A cobra e o
vaga-lume
Naquela manhã de
primavera,
Jandiara, a
cidadezinha
encantada,
despertara
exuberante. A
natureza
oferecia um
magnífico
espetáculo numa
explosão de luz,
cores, aromas e
sons.
Na praça central
e nas principais
ruas,
caprichosamente
arborizadas e
ajardinadas,
canoros
passarinhos
saudavam o
amanhecer com
seus suaves
gorjeios, qual
sinfonia
celestial,
entoando um hino
de louvor ao
Pai; flores
desabrochavam
numa profusão de
nuanças e,
tangidas pela
brisa matinal,
espargiam o olor
só conhecido nos
édens; o
astro-rei,
derramando-se em
cascatas de
raios doirados,
beijava o chão
ainda umedecido
pelo orvalho que
caíra na
madrugada.
Em Jandiara, a
vida retornava
ao seu curso
normal. O
Prefeito
adentrava o
gabinete de
trabalho
vivamente
interessado em
conseguir mais
verbas federais
para iniciar
novas obras no
município; o
Juiz, o Promotor
e o Tabelião
retomavam suas
atividades no
Fórum local; o
comércio reabria
suas portas na
esperança de
bons negócios; a
garotada,
esbanjando
alegria, chegava
à escola onde a
professora
Tequinha os
aguardava com um
largo sorriso de
felicidade para
mais um dia de
labuta escolar.
Quando faltavam
quinze minutos
para o
encerramento da
aula, Tequinha,
ante a grande
expectativa das
crianças, falou
com sua habitual
serenidade:
Ficou combinado
que, a cada
segunda-feira,
um aluno
apresentará e
comentará uma
estória contada
por alguém, uma
fábula copiada
de um livro ou
alguma coisa de
sua própria
imaginação.
Hoje, cabe à
menina Idália o
primeiro
trabalho dessa
nova modalidade
de estudo.
Vamos, comece a
ler o que
preparou e,
depois, faça a
interpretação do
texto.
Segura de si,
sem nenhuma
inibição, Idália
iniciou sua
apresentação.
- Trouxe a
fábula “A COBRA
E O VAGA-LUME”
colhida por meu
pai na Internet.
“Uma cobra
passou a
perseguir
ferozmente um
vaga-lume que
fugiu rápido com
medo da feroz
predadora... mas
a cobra não
desistiu.
Um dia, já sem
forças, o
vaga-lume parou
e disse: - Posso
fazer três
perguntas?
A cobra assentiu
e ele
continuou... -
Pertenço à sua
cadeia
alimentar?
- Não.
- Fiz-lhe algum
mal?
- Não.
- Então, por que
quer me comer?
- Porque não
suporto ver você
brilhar...”
- Parabéns,
Idália, você foi
muito feliz na
escolha -
comentou a
professora -
agora, diga qual
a lição que
tirou da fábula.
Entendo que a
cobra era uma
grande invejosa
e que a inveja
pode levar um
ser à loucura.
Muito bem, sua
afirmação está
perfeita. A
cobra, movida
pelo negativo
sentimento da
inveja,
sentiu-se ferida
em seu orgulho,
teve açulada sua
vaidade, não
aceitou ver-se
obscura a
rastejar
enquanto o
pequeno
vaga-lume
pairava luminoso
no ar. Buscou
destruí-lo para
não ser ofuscada
por seu brilho.
- Quer dizer,
professora -
interveio Júlio
- que a cobra
virou uma
assassina porque
era invejosa,
orgulhosa e
vaidosa?
- Sem dúvida. A
cobra deixou-se
dominar por três
sentimentos
inferiores e
descambou para o
crime.
- O que são e
que mal podem
fazer a inveja,
o orgulho e a
vaidade -
perguntou o
Bruno cheio de
interesse.
- A inveja é o
sentimento de
desgosto pelo
bem alheio, é a
vontade doentia
de possuir ou
destruir o que
pertence a
outro, é uma
barreira à
evolução da alma
do invejoso e,
muitas vezes,
também prejudica
o invejado; o
orgulho é um
exagerado
amor-próprio, é
um conceito
muito alto que
alguém faz de si
mesmo. O
orgulhoso não
suporta ver nada
que lhe seja
superior e é
capaz de
adulterar a
verdade para não
se sentir
inferiorizado; a
vaidade é uma
perigosa doença
das almas
despreparadas
para a realidade
da vida, é um
entrave ao
aperfeiçoamento,
é um estorvo à
evolução
espiritual; a
vaidade
associada à
inveja e ao
orgulho é como
um polvo
traiçoeiro cujos
tentáculos
envolvem,
apertam, abafam
e toldam a
razão. Por
vaidade, orgulho
e incontida
inveja, a cobra
cometeu um
assassinato.
- E o que
acontece a quem
guarda no
coração esses
sentimentos
grosseiros? Vai
para o inferno?
Quis saber a
Sílvia.
- Não. O inferno
e as penas
eternas não
existem. Deus é
justo,
misericordioso e
bom, ama seus
filhos, não os
condena,
dá-lhes, sim,
oportunidades de
renovação.
Jesus, o
governador do
planeta Terra,
asseverou que
nenhuma de suas
ovelhas se
perderá. Esses
irmãos infelizes
que se entregam
à delinquência
passarão séculos
para se
purificarem,
experimentarão
em repetidas
reencarnações
purgatórias as
dolorosas
consequências
dos seus
desregramentos
até que,
depurados e
redimidos,
adquiram luz
própria e possam
alçar voo a
planos melhores.
É a lei.
Guardando
respeitoso
silêncio, a
meninada ouviu a
breve oração de
agradecimento de
Maria Tereza
que, aureolada
por suave luz,
mostrava-se mais
bela e
resplandecente.