Em mensagem publicada nesta
edição, na seção de
Cartas, o leitor Carlos
Alberto Rodrigues
escreveu-nos o seguinte:
Lemos nesta revista uma
pergunta feita, algum tempo
atrás, por uma leitora de
Porto Alegre, a respeito de
dois assuntos que também não
conseguimos compreender: a
morte de crianças em tenra
idade e o abuso sexual feito
contra meninos e meninas,
muitas vezes dentro da
própria casa. Qual a
explicação da doutrina
espírita com relação ao
assunto?
Com respeito ao primeiro
assunto – morte de crianças
em tenra idade – sugerimos
ao leitor que acesse o texto
que publicamos nesta mesma
seção no dia 3/2/2013,
edição 297. Eis o link:
http://www.oconsolador.com.br/ano6/297/oespiritismoresponde.html
Cremos que o texto contém
as explicações que o assunto
requer, especialmente no
tocante à morte corpórea de
crianças.
Quanto ao segundo assunto
– abuso sexual de meninos e
meninas –, trata-se de uma
questão delicada que, não
obstante, faz parte desses
dramas da vida intimamente
relacionados com nossas
existências passadas.
Antes de focalizar dois
casos concretos,
ilustrativos do que a
doutrina espírita nos
ensina, examinemos o que
Allan Kardec consignou em
seu livro O Céu e o
Inferno:
9º - Toda falta cometida,
todo mal realizado é uma
dívida contraída que deverá
ser paga; se não o for em
uma existência, sê-lo-á na
seguinte ou seguintes,
porque todas as existências
são solidárias entre si.
Aquele que se quita numa
existência não terá
necessidade de pagar segunda
vez.
10º - O Espírito sofre, quer
no mundo corporal, quer no
espiritual, a consequência
das suas imperfeições. As
misérias, as vicissitudes
padecidas na vida corpórea,
são oriundas das nossas
imperfeições, são expiações
de faltas cometidas na
presente ou em precedentes
existências. Pela natureza
dos sofrimentos e
vicissitudes da vida
corpórea, pode julgar-se a
natureza das faltas
cometidas em anterior
existência, e das
imperfeições que as
originaram.
11º - A expiação
varia segundo a natureza e
gravidade da falta,
podendo, portanto, a mesma
falta determinar expiações
diversas, conforme as
circunstâncias, atenuantes
ou agravantes, em que for
cometida.
12º - Não há regra absoluta
nem uniforme quanto à
natureza e duração do
castigo: - a única lei geral
é que toda falta terá
punição, e terá recompensa
todo ato meritório, segundo
o seu valor.
(...)
16º - O arrependimento,
conquanto seja o primeiro
passo para a regeneração,
não basta por si só; são
precisas a expiação e a
reparação.
Arrependimento, expiação e
reparação constituem,
portanto, as três condições
necessárias para apagar os
traços de uma falta e suas
consequências. O
arrependimento suaviza os
travos da expiação, abrindo
pela esperança o caminho da
reabilitação; só a
reparação, contudo, pode
anular o efeito
destruindo-lhe a causa. Do
contrário, o perdão seria
uma graça, não uma anulação.
17º - O arrependimento pode
dar-se por toda parte e em
qualquer tempo; se for
tarde, porém, o culpado
sofre por mais tempo. Até
que os últimos vestígios da
falta desapareçam, a
expiação consiste nos
sofrimentos físicos e morais
que lhe são consequentes,
seja na vida atual, seja na
vida espiritual após a
morte, ou ainda em nova
existência corporal.
(O Céu e o Inferno,
1ª Parte, cap. VII - Código
penal da vida futura, itens
9º a 12º; 16º e 17º.)
(Negritamos.)
Exposta a teoria,
lembremos que na 2ª Parte do
livro citado Allan Kardec
apresenta uma grande
quantidade de processos
expiatórios, com as
explicações dadas pelos
próprios Espíritos que os
sofreram.
Um deles é o caso Antônio
B..., que foi enterrado
vivo. Escritor muito
estimado que exercera com
distinção e integridade
muitos cargos públicos na
Lombardia, pelo ano de 1850
caiu aparentemente morto, de
um ataque apoplético. Quinze
dias depois do enterro, uma
circunstância fortuita
determinou a exumação, a
pedido da família.
