ROGÉRIO MIGUEZ
rogmig55@gmail.com
São José dos Campos, SP
(Brasil)
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O bem e o mal
“Porque
não faço o bem que
quero, mas, o mal que
não
quero, esse faço.”
(Paulo, 7:19.)
Uma das poucas
fatalidades nas leis de
Deus é a certeza de
alcançarmos uma relativa
perfeição ao longo de
nosso processo
evolutivo, queiramos ou
não atingiremos a
condição de Espírito
puro, mais cedo ou mais
tarde, não há quem possa
se esquivar deste
destino: Graças a Deus!
Imaginar ou aceitar que
por um deslize, uma
falha moral, um equívoco
ético, pudéssemos ser
relegados à condição de
párias na criação, sem
direito a mudar o nosso
destino que seria de
puro sofrimento a partir
deste banimento, como
Caim se encontrou
naquela conhecida
passagem da Bíblia após
ter matado Abel, seu
irmão de sangue, nos
conduziria a um
entendimento inquietante
sobre a Divindade,
contudo, há sempre
misericórdia e bondade
nas leis eternas: Graças
a Deus!
Prevista está a
possibilidade de
alcançar esta finita
perfeição trilhando três
possíveis caminhos: ou
fazemos apenas o bem
desde a nossa
individualização como
Espírito imortal; ou
fazemos somente o mal;
ou andamos a errar e
acertar pelas veredas da
vida, entretanto,
independente de qual
caminho inicial tomemos,
estaremos sempre
progredindo; não é
possível estacionar
eternamente e, sim,
jamais regredir: Graças
a Deus!
É pouquíssimo conhecida
a possibilidade de um
Espírito agir sempre no
bem, desde o início de
sua caminhada, sendo
esta a razão de se poder
afirmar categoricamente
não haver a necessidade
absoluta de trilhar o
mau caminho para se
alcançar certo grau de
perfeição, destinação
final de todos nós:
Graças ao Bom Deus!
Não são afirmações
gratuitas, porquanto
foram registradas por
Allan Kardec1:
124. Uma vez que há
Espíritos que, desde o
princípio, seguem o
caminho do bem absoluto
e outros o do mal
absoluto, haverá,
talvez, gradações entre
esses dois extremos?
“Sim, certamente, e
constituem a grande
maioria.”
Desconhecendo esta
realidade, alguns alegam
ser preciso
necessariamente praticar
ou vivenciar o mal, por
essa experiência, creem,
chegarão à correta
compreensão do bem. Esta
proposta é um total
absurdo, pois, caso isto
fosse verdade, todos nós
precisaríamos assassinar
alguém, torturar,
martirizar o próximo,
participar de
atrocidades mil, para
bem entender serem essas
condutas totalmente
inadequadas, apenas para
citar alguns exemplos.
Chega-se à mesma
conclusão analisando-se
esse outro registro do
Mestre de Lyon2:
634. Por que está o mal
na natureza das coisas?
Falo do mal moral. Não
podia Deus ter criado a
Humanidade em melhores
condições? “Já te
dissemos: os Espíritos
foram criados simples e
ignorantes (115). Deus
deixa ao homem a escolha
do caminho. Tanto pior
para ele, se toma o
mau caminho: sua
peregrinação será mais
longa. Se não
existissem montanhas, o
homem não compreenderia
que se pode subir e
descer; e se não
existissem rochas, não
compreenderia que há
corpos duros. É preciso
que o Espírito adquira
experiência e, para
isso, é necessário
que conheça o bem e o
mal. Eis por que
existe a união do
Espírito e do corpo.”
(Negritamos)
O primeiro destaque
indica haver a
possibilidade de
tomar-se o mau caminho,
deste modo, deve existir
também, por oposição, a
opção de tomar-se o bom
caminho, com consequente
encurtamento da
peregrinação. No outro
destaque, observa-se que
conhecer não é viver,
praticar, exercer,
experimentar; para
conhecer é suficiente
estudar, ler, pesquisar,
observar, refletir e
concluir por agir desta
e não daquela forma. A
observação das
consequências dos atos
de outros, neles mesmos
e em terceiros, nos dá
uma boa medida para
decidir se houve mal ou
bem, dessa forma, é
possível sempre agir no
bem, sem ser necessário
trilhar o caminho do
mal.
Inclusive, reforçando
esta última proposta,
recorde São Luís em O
Evangelho segundo o
Espiritismo3:
Será repreensível
observar as imperfeições
dos outros, quando daí
não resultem nenhum
proveito para eles,
mesmo
que não as
divulguemos?
“Tudo depende da
intenção. Certamente não
é proibido que se veja o
mal, quando ele existe.
Seria mesmo
inconveniente ver em
toda a parte somente o
bem, pois essa ilusão
prejudicaria o
progresso. O erro
consiste em fazer que
essa observação redunde
em prejuízo do próximo,
desacreditando-o, sem
necessidade, na opinião
pública. Também seria
repreensível fazê-lo
apenas para dar expansão
a um sentimento de
malevolência e de
satisfação em apanhar os
outros em falta. Dá-se
inteiramente o contrário
quando, lançando um véu
sobre o mal, para
ocultá-lo do público,
limitamo-nos a
observá-lo para proveito
pessoal, isto é, para
nos exercitarmos em
evitar o que reprovamos
nos outros. [...]”
