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Crônicas e Artigos

Ano 10 - N° 491 - 13 de Novembro de 2016

DIAMANTINO LOURENÇO RODRIGUES DE BÁRTOLO
bartolo.profuniv@mail.pt 
Venade - Caminha
,
 Viana do Castelo (Portugal)

 

 

Pedagogia não cognitiva
para as virtudes
 


É óbvio que o saber-fazer é fundamental, imprescindível, à existência humana condigna, essencial à sobrevivência material de cada pessoa, de cada família, de cada instituição, de cada nação. É indiscutível que a Ciência e a Técnica contribuem para a melhoria da qualidade e nível de vida das pessoas. É inegável que sem a evolução do saber-fazer, o mundo não seria o que hoje é, o desenvolvimento não teria ocorrido, pelo menos com a qualidade e quantidade que atualmente se verifica.

Mas o saber-fazer, por si só, não justifica nenhum tipo de supremacia face a outras dimensões e atividades humanas, tais como o Saber-ser, o Saber-estar e o Saber-conviver e relacionar-se com os outros. Pequenos grandes pormenores, para alguns, podem estabelecer a diferença entre uma sociedade composta por pessoas com formação integral e uma sociedade de tecnocratas, de homens-máquinas, de pessoas inumanas. É, portanto, a dimensão axiológica dos valores ético-morais, das atitudes gentis e cordiais que dão sentido à vida de cada um, independentemente do seu estatuto socioprofissional, acadêmico cultural, político e outros.

Pretende-se que esta abordagem seja pacífica, porque é inofensiva nos seus objetivos e estratégias. Deseja-se que se aceite a gratidão sob a perspectiva de uma virtude que pode (e deve) ser cultivada, aperfeiçoada e aplicada ao longo da vida, mas também que é suscetível de ser dinamizada, em quaisquer instituições e em diversas circunstâncias em geral, porém, mais particular e estruturadamente, no seio da família, no grupo de verdadeiros amigos, com a implementação de adequadas e boas práticas no contexto escolar, em domínios como o Desenvolvimento Pessoal e Social, Cidadania e Mundo Atual, Psicologia das Relações Humanas, Comunicação e Relacionamento Interpessoal.

Igualmente, numa invocação mais genérica, em quaisquer outras disciplinas e domínios escolares, em todos os níveis de ensino e formação profissional. Mas estas não são as únicas estratégias e pedagogia cognitiva para estimular e criar boas práticas de gratidão.

Antes, durante e depois da escola está a Família que, não utilizando métodos pedagógicos estritamente cognitivos, recorre (ou deveria fazê-lo), sistematicamente, à transmissão de conhecimentos e boas práticas, pelo exemplo dos seus membros mais velhos e que os mais novos apreendem por imitação.

Pensa-se que esta pedagogia não cognitiva, nem intelectualizada, pode produzir resultados objetivos espantosos, porque a criança, o adolescente e o jovem transportam, desde que tenham participado nas boas práticas da família, todos os valores, direitos, deveres e virtudes que nela vão observando nas pessoas dos seus pais, avós, outros familiares mais idosos e até nos verdadeiros e incondicionais amigos, quando revelam boa formação, princípios, valores e sentimentos nobres.

A virtude da gratidão deve ser uma prerrogativa marcante da família bem estruturada, na personalidade de cada um dos seus membros. Aliás, como deverá acontecer em relação a todo o processo de socialização, em todas as suas vertentes e fases que conduzem à boa e plena integração do indivíduo humano na sociedade.

Gestos tão simples como o marido agradecer à esposa uma pequena atenção, um sorriso terno, confiante e amoroso, um olhar embevecido para o seu companheiro, e vice-versa, constituem motivos suficientes para o outro cônjuge revelar gratidão, desde logo, retribuindo com idêntica espontaneidade, sinceridade e amor. Igualmente, com as devidas adaptações, o mesmo vale entre amigos que, verdadeiramente, se querem muito bem.

Atitudes tão bonitas e simples como dizer ao pai ou à mãe um “muito obrigado” por algo que se recebeu, um gesto mais íntimo e profundo, traduzido num beijo carinhoso, um comportamento que orgulhe o familiar objeto de atenção especial são atitudes que manifestam gratidão, reconhecimento, estima e amor, seja dos filhos para com os pais e/ou destes para com aqueles.

São estas pequenas gentilezas, amabilidades sinceras, genuínas e inesquecíveis que vão criando no espírito da criança, do adolescente, do jovem e do adulto, sentimentos e virtudes que facilitam a harmonia familiar e, mais tarde, as relações sociais na vida pública.

Utiliza-se, frequentemente, a expressão “gratidão eterna”, pretendendo-se significar um agradecimento para toda a vida, porém, não basta utilizá-la uma vez e não a praticar posteriormente, porque, se assim acontecer, entra-se no âmbito da “gratidão de oportunidade”.

Será mais correto, verdadeiro e gratificante, manifestar esse agradecimento ao longo da vida, sempre que as circunstâncias o aconselhem, como, por exemplo, para elogiar a pessoa que é objeto da gratidão de outra, naturalmente, com total honestidade de consciência e prazer em revelar, publicamente, essa gratidão, sem bajulações nem hipocrisias.

Não ofenderá os princípios do gesto gratificante quando o beneficiário de um favor, de uma atenção, de uma atitude de solidariedade, agradecer e manifestar, assim, a sua gratidão, justamente, na mesma medida e natureza do bem recebido, desde que não exista qualquer imposição ou acordo prévio, porque, então, nestas circunstâncias, deixa de ser gratidão para passar a ser uma troca, um pagamento de benefícios, favores ou influências.

A nobreza de tão distinta virtude, princípios, valores e sentimentos, como de outras como tais consideradas: respeitabilidade, humildade, consideração, solidariedade, amizade, lealdade, consiste na sua espontaneidade, sinceridade, sem condições prévias para as expressar, como por exemplo: uma pessoa consegue um emprego para o filho de um seu amigo; este, por sua vez, pode manifestar-lhe gratidão, nos mesmos moldes ou, simplesmente, agradecer-lhe com um presente físico, uma prenda material que entender ser do gosto do amigo, partindo do princípio que não houve, previamente, nenhuma exigência, acordo, pacto ou qualquer outra condicionante, sem a satisfação da qual não haveria a concretização dos benefícios recebidos e desta forma pagos.

Cada pessoa é livre de agradecer, utilizando os recursos e/ou as atitudes que considerar compatíveis e justas com o apoio recebido, sendo certo que, qualquer atitude, ação e/ou comportamento menos corretos, justos e atenciosos, ficam, precisamente, com quem os produz.
 



 


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 Revista Semanal de Divulgação Espírita