Tratava-se de um medalhão
por acaso esquecido no
caixão. Qual não foi, porém,
o espanto dos assistentes
quando, ao abrir a urna,
notaram que o corpo havia
mudado de posição,
voltando-se de bruços e –
coisa horrível – que uma das
mãos havia sido comida em
parte pelo defunto.
Evocado na Sociedade de
Paris, em agosto de 1861, a
pedido de parentes, Antônio
falou sobre o episódio e
afirmou que aquele fato lhe
estava predestinado desde
que nasceu. Fazia, pois,
parte de sua programação
reencarnatória. O motivo: em
uma encarnação anterior ele
enterrara viva a própria
esposa.
Depois de relatar os fatos,
Kardec perguntou a Erasto: -
Que proveito pode a
Humanidade auferir de
semelhantes punições?
Erasto respondeu:
“As penas não existem para
desenvolver a Humanidade,
porém para punição dos que
erram. De fato, a Humanidade
não pode ter interesse algum
no sofrimento de um dos seus
membros. Neste caso, a
punição foi apropriada à
falta. Por que há loucos,
idiotas, paralíticos? Por
que morrem uns queimados,
enquanto outros padecem as
torturas de longa agonia
entre a vida e a morte? Ah!
crede-me; respeitai a
soberana vontade e não
procureis sondar a razão dos
decretos da Providência!
Deus é justo e só faz o
bem.” – Erasto.
(O Céu e o Inferno,
2ª Parte, cap. VIII -
Expiações terrestres.)
O comentário feito por
Kardec, em seguida a essa
resposta, vale a pena ler e
meditar:
“Este fato não encerra um
ensinamento terrível? A
justiça de Deus, às vezes
tardia, nem por isso deixa
de atingir o culpado,
prosseguindo em seu aviso. É
altamente moralizador o
saber-se que, se grandes
culpados acabam
pacificamente, na abundância
de bens terrenos, nem por
isso deixará de soar cedo ou
tarde, para eles, a hora da
expiação. Penas tais são
compreensíveis, não só por
estarem mais ou menos ao
alcance das nossas vistas,
como por serem lógicas.
Cremos, porque a razão
admite. Uma existência
honrosa não exclui,
portanto, as provações da
vida, que são escolhidas e
aceitas como complemento de
expiação – o restante do
pagamento de uma dívida
saldada antes de receber o
preço do progresso
realizado. Considerando
quanto nos séculos passados
eram frequentes, mesmo nas
classes mais elevadas e
esclarecidas, os atos de
barbárie que hoje repugnam;
quantos assassínios
cometidos nesses tempos de
menosprezo pela vida de
outrem, esmagado o fraco
pelos poderosos sem
escrúpulo; então
compreenderemos que muitos
dos nossos contemporâneos
têm de expungir máculas
passadas, e tampouco nos
admiraremos do número
considerável de pessoas que
sucumbem vitimadas por
acidentes isolados ou por
catástrofes coletivas. O
despotismo, o fanatismo, a
ignorância e os prejuízos da
Idade Média, e dos séculos
que se seguiram, legaram às
gerações futuras uma dívida
enorme, que ainda não está
saldada. Muitas desgraças
nos parecem imerecidas,
somente porque apenas vemos
o presente.” – Allan Kardec.
(O Céu e o Inferno,
2ª Parte, cap. VIII -
Expiações terrestres.)
Dadas estas explicações,
vejamos, por fim, o tema
abuso sexual de crianças,
que é o assunto central do
livro Sexo e Obsessão,
de Manoel Philomeno de
Miranda, psicografado por
Divaldo Franco e publicado
inicialmente em 2002.
O padre Mauro, personagem
principal da história, foi,
quando criança, vítima de
abuso sexual cometido pelo
próprio pai. O fato
transtornou por inteiro sua
vida, a ponto de, em suas
funções sacerdotais, ter ele
enveredado pelo crime de
pedofilia.
Por que um pai faria isso
com o próprio filho? Que
motivos haveria para tão
torpe comportamento?
