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Crônicas e Artigos

Ano 10 - N° 487 - 16 de Outubro de 2016

ANSELMO FERREIRA VASCONCELOS
afv@uol.com.br
São Paulo, SP (Brasil)

 

 

Jogos eletrônicos e as obsessões coletivas


Não há como deixar de reconhecer que a humanidade terrena conserva, lamentavelmente ainda, uma estranha e obsessiva atração por coisas que exprimem, na melhor das hipóteses, valor duvidoso. O seu comportamento imaturo e inconsequente, bem como o excessivo apego a determinados objetos e utensílios – na atualidade, particularmente os eletrônicos –, não lhe permite discernir, em muitas ocasiões, o que realmente importa para construir uma existência mais proveitosa em aprendizados. Nesse momento marcado por grandes impactos emocionais e enormes incertezas decorrentes da invigilância dos pensamentos e da falta de fé que vigora no orbe, é notório que as forças do mal continuam extremamente ativas. 

Dito de outra forma, as trevas estão empenhando todo o seu cabedal de conhecimentos e inteligência para desvirtuar os indivíduos mais incautos de abraçar os bons propósitos, causas e ideias. Nesse sentido, é considerável a lista de criações de conteúdo chocantes, bizarros, levianos e intelectualmente insipientes.

Obviamente, a maioria dessas aberrações visa apenas e tão somente entorpecer as mentes imaturas ou pouco dispostas aos voos mais altos das cogitações humanas. Portanto, há que se reconhecer, segundo observamos no enfrentamento do dia a dia, que o objetivo tem sido alcançado com acentuado sucesso.

Em consequência, os indivíduos pertencentes a esse numeroso grupo acima aludido deixam de conjecturar sobre assuntos genuinamente úteis ou de desenvolver hábitos saudáveis à autoiluminação. Como bem abordou um recente editorial da revista Presença Espírita, “O olvido do ser espiritual é cada vez maior...”. De fato, o ser humano não poderá se autodesvendar se não olhar com atenção para o seu interior. Afinal, o autoconhecimento é um processo que requer esforços intensos e concentração elevada.

Assim, como poderemos avançar na busca da regeneração planetária se as criaturas humanas desperdiçam tempo valiosíssimo – essa mercadoria escassa, cabe recordar – com entretenimentos infantis ou hábitos imprudentes? Nesse particular, a tecnologia também tem sido empregada com muita proficiência para fins nada meritórios. Aliás, a mais recente criação tecnológica, o jogo para smartphone e tablet Pokémon Go, é um claro exemplo disso.

Tal engenhoca se transformou numa genuína febre mundial. Como didaticamente explicou um artigo publicado pela revista Veja SP em 10 de agosto passado, “... a diversão consiste em caçar pelas ruas personagens como o boneco amarelo Pikachu do desenho animado que fez sucesso no fim dos anos 90”.

Dessa maneira, as pessoas estão saindo praticamente alucinadas à caça do dito personagem, entre outros. O objetivo traçado pelo fabricante é que os usuários do programa capturem todos os 151 pokémons. A novidade tem causado tal estado de histeria coletiva que, em Nova York, conforme relata o artigo, as pessoas chegam desesperadas ao Central Park, e abandonam os seus carros ligados, na expectativa de neutralizar os personagens do programa.

Em Hong Kong tem se observado atitudes semelhantes. Um repórter da rádio Jovem Pan, em São Paulo, comentou há poucos dias atrás sobre o comportamento bizarro de muitas pessoas que estavam andando pela famosa Avenida Paulista. Ele afirmou que muitos transeuntes estavam como que enfeitiçados pelo visor dos seus telefones sem dar atenção para nada mais. Em dado momento da sua intervenção chegou até a alertar sobre o perigo de eles sofrerem um assalto já que estavam totalmente distraídos, e os bandidos, em contraste, muito atentos.

Ademais, são cada vez mais corriqueiros os casos de quedas e até atropelamentos devido à distração das pessoas com os seus jogos. Outra notícia veiculada pela mesma rádio relatava o caso de uma criança residente no Rio Grande do Sul que, envolvida com o brinquedo e estando dentro de um barco, perdeu o equilíbrio, caiu no rio e lamentavelmente desencarnou por afogamento. Até mesmo algumas paróquias estão estimulando a brincadeira – exceção aos horários dos serviços religiosos – a fim de manter uma maior aproximação com as novas gerações.

Diante desses fatos, é concebível imaginar as gargalhadas provenientes das entidades eminentemente sagazes a serviço das trevas. Usam com maestria os seus talentos para criar distrações que se transformam em autênticas obsessões coletivas. Em vez de longos e articulados processos obsessivos, agora as massas humanas se rendem com enorme facilidade aos brinquedos digitais por eles certamente inspirados.

Entretanto, há quem vislumbre possibilidades mais, digamos, úteis com jogos dessa natureza como, por exemplo, um recurso educativo. Mas por ora, infelizmente, o uso dessa tecnologia tem características viciosas semelhantes em muitos aspectos à drogadição. Por outro lado, é incontestável que os onipresentes smartphones já se transformaram em objetos indispensáveis à vida humana. Mas o seu uso exagerado tem causado crescente desconforto e preocupação.

Não é incomum observar, por sinal, nas avenidas das grandes cidades motoristas de carro, veículos de transporte, entre outros, trafegando em baixíssima velocidade – isto é, muito abaixo do permitido – com os olhares focados nos seus aparelhos. Há igualmente os que conseguem a proeza de dirigir em velocidade normal e, ao mesmo tempo, conversar/digitar em seus aparelhos.

Mas além de desrespeitarem as leis vigentes, podem ser causadores de acidentes já claramente identificados pelas pesquisas e simulações. Como predomina a falta de senso e equilíbrio, as pessoas se viciaram de tal forma no uso desses gadgets, que já não conseguem mais se desligar dos seus aparelhos sequer por algumas horas. Não faz muito tempo que testemunhei destacados jornalistas admitirem, com absoluta naturalidade, que a primeira coisa que fazem ao acordar, bem como antes de dormir, é simplesmente olhar para os seus celulares. Pode-se prever, portanto, que cedo ou tarde serão necessárias intervenções terapêuticas para que a razoabilidade comportamental seja reconquistada. 

Enquanto isso não ocorrer, prevalecerá o desinteresse pelas coisas que realmente estimulam a busca pelo autoconhecimento, a transformação interior e o necessário entendimento da realidade espiritual que nos cerca, como sugerido no início desse texto. Provavelmente muitos continuarão alocando tempo precioso para divertimentos infantis como se a vida fosse apenas uma brincadeira.   



 


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O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita