DIAMANTINO
LOURENÇO
RODRIGUES DE
BÁRTOLO
bartolo.profuniv@mail.pt
Venade - Caminha, Viana
do Castelo (Portugal)
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Pedagogia não cognitiva
para as virtudes
É óbvio que o
saber-fazer é
fundamental,
imprescindível, à
existência humana
condigna, essencial à
sobrevivência material
de cada pessoa, de cada
família, de cada
instituição, de cada
nação. É indiscutível
que a Ciência e a
Técnica contribuem para
a melhoria da qualidade
e nível de vida das
pessoas. É inegável que
sem a evolução do
saber-fazer, o mundo não
seria o que hoje é, o
desenvolvimento não
teria ocorrido, pelo
menos com a qualidade e
quantidade que
atualmente se verifica.
Mas o saber-fazer, por
si só, não justifica
nenhum tipo de
supremacia face a outras
dimensões e atividades
humanas, tais como o
Saber-ser, o Saber-estar
e o Saber-conviver e
relacionar-se com os
outros. Pequenos grandes
pormenores, para alguns,
podem estabelecer a
diferença entre uma
sociedade composta por
pessoas com formação
integral e uma sociedade
de tecnocratas, de
homens-máquinas, de
pessoas inumanas. É,
portanto, a dimensão
axiológica dos valores
ético-morais, das
atitudes gentis e
cordiais que dão sentido
à vida de cada um,
independentemente do seu
estatuto
socioprofissional,
acadêmico cultural,
político e outros.
Pretende-se que esta
abordagem seja pacífica,
porque é inofensiva nos
seus objetivos e
estratégias. Deseja-se
que se aceite a gratidão
sob a perspectiva de uma
virtude que pode (e
deve) ser cultivada,
aperfeiçoada e aplicada
ao longo da vida, mas
também que é suscetível
de ser dinamizada, em
quaisquer instituições e
em diversas
circunstâncias em geral,
porém, mais particular e
estruturadamente, no
seio da família, no
grupo de verdadeiros
amigos, com a
implementação de
adequadas e boas
práticas no contexto
escolar, em domínios
como o
Desenvolvimento Pessoal
e Social,
Cidadania e Mundo Atual,
Psicologia das
Relações Humanas,
Comunicação e
Relacionamento
Interpessoal.
Igualmente, numa
invocação mais genérica,
em quaisquer outras
disciplinas e domínios
escolares, em todos os
níveis de ensino e
formação profissional.
Mas estas não são as
únicas estratégias e
pedagogia cognitiva para
estimular e criar boas
práticas de gratidão.
Antes, durante e depois
da escola está a Família
que, não utilizando
métodos pedagógicos
estritamente cognitivos,
recorre (ou deveria
fazê-lo),
sistematicamente, à
transmissão de
conhecimentos e boas
práticas, pelo exemplo
dos seus membros mais
velhos e que os mais
novos apreendem por
imitação.
Pensa-se que esta
pedagogia não cognitiva,
nem intelectualizada,
pode produzir resultados
objetivos espantosos,
porque a criança, o
adolescente e o jovem
transportam, desde que
tenham participado nas
boas práticas da
família, todos os
valores, direitos,
deveres e virtudes que
nela vão observando nas
pessoas dos seus pais,
avós, outros familiares
mais idosos e até nos
verdadeiros e
incondicionais amigos,
quando revelam boa
formação, princípios,
valores e sentimentos
nobres.
A virtude da gratidão
deve ser uma
prerrogativa marcante da
família bem estruturada,
na personalidade de cada
um dos seus membros.
Aliás, como deverá
acontecer em relação a
todo o processo de
socialização, em todas
as suas vertentes e
fases que conduzem à boa
e plena integração do
indivíduo humano na
sociedade.
Gestos tão simples como
o marido agradecer à
esposa uma pequena
atenção, um sorriso
terno, confiante e
amoroso, um olhar
embevecido para o seu
companheiro, e
vice-versa, constituem
motivos suficientes para
o outro cônjuge revelar
gratidão, desde logo,
retribuindo com idêntica
espontaneidade,
sinceridade e amor.
Igualmente, com as
devidas adaptações, o
mesmo vale entre amigos
que, verdadeiramente, se
querem muito bem.
Atitudes tão bonitas e
simples como dizer ao
pai ou à mãe um “muito
obrigado” por algo
que se recebeu, um gesto
mais íntimo e profundo,
traduzido num beijo
carinhoso, um
comportamento que
orgulhe o familiar
objeto de atenção
especial são atitudes
que manifestam gratidão,
reconhecimento, estima e
amor, seja dos filhos
para com os pais e/ou
destes para com aqueles.
São estas pequenas
gentilezas, amabilidades
sinceras, genuínas e
inesquecíveis que vão
criando no espírito da
criança, do adolescente,
do jovem e do adulto,
sentimentos e virtudes
que facilitam a harmonia
familiar e, mais tarde,
as relações sociais na
vida pública.
Utiliza-se,
frequentemente, a
expressão “gratidão
eterna”,
pretendendo-se
significar um
agradecimento para toda
a vida, porém, não basta
utilizá-la uma vez e não
a praticar
posteriormente, porque,
se assim acontecer,
entra-se no âmbito da
“gratidão de
oportunidade”.
Será mais correto,
verdadeiro e
gratificante, manifestar
esse agradecimento ao
longo da vida, sempre
que as circunstâncias o
aconselhem, como, por
exemplo, para elogiar a
pessoa que é objeto da
gratidão de outra,
naturalmente, com total
honestidade de
consciência e prazer em
revelar, publicamente,
essa gratidão, sem
bajulações nem
hipocrisias.
Não ofenderá os
princípios do gesto
gratificante quando o
beneficiário de um
favor, de uma atenção,
de uma atitude de
solidariedade, agradecer
e manifestar, assim, a
sua gratidão,
justamente, na mesma
medida e natureza do bem
recebido, desde que não
exista qualquer
imposição ou acordo
prévio, porque, então,
nestas circunstâncias,
deixa de ser gratidão
para passar a ser uma
troca, um pagamento de
benefícios, favores ou
influências.
A nobreza de tão
distinta virtude,
princípios, valores e
sentimentos, como de
outras como tais
consideradas:
respeitabilidade,
humildade, consideração,
solidariedade, amizade,
lealdade, consiste na
sua espontaneidade,
sinceridade, sem
condições prévias para
as expressar, como por
exemplo: uma pessoa
consegue um emprego para
o filho de um seu amigo;
este, por sua vez, pode
manifestar-lhe gratidão,
nos mesmos moldes ou,
simplesmente,
agradecer-lhe com um
presente físico, uma
prenda material que
entender ser do gosto do
amigo, partindo do
princípio que não houve,
previamente, nenhuma
exigência, acordo, pacto
ou qualquer outra
condicionante, sem a
satisfação da qual não
haveria a concretização
dos benefícios recebidos
e desta forma pagos.
Cada pessoa é livre de
agradecer, utilizando os
recursos e/ou as
atitudes que considerar
compatíveis e justas com
o apoio recebido, sendo
certo que, qualquer
atitude, ação e/ou
comportamento menos
corretos, justos e
atenciosos, ficam,
precisamente, com quem
os produz.