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Crônicas e Artigos

Ano 10 - N° 490 - 6 de Novembro de 2016

ROGÉRIO COELHO
rcoelho47@yahoo.com.br
Muriaé, MG (Brasil)

 

 

O vergonhoso e imoral tráfico das indulgências ainda
está vivo!...

Deus não vende a Sua bênção, nem o Seu perdão, nem a
entrada no reino dos Céus

“Dai de graça o que de graça recebestes...”  -   Jesus. (Mt., 10:8.)

 
Atualmente o melhor fundo de investimentos (para as igrejas, claro!) é ainda o velho loteamento do Céu. Isso mesmo!  Continuam “fatiando” o Reino dos Céus!...

O público-alvo da sanha plutocrática dos modernos vendilhões dos templos pode estar em qualquer classe social, desde a mais pobre até a mais rica, mas a argumentação que estimula o “investimento celestial” é sempre a mesma: a conquista de um permanente e exclusivo espaço imobiliário no Céu...  

Não têm faltado ingênuos para serem embaídos pelos espertalhões e, enquanto toda a economia mundial periclita, a indústria das indulgências prospera...

Não é sem razão que Jesus afirmou[1]: “conhecereis a Verdade e a Verdade vos libertará”. Sem embargo, inúmeras seitas, até mesmo as tradicionais (e principalmente estas), continuam apostando na ignorância do povo que sempre gostou de pão e circo e acenam com falácias e engodos que são facilmente aceitos por quem não deseja o conhecimento e tampouco se aprimorar com esforços na reforma íntima. Mais fácil é pagar ou levantar os braços em louvores musicais do que se modificar interiormente, vencendo as limitações do “homem velho”.

Enquanto existirem criaturas que se deixam embair, existirão os embaidores, locupletando-se e regalando-se, que conseguirão sequestrar receitas e prebendas verdadeiramente astronômicas para os seus insaciáveis cofres.

A bem da verdade, quem intenta comprar o Céu com o dinheiro da Terra merece mesmo ser enganado pelos espertíssimos ecônomos infiéis que ainda têm o desplante de distorcer o sentido das palavras de Jesus para atender aos seus inconfessáveis propósitos.  Assim, vão sendo tapeados ricos e pobres!

A última palavra em simonia veio dos Estados Unidos da América do Norte, onde existe uma congregação de freiras católicas que estão se oferecendo em regime de adoção, isto é, qualquer um pode “adotar” (com dólares) uma freira e, em troca, a freira adotada fica na obrigação de “rezar” para o seu padrinho ou madrinha por toda a vida. É um negócio do “outro mundo”, como diz o próprio “folder” da campanha.

Os cofres da congregação, em pouquíssimo tempo, já estavam recheados com a bagatela de quatro milhões e seiscentos mil dólares.

Essa simonia estadunidense é de fazer inveja aos megaempresários evangélicos, aos criativos padres da Idade Média que Lutero combatia e, até mesmo ao próprio Simão que deu origem à palavra “simonia” por tentar comprar os dons do Apóstolo Paulo.

Mal sabem esses escribas e fariseus modernos que “devoram as casas das viúvas”, que receberão condenação mais rigorosa. E, de tanto venderem o Céu, constatarão, depois, que não lhes restou nenhuma pequena porção dele onde pudessem reclinar suas corruptas cabeças.

Vejamos o que o Espiritismo[2] tem a nos dizer a respeito das

Preces pagas

“Precatai-vos dos escribas que, a pretexto de longas preces, devoram as  casas das viúvas.  Essas pessoas receberão condenação mais rigorosa.”  -  Jesus.  (Mt., 23:14.)

“Disse também Jesus: não façais que vos paguem as vossas preces; não façais como os escribas que, a pretexto de longas preces, devoram as casas das viúvas, isto é, abocanham as fortunas.

A prece é ato de caridade, é um arroubo do coração. Cobrar alguém que se dirija a Deus por outrem é transformar-se em intermediário assalariado. A prece, então, fica sendo uma fórmula, cujo comprimento se proporciona à soma que custe. Ora, uma de duas: Deus ou mede ou não mede as suas graças pelo número das palavras. Se estas forem necessárias em grande número, por que dizê-las poucas, ou quase nenhumas, por aquele que não pode pagar? É falta de caridade. Se uma só basta, é inútil dizê-las em excesso. Por que então cobrá-las? É prevaricação!

Deus não vende os benefícios que concede. Como, pois, um que não é, sequer, o distribuidor deles, que não pode garantir a sua obtenção, cobraria um pedido que talvez nenhum resultado produza? Não é possível que Deus subordine um ato de clemência, de bondade ou de justiça, que da Sua misericórdia se solicite, a uma soma em dinheiro. Do contrário, se a soma não fosse paga, ou fosse insuficiente, a justiça, a bondade e a clemência de Deus ficariam em suspenso... A razão, o bom senso e a lógica dizem ser impossível que Deus, a perfeição absoluta, delegue a criaturas imperfeitas o direito de estabelecer preço para a sua justiça.  

A justiça de Deus é como o Sol: existe para todos, para o pobre como para o rico.  Pois que se considera imoral traficar com as graças de um soberano da Terra, poder-se-á ter por lícito o comércio com as do soberano do Universo? 

Ainda outro inconveniente apresentam as preces pagas: é que aquele que as compra se julga, as mais das vezes, dispensado de orar ele próprio, porquanto se considera quite, desde que deu o seu dinheiro. Sabe-se que os Espíritos se sentem tocados pelo fervor de quem por eles se interessa. Qual pode ser o fervor daquele que outorga a outrem o encargo de por ele orar, mediante paga? Qual o fervor desse terceiro, quando delega o seu mandato a outro, este a outro e assim por diante?! Não será isso reduzir a eficácia da prece ao valor de uma moeda em curso? (...) Jesus expulsou do templo os mercadores. Condenou assim o tráfico das coisas santas sob qualquer forma.

Deus não vende a sua bênção, nem o seu perdão, nem a entrada no reino dos Céus. Não tem, pois, o homem, o direito de lhes estipular preço”. 


 

[1] - Jo. 8:32.

[2] - KARDEC, Allan. O Evangelho seg. o Espiritismo. 125. ed. Rio: FEB, 2006, cap. XXVI, item 3.




 


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