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Clássicos do Espiritismo
Ano 10 - N° 499 - 15 de Janeiro de 2017
ANGÉLICA REIS
a_reis_imortal@yahoo.com.br
Londrina, Paraná (Brasil)
 

 

Comunicações mediúnicas entre vivos

 Ernesto Bozzano

 (Parte 9) 

Continuamos o estudo do livro Comunicações mediúnicas entre vivos, de autoria de Ernesto Bozzano, traduzido para o idioma português por J. Herculano Pires. 

Questões preliminares  

A. Segundo Bozzano, as comunicações mediúnicas entre vivos são condicionadas, ou seja, dependem de certas condições. A que condições ele se refere?  

Diz Bozzano que essas comunicações, da mesma forma que as comunicações telepáticas e clarividentes, são condicionadas, isto é, limitadas pela necessidade imprescindível da “relação psíquica”, que não pode ser estabelecida senão com pessoas vinculadas ao médium ou aos presentes por profundos sentimentos afetivos e, em circunstâncias especiais, também por simples laços de parentesco, de amizade ou de conhecimento, nunca, porém, com pessoas totalmente desconhecidas do médium e dos presentes. (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo C) 

B. Nas comunicações entre vivos realizadas por iniciativa do médium, qual é a hipótese explicativa mais aceitável?  

Duas são as hipóteses: a primeira parte da premissa de que o médium representa a parte ativa do agente inquiridor, e a pessoa ausente a parte passiva do indivíduo inquirido em cada um dos mais recônditos recessos de suas reservas mediúnicas. A segunda hipótese consiste em pressupor que o médium obtém os informes verídicos que refere, em virtude de uma espécie de conversação espiritual iniciada entre sua personalidade integral subconsciente e a personalidade integral subconsciente do indivíduo ausente. Esta hipótese foi proposta pelo Prof. Hyslop e confirmada pela modalidade de realização normal dos episódios em exame. (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo C) 

C. Conforme relatos feitos pelo médium Vincent Turvey, é o sensitivo que se desloca e vai até o local onde o outro indivíduo se encontra. É assim que devemos entender os fatos?  

Sim; é isso mesmo que Vincent Turvey relatou em seu livro The beginnings of seership. Bozzano transcreve nesta obra um trecho em que o médium relata suas impressões durante a translação espiritual pelo espaço e a permanência nos ambientes visados. Escreve ele: “Quando o meu espírito abandona temporariamente o corpo, parece-me voar através do espaço com uma rapidez vertiginosa, que torna indistinta e confusa a paisagem sobre a qual eu passo”. “Quando atinjo a meta, digamos que esta seja a casa do Sr. Brown em Bedford, sou capaz de perceber não somente a sala em que ele se acha, como posso também andar pelos cômodos, observar a mobília dos quartos, distinguir o que está nas cantoneiras, apalpar as cortinas e ver que são de veludo, mover uma cama ou mesa, descobrir um escapamento de gás, diagnosticar moléstias, saber dos negócios do Sr. Brown, etc.” (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo C) 

Texto para leitura 

113. Mensagens obtidas por vontade expressa do médium – Os casos pertencentes a esta categoria se revestem de grande valor teórico, ao passo que a maneira de interpretá-los reflete a sua influência sobre o modo de analisar a classe mais importante dos casos de identificação espírita: a identificação baseada nos informes fornecidos pelos mortos, em torno de sua existência terrena. (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo C) 

114. Tal influência deriva do fato de que as comunicações mediúnicas entre vivos, quando obtidas por expressa vontade do médium, fornecem um aparente princípio de confirmação da hipótese pela qual a gênese dos informes verídicos de tal natureza se explica pressupondo que as faculdades supranormais do médium conseguem obtê-las na subconsciência dos vivos que tenham conhecido o morto que se afirma presente (telemnesia). (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo C) 

115. Convém, no entanto, observar, a propósito, que se se quiser chegar a explicar os fatos por meio de semelhante hipótese, devem ser feitas as seguintes concessões: em primeiro lugar, urge conceder às faculdades supranormais dos médiuns a potencialidade de poderem manifestar-se sem limites de tempo, de espaço e de condições, ou, em outros termos, deve-se conferir à subconsciência humana a onisciência divina. (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo C) 

116. Em segundo lugar, deve-se conceder mais: que com as mesmas faculdades, uma vez descoberta em algum ângulo do mundo a subconsciência depositária dos informes desejados, se consiga selecionar recordações latentes em que jazem sepultados os ditos informes, e isto de modo tão perfeito que retirassem somente os que se referissem ao pretenso morto comunicante, sem jamais cair em falta, sem nunca tropeçar em algum pequeno incidente ocorrido a outro que não seja o morto. Também esse atributo de nunca se enganar é reservado à onisciência divina. (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo C) 

117. Em terceiro lugar, conceder tudo isto equivaleria a admitir que um acontecimento maravilhoso como o que ora examinamos, devido ao exercício de faculdades espirituais elevadas e nobres, tenha como fim insulso e único a manipulação de falsas personalidades de mortos para mistificação do próximo. (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo C) 

118. São estas concessões que teriam de ser feitas à hipótese em apreço, quando se quisesse explicar os casos de identificação pessoal dos mortos sem recorrer à interpretação espírita. Não duvido de que os leitores concordem comigo, achando um tanto excessivas tais concessões. De qualquer modo, apresso-me a repetir que os casos pertencentes ao presente subgrupo fornecem apenas um princípio indicador de confirmação favorável a tal hipótese, e nada mais. (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo C) 

119. Na verdade, a circunstância essencial em tal ordem de pesquisa, e que é sistematicamente esquecida pelos propugnadores da onisciência subconsciente, consiste em que as comunicações mediúnicas entre vivos, da mesma forma que as comunicações telepáticas e clarividentes, são condicionadas, isto é, limitadas pela necessidade imprescindível da “relação psíquica”, que não pode ser estabelecida senão com pessoas vinculadas ao médium ou aos presentes por profundos sentimentos afetivos e, em circunstâncias especiais, também por simples laços de parentesco, de amizade ou de conhecimento, nunca, porém, com pessoas totalmente desconhecidas do médium e dos presentes. (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo C) 

120. Ora, como tal circunstância tem o valor de uma lei que rege as manifestações psíquicas (e isto em correspondência com a lei da afinidade que governa os fenômenos do universo), segue-se que ela resolve a tese em exame, de modo que a hipótese da onisciência subconsciente converte-se em pura elucubração fantástica, filosoficamente absurda e cientificamente insustentável. (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo C) 

121. Isto posto, referindo-me às hipóteses para explicação do subgrupo em apreço, observo que só podem existir duas: a primeira é a que acabamos de discutir, do ponto de vista das provas de identificação espírita e pela qual se deveria presumir que o médium representa a parte ativa do agente inquiridor, e a pessoa ausente a parte passiva do indivíduo inquirido em cada um dos mais recônditos recessos de suas reservas mediúnicas. (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo C) 

122. A segunda hipótese consistiria em pressupor que o médium obtenha os informes verídicos que refere, em virtude de uma espécie de conversação espiritual iniciada entre a sua personalidade integral subconsciente e a personalidade integral subconsciente do indivíduo ausente. Esta hipótese foi proposta pelo Prof. Hyslop e confirmada pela modalidade de realização normal dos episódios em exame. Sobre a outra, apresenta ela a enorme vantagem de não se lançar ao extremo e desesperado recurso de conferir onisciência divina à subconsciência humana. (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo C) 

123. Não é o caso, por enquanto, de acrescentar outras coisas, porque a enumeração dos fatos fornecerá o ensejo de desenvolvermos ulteriormente o tema e de acrescentarmos outros argumentos mais adequados à refutação da primeira hipótese e confirmação da segunda. (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo C)

124. Caso 9 – Transcrevo-o do interessante volume de Vincent Turvey intitulado The beginnings of seership (pág. 221). Embora seja ele breve, não lhe falta valor sugestivo, tanto mais levando-se em consideração que o sensitivo-protagonista é o próprio autor do livro. Trata-se de um perfeito cavalheiro cujo nome é garantia da mais escrupulosa autenticidade de tudo o que narra sobre as suas experiências. (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo C) 

125. Vincent Turvey, homem bastante culto e prudentíssimo, morreu prematuramente de tuberculose, depois de longos anos de sofrimento. Dotado de raras faculdades clarividentes e mediúnicas, quis, com admirável perseverança, exercitá-las em benefício da causa, apesar de sua grave enfermidade e, para tal fim, efetuava sessões com quem lhas solicitava, limitando-se a pedir aos experimentadores que lhe fornecessem uma narrativa das manifestações ocorridas. (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo C) 

126. De tal documentação valeu-se ele para compilação de seu livro que, portanto, é uma obra rigorosamente científica, além de muito interessante, devido às raras manifestações de lucidez e de identificação espírita pelo mesmo conseguidas. Fez também experiências de comunicações mediúnicas entre vivos, tentando manifestar-se a distância em um grupo de experimentadores amigos, conseguindo tal resultado diversas vezes. Não é o caso de narrar aqui tais experiências, com exceção do breve incidente que a seguir vou citar. (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo C) 

127. Transcreverei antes um trecho em que ele relata as suas impressões durante a translação espiritual pelo espaço e a permanência nos ambientes visados. Escreve ele: 

“Quando o meu espírito abandona temporariamente o corpo, parece-me voar através do espaço com uma rapidez vertiginosa, que torna indistinta e confusa a paisagem sobre a qual eu passo. Embora me pareça voar a uma altura de apenas umas duas milhas da superfície do globo terrestre, é-me muito difícil distinguir terra da água, as florestas das cidades e, a menos que tais trechos da paisagem sejam muito vastos, não percebo absolutamente os riachos e as aldeias. Quando atinjo a meta, digamos que esta seja a casa do Sr. Brown em Bedford, sou capaz de perceber não somente a sala em que ele se acha, como posso também andar pelos cômodos, observar a mobília dos quartos, distinguir o que está nas cantoneiras, apalpar as cortinas e ver que são de veludo, mover uma cama ou mesa, descobrir um escapamento de gás, diagnosticar moléstias, saber dos negócios do Sr. Brown, etc. Algumas raras vezes, tenho sido visto também. Além disso, consigo ouvir as conversas familiares e, em várias ocasiões, tenho influenciado um médium por meio do qual costumo comunicar-me, e conversar com os presentes.” (pág. 54). (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo C)

128. Em uma das tais experiências de comunicações mediúnicas com vivos, ocorreu um incidente curioso que ele relata nos seguintes termos:

“Na quarta-feira passada, 10 de julho de 1907, retirei-me para a salinha, com a intenção de manifestar-me em um grupo de experimentadores amigos em Pokesdown (a quatro milhas de distância). Ainda não me havia estendido no divã, e já o espírito se havia libertado, lançando-se em voo, rumo à casa deles. Lá chegando, consegui influenciar logo o médium, mas infelizmente aconteceu que o meu organismo corporal fosse bruscamente perturbado por uma violenta discussão verificada na sala contígua, de modo que o espírito teve de voltar por um instante, para reanimar o corpo.

Vejamos agora o que sucedeu. Fui ter à sala para saber por que motivo me haviam perturbado e vi a minha esposa, a criada de quarto e a enfermeira, que contemplavam um belo gato da Pérsia, o qual havia acompanhado pela rua a criada e entrara com ela na casa. E a questão, que sobressaltara o meu corpo, girava em torno de se ficar ou não com o gato. Notemos, portanto, que se tratava de uma reunião de pessoas discutindo a respeito de um gato. Ora, no instante preciso em que isto sucedia na minha sala de jantar, o médium por mim influenciado a quatro milhas de distância, exclamava: “Um gato! Um gato!” (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo C)

 

129. Transcrevo, a seguir, o documento nº 6, que se refere ao mencionado incidente: 

“10 de julho de 1907.

Em nossa sessão mediúnica semanal de costume, realizada em Pokesdown, o Sr. Blake, caindo sob a influência de um espírito, exclamou de modo enfático: “Um gato! Um gato!”

E isto foi tudo, porque logo depois, a entidade que naquele momento havia tomado o médium, inesperadamente o abandonou. a) J. Walker – Sra. Blake – G. Luckham – M. Walker.” (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo C)

 

130. No caso exposto, convém notar a perfeita correspondência entre o incidente ocorrido na casa do sensitivo-agente e o que se deu na sessão em Pokesdown, em que o médium foi tomado por uma entidade e que apenas teve tempo de exclamar: “Um gato! Um gato!” para depois abandonar bruscamente o médium, como se isto sucedesse por causa do gato assinalado. (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo C) 

131. Ora, como fica clara a perfeita relação de causa e efeito entre o incidente ocorrido em casa do sensitivo-agente e o que sucedeu na sessão em Pokesdown, segue-se que a autenticidade da manifestação de um vivo fica também clara e incontestável e, portanto, deve-se igualmente inferir que o gato mencionado pela personalidade mediúnica em Pokesdown foi realmente a causa do imprevisto abandono da influência medianímica, como se deve finalmente inferir que a personalidade não podia ser outra senão a mesma personalidade espiritual de Vincent Turvey, porque, precisamente naquele instante, foi ele abalado e despertado do sono mediúnico por causa de um gato. (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo C) 

132. De outro ponto de vista observo que, ao caso exposto, não são ainda aplicáveis as considerações acima a respeito das perplexidades teóricas que fariam surgir alguns casos pertencentes ao presente subgrupo, quando forem comparados com casos afins de identificação pessoal dos mortos. E não lhe são aplicáveis tais considerações porque o próprio caso tende a confirmar a hipótese espírita, demonstrando a possibilidade de o espírito humano abandonar temporariamente o seu corpo e ir influir no órgão cerebral de outra pessoa viva, com as consequências teóricas que daí derivam. (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo C) 

133. Em outros termos: baseando-se nos episódios da natureza exposta, fica provado, de forma cientificamente decisiva, que, quando um médium fala em nome de um vivo ausente, tal personificação não é absolutamente mistificação da subconsciência do médium (como pretenderiam os adversários da hipótese espírita), porém um fenômeno autêntico de comunicação telepático-mediúnica do referido vivo. (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo C) 

134. Se assim é em virtude da análise comparada e das provas por analogia, daí extraídas, dever-se-á concluir no mesmo sentido, também quanto aos casos pertencentes ao grupo afim em que o médium fala em nome de entidades de mortos, as quais demonstram a sua identidade pessoal, fornecendo informes pessoais ignorados de todos os presentes. (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo C) 

135. Tais conclusões me parecem logicamente inexpugnáveis e é por isso que a classe das comunicações mediúnicas se torna, em linhas gerais, de grande eficácia demonstrativa em favor da autenticidade inatacável dos casos de comunicações mediúnicas com os mortos. Contudo, aparentemente, faria exceção um pequeno grupo de casos, como já se disse, que gerariam perplexidades teóricas contrárias à hipótese espírita, perplexidades estas que consistem na circunstância de conseguir o sensitivo surrupiar segredos nas personalidades subconscientes dos vivos ausentes. São estes os casos que me limito a referir. (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo C) (Continua no próximo número.) 

 



 


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 Revista Semanal de Divulgação Espírita