No cap. 5 do livro citado,
as causas são reveladas. O
método utilizado pelo mentor
Anacleto foi a regressão de
memória.
Eis como Manoel Philomeno de
Miranda relatou o fato – a
fala é do mentor espiritual,
dirigindo-se ao padre Mauro:
“Recorda, agora recorda o
início do século XIX; volve
à Paris napoleônica, retorna
à Mansão de M., às orgias
comandadas por Madame X...
Observa o bosque em torno da
casa palaciana e acompanha
as festas de exaustão dos
sentidos, a embriaguez pelo
álcool, pelo absinto, pela
luxúria esfuziante e
depravada... Madame X
comanda o espetáculo, em
razão dos seus vínculos
obscenos e extravagantes com
o palácio das Tulherias, a
mansão de Malmaison e alguns
dos seus famosos políticos e
parasitas sociais...”.
(Sexo e Obsessão,
capítulo 5: Conflito
obsessivo.)
À medida que o mentor ia
enunciando o lugar e seus
acontecimentos, o rosto de
Mauro (a mesma Madame X...
do passado) se modificava,
assumindo outras
características, agora
femininas e vulgares.
Vagarosamente plasmavam-se
nos delicados tecidos
perispirituais as formas e a
aparência anteriores,
quando, utilizando-se de
verbetes e versos fesceninos,
o paciente sob hipnose
volveu ao lupanar onde vivia
e comandava a orgia
desenfreada. Entre as ordens
que seus lábios expediam,
assinalava-se a hedionda
imposição da necessidade de
crianças para os banquetes
da loucura desenfreada, de
psicopatas e de histéricas
para os histriões e viciados
que, à semelhança de animais
no cio, se atiravam uns
sobre os outros
locupletando-se em
aberrações de muitos gêneros
sob o comando compassivo da
proprietária, igualmente
debochada.
Num daqueles momentos, um
lacaio apresentou-lhe uma
criança de oito anos que
fora tomada quase à força do
pai devotado e trabalhador,
que residia na periferia da
cidade, e que se encontrava
à porta, desejando
falar-lhe, suplicar-lhe a
libertação da presa valiosa.
Madame X... mandou-o entrar,
e, sem delongas nem pudor,
propôs ao genitor aturdido a
compra do seu filho,
atirando-lhe um saco de
moedas de ouro que,
recusadas, conduziram-no a
um quase delírio de ódio,
ameaçando-a com palavras
chulas de vingança pelo
descalabro de roubar-lhe o
filho. Expulso, sem piedade,
e sem ter a quem queixar-se,
o desditoso, em pranto e
alucinado, desapareceu na
noite, ruminando o desejo de
vingança ante a tragédia que
se abatera sobre o seu lar.
“Reconheces, Mauro -
interrogou o Mentor - esse
homem que vitimaste com a
tua crueldade e desabrida
falta de moral?
Reencarnou-se como teu
genitor, e não te havendo
perdoado, sem mesmo saber a
procedência dos sentimentos
ambíguos que mantinha em
relação a ti, tornou-se o
teu algoz infantil, o cruel
explorador das tuas forças e
pureza. Desditoso, sim,
continua, porque ninguém tem
o direito de fazer justiça
com a própria indignidade,
pois que as Leis Soberanas
da Vida sempre buscam o
calceta e o alcançam,
levando-o à reparação. O
ódio, porém, semeia venenos
que são absorvidos,
intoxicando aqueles que o
conservam.”
(Sexo e Obsessão,
capítulo 5: Conflito
obsessivo.)
É da Lei, assevera Manoel
Philomeno de Miranda, que na
estrada da vida um dia o
credor se apresentará à
frente do devedor, frase que
não deveria impressionar a
ninguém, visto que Jesus,
dirigindo-se ao apóstolo
Pedro, legou-nos uma
informação que os cristãos
conhecem muito bem:
“Embainha tua espada, porque
todos aqueles que usarem da
espada, pela espada
morrerão” (Mateus 26:52).
O livro Sexo e
Obsessão vem sendo
estudado metódica e
sequencialmente nesta
revista, desde a edição 480.
Eis o link que remete à
primeira parte do estudo:
http://www.oconsolador.com.br/ano10/480/estudandomanoelphilomeno.html
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