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Crônicas e Artigos

Ano 10 - N° 483 - 18 de Setembro de 2016

GEBALDO JOSÉ DE SOUSA
gebaldojose@uol.com.br
Goiânia, Goiás (Brasil)

 


Espíritos – evoluiremos
até à perfeição

“Há Espíritos que permanecerão para sempre nas ordens inferiores?

– Não; todos se tornarão perfeitos. Eles mudam de ordem, mas isso demora, porque (...) um pai justo e misericordioso não pode banir eternamente seus filhos. Pretenderíeis que Deus, tão grande, tão bom, tão justo, fosse pior do que vós mesmos?”1

A Doutrina Espírita oferece-nos, sem mistérios ou rodeios, informações maravilhosas sobre a realidade espiritual que nos aguarda.

Incentiva-nos a conhecê-las; e a conquistar a fé real; a banir crendices enganosas (crença em juízo final; céu de contemplação eterna etc.) e temores infantis (existência do inferno, de demônios etc.).

Convence-nos de que a paz é conquista a exigir mudanças interiores, diante da vida e do próximo; e nos conduz por caminhos suaves, à medida que aviamos as receitas de paz, contidas no Evangelho.

Conscientiza-nos de que no Universo vige a Lei do Mérito; que a evolução é processo longo, da qual ninguém é excluído, nem se perderá ‘para sempre’, por mais que erre, e que cabe a cada um realizá-la.

Revela-nos que o instrumento para cada Espírito atingir a perfeição é a reencarnação, que ocorre infinitas vezes, tantas quantas sejam necessárias. Tudo pode ser conquistado, à medida que nos empenhamos em vivenciar as lições de Jesus.

É o que Ele nos diz:

“E a vontade de quem me enviou é esta: Que nenhum se perca de todos os que me deu; (...).” - Jo 6:39.

E é o que assinala Allan Kardec2:

“(...) todos os seres gravitam para um fim comum, que é a perfeição, sem que uns sejam favorecidos à custa de outros, visto serem todos filhos de suas próprias obras”.

Sobre a evolução, Carlos T. Pastorino3 assinala:

“(...) vemos que, no início da evolução, (...) a criatura corre atrás de tudo o que lhe cai sob os sentidos, enganada de objetivo, crente de que a felicidade que a atrai e arrasta são as riquezas materiais, são os prazeres físicos, são as sensações exóticas, são as emoções violentas, é a glória dos aplausos, é a cultura que a incha de orgulho, e até é a religião ritual que a eleva pela autoridade aos olhos das multidões e dos ‘reis’. E após errar séculos e séculos em busca dessas ilusões, sente em cada uma delas o travo amargo da decepção, do vazio, da solidão (...) Até que um dia, depois de lições práticas e de experiências de dor, percebe que a atração não vem de nada que esteja fora dela: é de dentro, (...) o Cristo aduz como testemunho de autoridade a palavra de Isaías: ‘Todos (sem exceção) serão instruídos por Deus’.

Instruídos todos por Deus, que pacientemente nos espera a volta como o pai esperou o ‘filho pródigo’ (Lc 15:11-32), acabamos atinando com o rumo verdadeiro que é para dentro de nós mesmos (...)”.

Jesus oferece-nos segunda lição:

“Declarou-lhes Jesus: Em verdade vos digo que publicanos e meretrizes vos precedem no reino de Deus.” (Parábola dos dois filhos, Mt 21:31.)

Aí está implícito que todos entrarão no reino de Deus, embora o detalhe significativo de que os fariseus serão precedidos pelos pecadores: chegarão por último! Por último, mas chegarão! Não serão excluídos ‘para sempre’.

Ainda Pastorino4, ao comentar essa parábola, afirma que a humanidade se divide entre aqueles que dizem sim ao Evangelho, mas que não vivenciam suas lições e aqueles que a ele dizem não, mas que se transformam interiormente, revelando obediência às Leis Divinas.

"O sim é dito por todos os pretensos justos, e o não por todos os pecadores que, mais tarde, se convertem à senda do bem.

