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Crônicas e Artigos

Ano 10 - N° 492 - 20 de Novembro de 2016

ROGÉRIO MIGUEZ
rogmig55@gmail.com
São José dos Campos, SP (Brasil)

 


Progredir sempre, tal é a lei


Após a transformação do princípio espiritual ou inteligente, em uma unidade chamada Espírito, que somos nós mesmos, dá-se prosseguimento a uma trajetória ininterrupta de evolução rumo à perfeição possível de ser alcançada dentro dos planos da Criação Divina.

Há dois grandes campos de aprimoramento a serem trilhados por todos nós: o moral e o intelectual. Todavia, este progresso nem sempre ocorre proporcionalmente, em paralelo, determinando um desequilíbrio nestes setores, em geral, por longo tempo.

Na época da simplicidade e ignorância, ou seja, nos primórdios de nossa existência, Deus supriu, através de sua bondade e sabedoria, apoio continuado por meio dos anjos guardiões, porquanto, ainda não sabíamos nos conduzir e de modo que pudéssemos ir experimentando a vida e adquirindo pouco a pouco condições de nos gerirmos pelo uso do nosso próprio livre-arbítrio, antes inexistente.

No livro primeiro do Pentateuco Doutrinário1 há esta interessante informação sobre este progresso, entre outras:

785. Qual o maior obstáculo ao progresso?

“O orgulho e o egoísmo. Refiro-me ao progresso moral, porquanto o intelectual se efetua sempre. [...]”

Como se observa, é da vontade do Pai existir sempre a evolução, pode não acontecer simultaneamente nos dois campos, mas o intelectual ocorre sempre. E por qual razão isto se dá? Devido ao fato de que quando reencarnamos mais uma vez, o mundo já mudou ou mudará, já evoluiu um tanto mais e, mesmo se durante esta outra vida não ocorrer nenhum progresso moral, devido ao nosso orgulho e egoísmo, a própria condição do mundo, com novas conquistas técnicas e científicas, obriga o reencarnante a aprender estas outras tecnologias, e, neste processo de aprendizado, acontece o progresso intelectual inexoravelmente.

É de se notar, no lado moral, existir a possibilidade de não haver progresso em uma existência, sendo assim, acontece o estacionamento, contudo, provisório e temporário, enquanto o Espírito não se decidir a retomar novamente as rédeas da própria vida e acelerar o passo no aspecto da moralidade.

A possibilidade de estacionamento prevista na ordem celeste é uma condição de exceção, porquanto, caso o Espírito não se decida a retomar a sua evolução moral, as leis celestiais o obrigarão, providenciando primeiro a reencarnação compulsória do Espírito calceta, e, pelo próprio ritmo da existência, com novas situações se apresentando, este será obrigado a de novo progredir moralmente, pois a dor o incomodará e será o aguilhão e estímulo inevitável nesta retomada do progresso.

Alguns, embora entendam a possibilidade do estacionamento, aceitam ainda a regressão na escala evolutiva, ou seja, a possibilidade de regredir moralmente a um estágio anteriormente já trilhado. Esta corrente de pensadores, geralmente, está mais ligada à linha de pensamento das filosofias orientais, através da famosa tese da Metempsicose, abordada por Allan Kardec no texto a seguir (op. cit.):

611. O terem os seres vivos uma origem comum no princípio inteligente não é a consagração da doutrina da metempsicose?

“Duas coisas podem ter a mesma origem e absolutamente não se assemelharem mais tarde. Quem reconheceria a árvore, com suas folhas, flores e frutos, no gérmen informe que se contém na semente donde ela surge? Desde que o princípio inteligente atinge o grau necessário para ser Espírito e entrar no período da humanização, já não guarda relação com o seu estado primitivo e já não é a alma dos animais,  como a árvore já não é a semente [...].”

Há um encadeamento na Criação entre todas as coisas sendo este processo de evolução muito bem caracterizado, indicando tudo ser solidário. Entretanto, pelo fato da existência deste entrelaçamento, não indica que possamos retornar às origens, conforme asseveram os Espíritos nesta outra questão (op. cit.):

612. Poderia encarnar num animal o Espírito que animou o corpo de um homem?

“Isso seria retrogradar e o Espírito não retrograda. O rio não remonta à sua nascente.”

