
tentou levar a cabo
nesse mundo e que
deixou, ah!, tão
imperfeita. Foi o vosso
pensamento que me atraiu
para junto da vossa
médium. Obrigado,
portanto, a vós também.
Deixo-vos, meus amigos,
possuído de uma alegria
pura e santa, alegria
que ultrapassa todas as
alegrias da Terra, todas
as harmonias terrestres,
como o canto do rouxinol
sobreleva e abafa o
chilrear da toutinegra.
Obrigado ainda; o
apóstolo ganhou
novamente confiança na
sua missão divina e
ei-lo de novo pronto a
combater pelo triunfo do
Espírito do Cristo.” –
Loyson. (O Além e a
Sobrevivência do Ser.)
100. A outra mensagem,
abaixo transcrita, é
assinada por Eduardo
Petit:
“A vida espiritual, de
maravilhosa beleza, não
faz esquecer os nossos
amigos terrenos. Por
felizes que sejamos, por
indizíveis que sejam os
gozos que nos embriagam,
sempre e sem cessar
somos atraídos para o
lugar onde transcorreu a
nossa última existência,
para todos aqueles a
quem nos unem os laços
de uma afeição fraterna,
para junto de vós,
enfim, ó bem-amados.
Sim, pensamos em vós,
mesmo das alturas mais
inacessíveis a que se
possa elevar o
pensamento! Vimos até
onde estais para vos
repetir, num eco
distante, que deveis
esperar e amar acima de
tudo, por muito rude,
por muito árida que seja
a vida. A esperança e o
amor vertem, na
existência, a linfa do
esquecimento. Dão a
coragem, a vontade forte
que nos permitem
arrostar de ânimo sereno
a tempestade. Mas, venha
a calma após a borrasca,
venha a hora do repouso
benéfico e sentireis que
nas vossas veias circula
a eterna felicidade
celeste, que Deus
espalha sem medida pelos
pobres humanos. O tempo,
às vezes, vos parece bem
longo. De nós esperais
as menores comunicações
com impaciência e também
com uma espécie de
curiosidade, e cheios de
vaga esperança de que
elas vos venham revelar
alguma coisa do mistério
dos mundos. A
Providência, porém, sabe
que as revelações não
seriam compreendidas.
Não! A hora ainda não
soou! As frases que vos
possamos transmitir
ficarão sendo, por
enquanto, meras frases;
exortações à prática do
bem, certamente! Cumpre
orientar para o melhor
as pobres almas
sofredoras. Pela doçura,
pela bondade, deveis
chamar ao vosso seio os
irmãos incrédulos. E
podeis também, pela
caridade, fazer-lhes
entrever a meta sublime
para a qual deve tender
a vida. A vida continua,
bem o sabeis. Só muda a
forma. Todavia, não muda
demasiado rápido,
porquanto, durante largo
tempo, nos conservamos
terrestres. Quiséramos
poder exprimir-vos tudo
o que o infinito nos dá
a contemplar. Mas, ah!,
a linguagem humana é
pobre, suas palavras são
duras, agudas, pesadas
como a matéria, ao passo
que seriam precisas
palavras leves e suaves,
de uma suavidade toda
especial, capazes de
exprimirem os sons e as
cores. A atmosfera que
vos envolve é por demais
espessa para permitir
que percebais, ainda que
pouco, toda a harmonia
que reina nos planos
superiores do Universo.
Ah!, que esplendores aí
se desdobram! E que
consolação, que grande
recompensa aos nossos
males é esta vida, esta
embriaguez de todos os
instantes! Continuamos a
ocupar-nos das almas
errantes, mas a fonte de
amor em que nos
dessedentamos é tão viva
e tão abundante, que
basta para nos deixar
entrever destinos inda
mais gloriosos. A
ascensão prossegue, sem
nunca parar. Subir
ainda, subir sempre, sem
jamais atingi-lo, para o
foco da perfeição, para
a Causa suprema que nos
deve absorver,
conservando-nos a
personalidade própria. O
amor, qualquer que seja
o mundo em que se
esteja, é a força, o
eixo das esferas que
gravitam em suas
órbitas. Na natureza,
nos infinitamente
pequenos, é o amor,
antes de tudo, que guia
o instinto. No homem, na
sociedade inteira, é o
amor que forma as
simpatias, que torna
possíveis as relações
dos humanos entre si.
Seja qual for a
expressão sob a qual o
queiram deformar, seja
qual for o nome com que
o ridiculizem, se
analisardes um pouco,
encontrareis sempre o
amor, o amor mais ou
menos purificado, que
existe em todo ser. Ele
é o centro, a causa.
Reina no lar. É sobre
suas fiadas que se
constrói a família, a
família que perpetua, no
tempo e no espaço, a
longa série dos séculos,
marcando o progresso das
humanidades. E é também
o amor que rege as
amizades sólidas.
Constituís uma força
poderosa, quando as
mesmas ideias, o mesmo
ardente desejo do bem
vos animam. A força
fluídica que vos cerca é
considerável, e se, de
sua resistência, o
granito vos pode dar
ideias, o cristal, em
cujas facetas se vem
irisar a luz, poderá
fazer-vos perceber-lhe a
incomparável pureza.
Desde o menor até o
maior, amai; e, em
vossos corações, em
vossas almas, correrá a
fonte de vida. Sim, é
necessário amar ainda,
amar sempre, ensinando,
continuando a propagar,
em toda a sua grandeza,
a filosofia que encerra
o porquê dos destinos
humanos. Trabalhai a
terra; deixai que nela
entre a relha do
poderoso arado do amor
e, um dia, as messes
louras germinarão ao sol
radiante do futuro.
Propagai sem descanso.
Propagai amando.” –
Eduardo Petit. Morto a
15 de setembro de 1910,
em Paris. (O Além e a
Sobrevivência do Ser.)
(Continua no próximo
número.)
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