Reflexões espíritas:
“Graças a Deus!”
Há tempos tenho pensado
em quanto carregamos
conosco a herança de
nossas crenças antigas.
Escrevo isso porque não
é raro ouvirmos a
expressão do título
acima quando grandes
males são evitados,
quando um acidente não
provoca vítimas fatais,
quando uma criança nasce
organicamente perfeita,
e assim por diante. No
entanto, como espíritas,
estaria correta essa
maneira de nos
expressarmos? Pensemos
um pouco, a doutrina nos
ensina que em tudo está
a presença de Deus: no
nascimento e na
desencarnação, na vida
física e na vida
espiritual. Ou seja,
“Para Deus não existe a
morte”, disse-nos um dia
um grande trabalhador da
seara espírita,
concluindo com a
seguinte colocação:
“Onde quer que
estejamos, estaremos
vivos e nosso Pai sabe
onde será o melhor lugar
para nós”.
Então, talvez devêssemos
analisar essa questão
por outro ângulo:
Estarmos abençoados com
a graça de Deus ou não
estarmos, o que
significaria estarmos
sem a graça d’Ele, ou,
como se diz
popularmente, sermos
desgraçados. Daí surge
outra questão, o que
entendemos por um ser
desgraçado? Segundo
alguns dicionários, um
miserável, um coitado...
E é aí que se encontra a
falta da visão
doutrinária. Quando
vemos um mendigo na rua,
poderemos julgá-lo como
alguém abandonado pela
graça do Pai, o que não
é verdade. É um Espírito
encarnado, vivendo seu
livre-arbítrio ou
colhendo as
consequências de débitos
passados. E se está
passando por essa prova
ou expiação, é porque a
misericórdia divina
está-lhe concedendo uma
nova oportunidade de se
redimir e voltar um dia
para a casa do Pai como
um bom filho pródigo.
O que falar então das
mortes trágicas? Diz-nos
a doutrina que o gênero
de nossa morte está
intimamente ligado às
necessidades evolutivas
de cada um. Lembremos o
caso de Publius Lentulus,
na Roma antiga, que vê
seus dias terminarem sob
as lavas de um vulcão, o
Vesúvio, que encobre
toda a pequena cidade de
Pompeia, onde os nobres
costumavam passar suas
férias ou licenças, a
pouco mais de 20 km de
Nápoles. Aquela
tragédia, que ceifou
dezenas de vidas, não
impediu que Publius
retornasse um dia aos
palcos da vida, na
personalidade sadia do
padre Manoel da Nóbrega,
e que viria a se tornar
mais tarde o grande
Espírito Emmanuel, guia
espiritual de Chico
Xavier.
Concluindo, a tragédia
de Pompeia estava sob o
olhar clemente de Deus.
Se não podemos dizer que
aquilo aconteceu “Graças
a Deus!”, podemos dizer
que aconteceu com o
consentimento divino, e
que nosso amoroso Pai
nunca deixou de estar
presente nos momentos
mais difíceis de seus
filhos.
Confiemos sempre na
presença de Deus em
todos os momentos de
nossas vidas.