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Clássicos do Espiritismo
Ano 10 - N° 495 - 11 de Dezembro de 2016
ANGÉLICA REIS
a_reis_imortal@yahoo.com.br
Londrina, Paraná (Brasil)
 

 

Comunicações mediúnicas entre vivos

 Ernesto Bozzano

 (Parte 5) 

Continuamos o estudo do livro Comunicações mediúnicas entre vivos, de autoria de Ernesto Bozzano, traduzido para o idioma português por J. Herculano Pires. 

Questões preliminares  

A. Nas comunicações mediúnicas pode ocorrer interrupção e, em seguida, a intromissão na comunicação de outra personalidade espiritual? 

Pode. Segundo Bozzano, nas comunicações mediúnicas com os mortos, encontram-se frequentemente interrupções análogas com intromissão de outras personalidades espirituais. Nas experiências com a famosa médium Sra. Piper encontram-se numerosos e notáveis exemplos disso. (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo A) 

B. Qual seria o motivo de tais incidentes durante a comunicação mediúnica?    

Bozzano trata disso citando apenas o que ocorria com a mediunidade da Sra. Piper, em que os incidentes de tal natureza tinham quase sempre a seguinte origem: Quando os “espíritos-guias” da médium verificavam que a personalidade comunicante estava perdendo o controle sobre a comunicação e, em consequência, passava a divagar, eles intervinham para ratificar as palavras ou para dar explicações aos experimentadores ou, ainda, para anunciar-lhes que a personalidade devia retirar-se porque precisava de repouso. (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo A) 

C. No caso relatado pela escritora Annete Boneschi-Coccoli e publicado na revista Luce e Ombra, a entidade comunicante estava viva?  

Sim. Era um rapaz de 36 anos que na hora de sua manifestação estava mergulhado no sono habitual, depois da refeição em família. Seu “duplo” viajou de Palermo a Florença, onde ocorreu a comunicação descrita por Bozzano neste livro. (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo A) 

 

Texto para leitura 


64. No episódio descrito, Bozzano destaca o fato de ter o médium interrompido bruscamente, no meio de uma palavra, a mensagem espírita que estava recebendo, para começar outra, de uma entidade viva. Segundo ele, nas comunicações mediúnicas com os mortos, encontram-se frequentemente interrupções análogas com intromissão de outras personalidades espirituais. Também nas experiências com a médium Piper encontram-se numerosos e notáveis exemplos, que contudo diferem de certo modo do precedente, na modalidade com que se apresentam, o que, porém, não muda os termos utilizáveis do confronto para a análise comparada dos fatos. (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo A) 

65. Com a mediunidade da Sra. Piper, os incidentes de tal natureza têm quase sempre a seguinte origem: Quando os “espíritos-guias” da médium verificam que a personalidade comunicante está perdendo o controle sobre a mesma e, em consequência, divaga, então intervêm para ratificar as palavras ou para dar explicações aos experimentadores ou, ainda, para anunciar-lhes que a personalidade deve retirar-se porque precisa de repouso. (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo A) 

66. Eis um exemplo desse gênero, que o autor extraiu da relação do Prof. Oliver Lodge nas sessões com a médium em questão (Proceedings of S. P. R. – Vol. XXIII, pág. 168):

O comunicante era um tal Isaac Thompson, falecido há pouco e, embora as suas manifestações constituam um dos melhores casos de identificação espírita obtidos com a Sra. Piper, no princípio ele parecia um tanto confuso, circunstância esta que não deve surpreender e que constitui a regra em semelhantes experiências. Tal é devido à dificuldade, muitas vezes invencível, de pensar com um cérebro alheio, de sintonizar as vibrações psíquicas especializadas de uma individualidade pensante desencarnada com as vibrações psíquicas também especializadas e, em consequência, diversas, de um cérebro a ela estranho. Em dado momento, a personalidade mediúnica de Isaac Thompson respondeu, nos seguintes termos, a uma pergunta que lhe foi dirigida pelo Dr. Hodgson:

– Sim, compreendo. Eu exercia uma profissão que se chama... não sei... havia drogas (ele fora farmacêutico).

Neste ponto foi a mensagem interrompida bruscamente, sendo ditada a seguinte frase pelo espírito-guia “Rector”:

– Estou fazendo os meus melhores esforços para ajudá-lo.

À qual se seguiu esta outra observação, já do espírito “Imperator”:

– Ele tem necessidade de repouso.

No entanto, o Dr. Hodgson, dirigindo-se novamente ao comunicante Isaac Thompson, pediu:

– Estimaria muito se quisesses dar-me uma mensagem para eu encaminhar à tua família.

Em lugar do comunicante, respondeu “Rector”, que observou:

– Ele voltará daqui a pouco, pois no momento mandei que se retirasse.

Note-se que as duas primeiras frases, proferidas pelos espíritos “Rector” e “Imperator”, absolutamente não se dirigiam ao Dr. Hodgson e sim representam um diálogo no Além entre esses dois espíritos, diálogos que, por interferência provocada pela perda de controle do espírito comunicante, foi interceptada e reproduzida automaticamente pela mão do médium. Só a última resposta (representando a decisão tomada pelo espírito-guia em seguida às observações trocadas no breve diálogo referido) é endereçada ao Dr. Hodgson. (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo A)

 

67. Tais formas sugestivas de diálogos no Além, por interferência telepática, pela mão do médium, são numerosíssimas nas sessões com a Sra. Piper, bem como nas sessões com a Sra. Thompson, Sra. Holland e com a Sra. Verall, e a espontaneidade dramática com que surgem e se desenvolvem confere-lhes uma evidência probante irresistível no sentido de sua origem espírita. Entretanto, pela sua própria natureza, não é cientificamente possível demonstrar-lhe a origem e é por isso que, quando análogas interrupções e diálogos se verificam pela intervenção de personalidades de vivos, fornecem boas provas indiretas em favor da genuinidade espírita. (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo A) 

68. Quando se trata de comunicantes ainda vivos, podem-se fazer indagações, adquirindo-se certeza sobre a natureza positivamente verídica de tais bruscas mudanças de interlocutores mediúnicos. Daí a inevitável inferência que, se assim é quanto às manifestações dos vivos, dever-se-ia concluir no mesmo sentido, também para a manifestação de mortos. (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo A) 

69. Quer isto dizer que, em circunstâncias análogas de intervenções bruscas de entidades espirituais estranhas à comunicação em curso, dever-se-ia presumir que tais entidades, por sua vez, sejam genuinamente espíritas, e isso toda vez que haja provas colaterais adequadas em favor da identidade pessoal do morto comunicante naquele momento. (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo A) 

70. Assim, por exemplo, deveriam ser consideradas genuinamente espíritas as personalidades mediúnicas que, no episódio exposto, se manifestaram de permeio com o espírito comunicante de Isaac Thompson, pois que, se este último chegou a provar a sua própria identidade pessoal, fornecendo grande cópia de informações a respeito de sua existência terrena, tal fato deveria converter-se em uma boa prova colateral, prova que atesta a pureza também espírita das personalidades mediúnicas que se manifestaram com o espírito comunicante a fim de ajudá-lo na difícil tarefa de comunicar-se com os vivos. E, ao contrário, segundo a opinião de alguns eminentes psiquistas, tais personalidades deveriam ser consideradas puramente sonambúlicas e efêmeras. (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo A) 

71. Ocorre que, se assim fosse, então as formas de diálogo ficariam inexplicáveis. De fato, por que, no meio de uma comunicação mediúnica, deveriam inserir-se trechos de diálogos que indubitavelmente representam uma conversa entre personalidades estranhas à comunicação em curso, embora notadamente interessadas no desenvolvimento das mensagens? Nada semelhante a isto jamais ocorre em experiências de personificação hipnótica. E, por outro lado, os diálogos de tal natureza são explicáveis pela hipótese espírita e até se convertem em admirável e inesperada prova da própria hipótese. De qualquer forma, o argumento é complexo e reclamaria longo desenvolvimento do tema para esclarecer tal ponto de vista, mas não é aqui o lugar próprio para empreendê-lo, de sorte que as observações expostas devem ser consideradas como uma simples nota de passagem, a fim de ilustrar os fatos e as possibilidades de interpretá-los. (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo A) 

72. Caso 5 – Extraído da revista Luce e Ombra (1916, pág. 40). A distinta escritora Annete Boneschi-Coccoli escreve, nos seguintes termos, ao diretor dessa revista:

 

“Já decorreram vários anos desde o tempo em que realizávamos pequenas sessões espíritas, íntimas e familiares, em casa de nosso amigo, contador Enrico F., com um restrito grupo de amigos e os membros componentes daquela boa e simpática família. Foi naquelas reuniões que pude me iniciar na mediunidade, depois desenvolvida com indizível prazer e bom resultado para mim.

Mas então o médium consciencioso, e direi também ingênuo, era o próprio chefe da família, auxiliado pela sua filha, Srta. Giulia, uma intelectual no sentido mais honroso da palavra. Havia ela publicado um livro premiado pelo Ministério, escrevia novelas para as revistas e fazia desenhos em que a argúcia fina e socialmente crítica se casava com o brilho da fala toscana, mas o seu interesse pelas sessões mediúnicas era pelo processo cômodo da tiptologia e, também, quando o grupo não estava reunido, fazia ela escrever o seu fácil instrumento com a progenitora ou outra pessoa que acaso estivesse presente.

Certo dia, às primeiras horas da tarde, quando na boa estação se costuma repousar, a Srta. Giulia sentou-se à mesa com sua mãe e uma prima, hóspede eventual que, a falar a verdade, pouco acreditava naquilo; porém, quando o aparelho, com a linguagem convencionada, começou a escrever e a médium lhe perguntou quem era o espírito presente, recebeu esta resposta:

– Sou um teu prisioneiro... enamorado!

– Olá. – respondeu a Srta. Giulia, rindo de tal declaração inesperada – Não quero namorados do outro mundo.

– Eu não morri. Sou um homem de carne e osso.

– Sendo assim, dize-me quem és e onde moras.

Então o gentil comunicante disse que seu nome era Gio...