Vê-se claramente no texto a informação de que se o rio não remonta à sua nascente, indica que lá já esteve, mas isto não implica na possibilidade de voltar à origem, assim, a metempsicose como entendida por alguns não se sustenta do ponto de vista espírita.

Allan Kardec ainda no compêndio magistral da Doutrina, O Livro dos Espíritos, comenta sobre a metempsicose confirmando a impossibilidade da existência desta doutrina retrógada (op. cit.):

222. Não é novo, dizem alguns, o dogma da reencarnação; ressuscitaram-no da doutrina de Pitágoras. Nunca dissemos ser de invenção moderna a Doutrina Espírita. Constituindo uma lei da Natureza, o Espiritismo há de ter existido desde a origem dos tempos e sempre nos esforçamos por demonstrar que dele se descobrem sinais na antiguidade mais remota. Pitágoras, como se sabe, não foi o autor do sistema da metempsicose; ele o colheu dos filósofos indianos e dos egípcios, que o tinham desde tempos imemoriais. [...] Contudo, entre a metempsicose dos antigos e a moderna doutrina da reencarnação, há, como também se sabe, profunda diferença, assinalada pelo fato de os Espíritos rejeitarem, de maneira absoluta, a transmigração da alma do homem para os animais e reciprocamente.

É interessante notar Allan Kardec negando a teoria da metempsicose como a entendem alguns antes de ter registrado, mais à frente, as perguntas 611 e 612, específicas sobre o tema.

Para ajudar no entendimento deste processo evolutivo, imaginemos a existência de instrumentos de medição de virtudes (moral) e do intelecto: o “Virtuômetro” e o “Intelectômetro”. Imediatamente ao renascer um Espírito, suponhamos fosse medido o seu grau de moralidade e de intelectualidade em uma escala de zero a cem. Imaginemos este Espírito indicando o valor 10, a título de exemplo, em paciência e 15 em inteligência, talvez valores bem típicos em um mundo como o nosso. Ao sair da Terra, desencarnando, tomadas novamente as medições, este Espírito poderia apresentar leituras pelos instrumentos de 10 ou mais de 10, na virtude paciência, e certamente mais de 15 em inteligência, ou seja, em moral pode-se estacionar, mas não em inteligência. E mais, não poderia acusar jamais leitura abaixo de 10 em paciência, tampouco mesmo de 15 em inteligência, isto significaria retroceder em qualquer dos dois campos.

Como se conclui, na trajetória evolutiva de qualquer Espírito, é possível estacionar do ponto de vista moral, mas jamais no campo da ciência, por isso, observa-se no mundo atual este desequilíbrio extremamente acentuado entre as duas asas do progresso, na conduta dos habitantes: moral e inteligência. Muitos Espíritos aqui reunidos se desenvolveram bastante intelectualmente, entretanto, a asa da moral não está bem construída, determinando que se assista esta multidão de pecados e incontáveis fatos degradantes no seio desta humanidade. Dizemos desta humanidade, pois há “zilhões” de Espíritos na fase hominal povoando os incontáveis mundos do Universo. No planeta Terra se encontra uma ínfima parcela destes Espíritos, aqui reunidos devido às suas particulares afinidades.

Cabe destacar a magnanimidade de Deus, o Seu infinito amor pela criação, impedindo, pelo funcionamento natural de Suas leis, a possibilidade de retroagirmos, recomeçando ou conquistando de novo o que foi adquirido a duras penas em vidas passadas. Esta mecânica das normas divinas nos traz imensa tranquilidade e esperança em um mundo melhor, em razão de sabermos, termos a certeza: Jamais regrediremos, muito menos estacionaremos eternamente!
 

Referências:

1 KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. Trad. Guillon Ribeiro. 69. ed. Rio de Janeiro: FEB Editora, 1987. q. 785.




 


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