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Brasil
Ano 10 - N° 490 - 6 de Novembro de 2016
MARTHA RIOS GUIMARÃES
marthinharg@yahoo.com.br
São Paulo, SP (Brasil)
 

  
 

“Ferramentas do Saber” aborda a Filosofia Espírita

Os conceitos filosóficos existentes
 no Espiritismo dão-nos informações que nos permitem viver de
forma mais segura

 
A USE Regional São Paulo realizou, recentemente, a Oficina “Ferramentas do Saber: Filosofia Espírita”, coordenada por Paulo Castanheira (advogado, formado em letras e integrante do Departamento de Orientação Doutrinária da Regional SP).

Criado para facilitar o estudo da Codificação, considerada por alguns de difícil entendimento, o projeto “Ferramentas do Saber” já ofereceu os módulos “Técnicas para aprimorar leitura e interpretação de texto”, bem como “Elaboração de Palestras”, ambos por esse órgão de unificação.

Segundo Paulo Castanheira, criador do projeto, o enfoque na filosofia é essencial, haja vista que o próprio Codificador sempre se referiu à Doutrina Espírita como Doutrina Filosófica. Comprovando essa afirmação, ele destacou colocações nesse sentido incluídas por Kardec nas obras da Codificação. Vejamos algumas delas: em Prolegômenos, de O Livro dos Espíritos, a afirmação de que “Este livro (...) foi escrito (...) para estabelecer os fundamentos de uma filosofia racional, livre dos prejuízos do espírito de sistema”.

No segundo livro publicado por Kardec, O que é o Espiritismo, podemos ver a afirmativa: “O Espiritismo é, ao mesmo tempo, uma ciência de observação e uma doutrina filosófica. Como ciência prática ele consiste nas relações que se estabelecem entre nós e os Espíritos; como filosofia, compreende todas as consequências morais que resultam dessas mesmas relações”. Já na obra O Livro dos Médiuns, Kardec esclarece que “vem progredindo bastante o Espiritismo, desde alguns anos, mas o seu maior progresso se verifica depois que entrou no rumo filosófico, porque despertou a atenção de pessoas esclarecidas”.

Para Castanheira, “se Kardec se referiu à Doutrina Espírita como Doutrina Filosófica, os espíritas, em especial os que se dedicam a divulgar o Espiritismo, precisam ter conhecimentos básicos sobre o que é e para que serve a filosofia”. 

Participantes do evento

Um dos objetivos da filosofia é pensar de forma crítica todas as áreas do saber 

Entre as muitas definições existentes, podemos dizer que o objetivo da filosofia é pensar de forma crítica toda as áreas do saber e do agir humanos, levando a refletir sobre a realidade e descobrindo seus significados.

Também foi esclarecido que, dentro da filosofia, há o ceticismo (corrente de pensamento que duvida de toda e qualquer possibilidade de se chegar ao verdadeiro conhecimento) e o dogmatismo (não confundir com o dogma religioso, o dogmatismo filosófico afirma que somente com a razão pode-se chegar ao conhecimento verdadeiro). Como sabemos, a Doutrina Espírita segue a segunda opção sendo, por isso, conhecida como “fé raciocinada” – isso, claro, desde que respeitemos a coerência doutrinária.

Considerando que a oficina tem como objetivo facilitar o estudo doutrinário diretamente nas obras codificadas pelo grande professor Rivail, Castanheira demonstrou quais questões contidas em O Livro dos Espíritos pertencem ao campo da filosofia.

A primeira delas abre a série de mais de mil perguntas contidas na monumental obra que deu origem ao Espiritismo, em 18 de abril de 1857: Que é Deus - e não quem é Deus, já que esta última pergunta confere ao Criador uma figura humana, mais precisamente de um ser do sexo masculino. Outras perguntas relacionadas a Deus também são de ordem filosófica, assim como as que tratam do que é o espírito e qual a sua natureza íntima e as que explicam o que é a matéria.

E quem nunca se perguntou um dia sobre a criação do Universo e da alma ou sobre o destino do ser humano após a morte do corpo? Questionamentos de ordem moral, bem ou mal, desigualdade de condições sociais e aptidões, igualdade entre os sexos, justiça e livre-arbítrio são outros temas que compõem o pensamento filosófico espírita, totalmente pautado na razão e no bom senso. 

Muitos espíritas entendem que a parte religiosa do Espiritismo é a mais importante 

A Oficina, obviamente, não foi totalmente expositiva, mas estimulou os participantes a refletir e colocar suas ideias sobre o vasto tema. Sérgio Ramos de Faria elogiou a iniciativa: “o meio espírita precisa falar mais sobre a filosofia contida na Doutrina Espírita, um dos três aspectos que compõem o Espiritismo. Paulo Castanheira foi muito feliz por tornar compreensível um tema que, para muitos, pode ser mais difícil de entender”, opinou o participante, que afirmou tratar-se de um tema muito amplo e, portanto, com necessidade de novas abordagens.

Muitos acreditam que a parte moral/religiosa do Espiritismo seja a mais importante e, ainda, a mais desejada pelo público. Alegam, inclusive, que o público em geral não tem interesse e/ou condições de compreender outros aspectos doutrinários, por serem muito difíceis. Com esse pensamento, sem perceber, acabam por fragmentar o conteúdo doutrinário e, pior, deixam de oferecê-lo em sua plenitude – isso sem contar que julgam a capacidade do próximo, nivelando-a por baixo. Uma pena, já que os conceitos filosóficos existentes na Doutrina Espírita fornecem informações que permitem vivermos de maneira mais completa e segura, por oferecerem respostas racionais sobre dúvidas que costumam acompanhar o ser humano ao longo de sua trajetória. De posse desse conhecimento podemos conduzir nossa existência de maneira mais consciente e plena. Não somos mais coparticipantes, assumimos a responsabilidade para conosco, para com as pessoas que partilham nossa caminhada, para com a sociedade na qual estamos inseridos – e com a qual temos deveres a cumprir.

Foi esse entendimento que os presentes à Oficina puderam captar. “Eu adorei ter participado porque pude entender um pouco mais sobre a importância da filosofia espírita. Espero por mais iniciativas semelhantes”, declarou Liana Mello, uma das presentes à iniciativa. 

 

Nota da autora: 

O material do projeto está disponível no site www.useregionalsp.org.br para quem tiver interesse em conhecê-lo. 



 


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O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita