CLÁUDIO BUENO DA
SILVA
Klardec1857@yahoo.com.br
Osasco, SP
(Brasil)
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Álbum de
família
Em meio às fotos que
revejo, encontro uma de
que não me lembrava.
Alice aparece no canto
direito, em pose bem
natural, sorrindo como
sempre. Há várias
pessoas no retrato, mas
nada chama tanto a
atenção quanto a figura
expressiva de Alice.
Curioso como ela
conseguia catalisar a
estima de todos, sem
esforço, já no primeiro
contato! Sua beleza
física era comum, a alma
é que era bonita. Há
pessoas assim, bonitas
por dentro – como se
diz; têm qualidades, mas
não as impõem e todos
querem estar perto
delas. Mas não são tão
comuns...
Fixo mais o olhar, olho
bem para Alice, fico
admirando, sinto
saudade. A dor seria
maior se eu não soubesse
que ela nos espera onde
está, com certeza,
feliz.
Poxa! Alice partiu cedo,
ninguém esperava por
isso. E quando me lembro
dos lances finais da sua
estada aqui, tenho a
impressão de que ela
intuía algo, assim como
quem sabe que precisa
fazer uma viagem.
Muitos não compreendem
como se pode partir
assim tão cedo, sem
concretizar os planos,
sem realizar os sonhos
comuns a todas as
pessoas. Externam certa
insatisfação, até uma
revolta mesmo, contra o
destino. Mas o tempo vai
diluindo essa
incompreensão e acabam
dobrando-se à vontade de
Deus. A própria Alice –
lembro-me perfeitamente
da sua partida –
mostrava um semblante
tão sereno, tão
convincente que, tenho
certeza, não concordaria
com qualquer sentimento
de inconformação.
Alice tinha bem o perfil
da pessoa moralmente
adiantada. As injustiças
a faziam sofrer e
afirmava que o pior dos
deslizes morais é a
ingratidão para com
Deus. Ouvi-a dizer, mais
de uma vez, que Deus faz
tudo certo e que não
devemos dar margem a
dúvidas quanto às
Soberanas Decisões. Dava
tão pouca importância às
coisas materiais que
chegava a confundir
mesmo os que a adoravam.
Alice tinha convicções
pouco habituais à
maioria e talvez
estivesse aí o que lhe
dava encanto espiritual.
Entender e argumentar
que a vida continua após
a morte, que há relações
de causa e efeito
interagindo nas
múltiplas existências
que se tem, convenhamos,
não é pensamento
frequente entre jovens.
Alice pensava assim, e
as pessoas riam sem
maldade quando ela
falava sobre esses
assuntos. E ela ria, por
sua vez, não querendo
impor aos outros as
próprias certezas. E
ninguém se zangava com
ninguém, porque não
havia como não querê-la
bem, e dela também não
partiria qualquer
afronta.
Abro os olhos úmidos e
volto a fixar a
fotografia. Alice lá
estava, sem saber que
ali se despedia. Por
certo, devia compreender
por que pessoas partem
tão cedo do nosso
convívio, machucando
tanto. Provavelmente tem
a ver com a Lei de Ação
e Reação, sobre a qual
sempre falava.
Alice deixou saudade.
Olho a foto mais uma vez
e, em meio a tantas
pessoas, vejo-a como se
estivesse só, rindo,
rindo tão confiante!