(...) muitos se apressam a dizer o SIM, exteriormente, com os lábios, e a entrar para as religiões, as ordens e fraternidades, seguindo os preceitos externos com todo o rigor, executando os ritos e rituais (...).

(...) os que se julgam justos, estão fiados na personagem que cumpre os preceitos humanos externos, voltando-se para fora. Por dentro deles, existe a vaidade e o convencimento de que são bons e superiores às demais criaturas, porque eles estão no caminho certo e os outros são ‘errados’.

Enquanto isso, os pecadores e as prostitutas encontram, em seu âmago, a humildade que reconhece suas fraquezas, suas deficiências, seus erros. Isso faz que se voltem para dentro de si mesmos, mergulhando no íntimo, onde – ao ver seus desregramentos –, mais humildes se tornam.

Eis que, então, têm facilitado o caminho para o reino de DEUS que está dentro deles e que só se conquista através da humildade e do amor. (...)

Jesus agiu de modo diverso. Apesar da sagrada maternidade e da santidade reconhecida por todos em Maria de Nazaré, Sua mãe, Ele concede as primícias de Seu contato, após a ressurreição, à pecadora de Magdala. Não que não houvesse merecimento da parte de Sua mãe: mas quis ensinar-nos que o parentesco é coisa secundária na vida espiritual, mesmo em se tratando de mãe; e segundo, que as meretrizes merecem tanto quanto qualquer outro Espírito, em nada devendo ser sacrificados no processo evolutivo.

(...)

Quem cultiva o amor sintoniza com Deus, que é Amor. Quem cultiva sede de domínio, de desforra ou vingança, quem alimenta orgulhos e vaidades de raça superior, e ódios de vizinhos, sintoniza com o Adversário (satanás) e se dirige ao polo oposto de Deus: encaminha-se em sentido contrário, erra ‘contra o Espírito-Santo’.

(...)

Lição dura de ouvir, porque todos nós nos acreditamos escolhidos e evoluídos! Sejamos humildes: somos piores que pecadores e prostitutas, pois a vaidade nossa nos afasta do polo positivo, e a humildade real deles os aproxima de Deus e com Ele sintonizam. Não são nossas palavras que definem nossa sintonização: é o sentimento íntimo de cada um que faz afinar ou desafinar com a tônica do amor”. (Grifamos!)

Jesus apresenta-se a Saulo de Tarso no caminho de Damasco (Atos 9:1-19) e não o condena. Dá-lhe meios de se converter e de se redimir.

“(...) e conhecereis a verdade e a verdade vos libertará.” – Jo 8:32.

Saulo libertou-se pelo conhecimento da Verdade, eis que aproveitou de tal forma a extraordinária oportunidade, à custa de muitas renúncias e sofrimentos por amor a Ele, ao ponto de afirmar, anos após:

“(...) já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim; (...)” - Gl 2:20.

Os Espíritos nos revelam que a aquisição da Verdade se dá lentamente, a pouco e pouco, em múltiplas reencarnações concedidas a todos nós, Espíritos – sem exceção! Renovam a todos nós oportunidades de nos transformarmos para melhor, de repararmos nossos erros e de aprendermos lições novas, que nos harmonizem com as Leis Divinas!

A reencarnação é, pois, instrumento para evolução. E prova a amorosidade do Criador para com todos nós, Seus filhos.

 

Referências:

1.            KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. Trad. Evandro Noleto Bezerra. 2. ed. 1. impr. Rio de Janeiro: FEB, 2011. Q. 116, p. 139.

2.            KARDEC, Allan. A Gênese. Trad. Evandro Noleto Bezerra. 2. ed. 1. impr. Brasília: FEB, 2013. 2 cap. I, item 30, p. 28.

3.            PASTORINO, Carlos T. Sabedoria do Evangelho. Rio de Janeiro: SPIRITVS, vol. 3, p. 149.

4.            PASTORINO, Carlos T. Sabedoria do Evangelho. Rio de Janeiro: SPIRITVS, vol. 7, pp. 35 e 36.


 

 


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