Aí foi interrompido por Giulia, que lhe disse:

– Está bem, Giovanni. Qual é a tua profissão?

– Sou engenheiro, nascido e residente na Sicília. Li uma novela tua na bela revista florentina La Scena Illustrata e admirei-lhe tanto o conteúdo, que tenho vontade de conhecer-te. Enquanto espero, já te dediquei alguns versos. Ei-los.

E nesse ponto o longínquo comunicante recitou uns versos amorosos e concluiu:

– Dentro de alguns dias receberás uma carta minha.

Este curioso caso me foi narrado na mesma tarde pela protagonista e eu presumo que tenha despertado alegres comentários, como por exemplo: “Bravo, noivinha! Noivo engenheiro invisível e, além de tudo, poeta!”

E assim divertia-se meio-mundo com aquele espírito zombeteiro, como tantos outros que se manifestam em comunicações pouco sérias. Depois não se falou mais no caso. Certa vez, decorridos não me recordo quantos dias, Giulia F. apareceu em minha casa. Sempre muito corada, pareceu-me congestionada naquele dia.

– Que houve? – perguntei-lhe.

– Olhe. – respondeu-me, ao mesmo tempo em que me mostrava uma folha de papel que trazia na mão. – Esta carta me foi enviada pela redação da Scena Illustrata, porque a pessoa que me escreveu não conhecia o meu endereço e a mandou para lá, pedindo com insistência que me fosse encaminhada.

– Mas, de quem é?

– Dele. Do espírito do siciliano.

Compreende-se que fiquei petrificado. Na carta estava repetido tudo o que antes havíamos sabido pela tiptologia e finalizava, não pela assinatura de Giovanni, mas de Giovacchino G. F. Se a médium não tivesse interrompido as pancadas, estaria certo o prenome. Lá se achava a poesia, idêntica em todas as particularidades e, por fim, a idade de 36 anos.

Devíamos, pois, saber se realmente ele morava onde dizia e se todos os dados fornecidos eram verdadeiros. Por felicidade, Giulia tinha uma parente naquela cidade e dirigiu-se a ela para obter esclarecimentos.

Tudo combinava: somente uma ducha fria diminuiu o entusiasmo, pois o engenheiro poeta era... casado, mas separado da mulher. O estranho caso não podia terminar assim. Devia-se ir até o fim, para sua documentação científica, e a jovem resolveu responder a carta do seu ardente admirador, revelando-lhe a maneira estranha pela qual tivera conhecimento antecipado dos seus sentimentos e da poesia a ela dedicada.

Pertencente à religião evangélica, pois era filho de pai anglo-saxão, ele absolutamente não acreditava nas comunicações espíritas, nem na possibilidade do desdobramento espiritual. Contudo, deve ter ficado um tanto abalado, pois o rapaz anunciou a sua breve chegada a Florença. Daí o espanto, a curiosidade e um pouco de desânimo também.

– Que vou fazer com esse casado? – gracejava a brilhante escritora.

Mas o pior é que a família não o quis receber e foi necessário que uma amiga piedosa... e curiosa por saber até que ponto chegaria a audácia desse espírito vivo, acolhesse o pedido da médium em ser-lhe apresentada. E assim as coisas correram do melhor modo possível (se bem que não em perfeita regra), em vista dessa circunstância especialíssima.

Era um moreno simpático, um tanto baixo e gracioso, com grandes olhos meridionais e magnífica voz de barítono, educado e eloquente. Aplaudido conferencista, falava sempre nos comícios agrários, tinha modos distintos e era insinuante, de modo que recomendei a Giulia que tivesse cuidado, pois era um homem fascinante.

Certamente, interessado como estava, ele se havia manifestado um tanto lisonjeiro para com a escritora. Narrou as suas desventuras domésticas, as consequências de uma infeliz ligação, os seus afetos de família, a adoração que tinha por sua querida mãe e uma irmãzinha única. Em suma, dentro de poucos dias eram bons e cordiais amigos, mas ele não queria acreditar em coisas que encontrava dificuldade em conceber. Era muito mais cético do que São Tomé, que pelo menos acreditou com uma prova tangível.

Regressou à sua cidade e voltou nos anos seguintes. Escrevia-nos frequentemente sobre assuntos de arte para publicações poéticas e a autora deste relato sempre achou nele um perfeito cavalheiro, de temperamento expansivo e gracioso, preocupado com tudo, menos com a Psicologia. Sensitivo e nervoso, talvez nevropata devido aos dissabores sofridos, teria sido e talvez venha a ser um bom médium.

Ficamos sabendo que, na hora de sua manifestação à escritora, estava mergulhado no sono habitual, depois da refeição em família. Assim, o seu “duplo” viajou de Palermo a Florença. Em suas relações com Giulia teve de contentar-se com alguns passeiozinhos: um simples flerte peripatético, continuando ambos a corresponder-se de vez em quando, sem mais galanteria ou madrigais, como dois bons camaradas nos domínios da Arte.” (Ass. Annete Boneschi-Coccoli). (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo A) (Continua no próximo número.) 



 


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 Revista Semanal de Divulgação Espírita