(Negritamos)
Caso admitíssemos ter
Deus nos criado simples
e ignorantes e
determinado que ao longo
de nossa evolução só
pudéssemos alcançar a
condição de pureza
espiritual praticando o
bem e, de permeio,
realizando atos maus,
seria desesperador,
teríamos que reconhecer
que mais cedo ou mais
tarde precisaríamos
tirar a vida do
semelhante para aprender
que não devemos matar
ninguém.
Podemos alinhar mais
algumas referências para
nos conscientizarmos de
que jamais teremos que
viver necessariamente o
mal para alcançar o bem.
Veja-se este outro
registro do Sábio Gaulês4:
120. Todos os Espíritos
passam pela fieira do
mal para chegar ao bem?
“Não pela fieira do mal,
mas pela da ignorância.”
O Espírito ignorante é
um livro em branco a ser
preenchido de acordo com
as condutas e atitudes
do próprio ser pensante.
No início de nossa
evolução ainda no reino
animal como princípio
espiritual, não
possuíamos tendências,
nem para o mal, tampouco
para o bem. Atingindo o
reino hominal, e pouco a
pouco conquistando a
liberdade e o
livre-arbítrio, o
próprio desenrolar da
vida vai nos
apresentando os
caminhos, e, dentre as
possíveis direções,
tomamos aquelas mais
agradáveis.
Nestas fases iniciais da
jornada, Espíritos mais
evoluídos já se
apresentam como nossos
protetores, a figura do
anjo guardião já se faz
presente quando
ensaiamos os primeiros
passos na trajetória à
conquista da pureza
espiritual; é a forma
determinada por Deus
para nos ajudar desde o
caminhar de nossa
infância espiritual:
jamais nos encontramos
sós ou abandonados.
Existem conselhos,
intuições, sugestões
mentais, por parte dos
protetores, mesmo que
sejamos ignorantes, de
modo a já iniciar o
aprendizado e
consolidação do processo
de escolhas a nos
caracterizar no futuro
através do exercício de
nosso livre-arbítrio. Se
o Espírito, ainda na
simplicidade de
entendimento, faz opções
pelo caminho do bem,
desde este início, vai
consolidando
gradativamente um padrão
de conduta que o
acompanhará. Quanto mais
opta pelo bom caminho,
mais se fortalece e mais
se torna apto a realizar
apenas boas ações, e
vice-versa.
É oportuno fazer outra
reflexão sobre esta
possibilidade em fazer o
bem desde o início.
Entendemos que sejamos
todos daqueles que
optaram por avançar
entre o bem e o mal
absolutos. Diante de tal
realidade, por qual
razão não nos
esforçarmos agora um
pouco mais por fazer
mais bem do que mal? Não
é chegado o momento de
nos alinharmos de
preferência com as boas
condutas?
Sobre esta luta interna
travada diariamente para
não cometer mais desvios
aos postulados de Deus,
pode-se lembrar de uma
característica
importante de nossa
personalidade a ser
sempre fortalecida: a
vontade de praticar o
bem!5
636. O bem e o mal são
absolutos para todos os
homens? “A lei de Deus é
a mesma para todos; mas
o mal depende
principalmente da
vontade que se tenha de
o praticar. O bem é
sempre o bem e o mal é
sempre o mal, seja qual
for a posição do homem;
a diferença está no grau
da responsabilidade.”
(Negritamos)
O posicionamento na vida
apenas para a prática do
bem não é fácil,
sabemos, pois já temos
gravadas em nosso
caráter matrizes de más
condutas e inclinações
construídas no passado,
entretanto, não é
impossível iniciar um
processo de superação,
deixando gradativamente
para trás os padrões da:
vingança, inveja, ciúme,
soberba, preguiça, entre
outros traços de
personalidade a nos
caracterizar e
incomodar, nos fazendo
perder tempo e
grandiosas oportunidades
de aprendizado.
Quem sabe não é o
momento de darmos o
brado de libertação das
atitudes contrárias às
leis divinas? Já
conhecemos o bastante, a
Doutrina aí está para
nos ajudar e nortear nas
escolhas. Além disso,
temos a ajuda incansável
de nossos guias
espirituais: do que mais
precisamos? O mundo de
regeneração se
apresenta, e se tornará
uma realidade na razão
direta de nossos
esforços em agir apenas
no bem. A hora é agora!
Referências:
1
KARDEC, Allan. O
Livro dos Espíritos.
Trad. Evandro
Noleto Bezerra. 3. ed.
Comemorativa do
Sesquicentenário.
Brasília: FEB, 2007. Q.
124.
2
______, _____. Q. 634.
3
______. O Evangelho
segundo o Espiritismo.
Trad. Evandro Noleto
Bezerra. 2. ed. 1 imp.
Brasília: FEB, 2013.
cap. 10, it. 20.
4
______. O Livro dos
Espíritos. Evandro
Noleto Bezerra. 3. ed.
Comemorativa do
Sesquicentenário.
Brasília: FEB, 2007.
Q.120.
5
______, _____. Q. 636.