Uma senhora de 40 anos,
muito apegada a uma irmã que
veio a falecer de parada
cardíaca, desesperou-se
sobremaneira. Profunda e
quase irreal era a dor que
sentia. Numa tarde de
outono, Divaldo estava na
cidade e a conflitada
senhora foi procurá-lo. “Divaldo”,
relata ela, “não consegui
conformação na perda desta
irmã. Era minha irmã
confidente, minha irmã
gêmea. Hoje percebo quanto a
amava. O senhor tem algo a
dizer que afinal me alivie?
Por que devo sofrer tamanha
dor?”
Resposta do médium Divaldo:
“Minha irmã, quem ama não
sofre”. No olhar da senhora
um estranho brilho se
refletiu. Ela conhecia a
Doutrina Espírita, sabia
teoricamente o que acabara
de ouvir. Sim, a morte
destrói o corpo físico, a
pessoa desaparece do mundo
material e os nossos
sentimentos se expressam
através dos sentidos, embora
sejam independentes do
organismo.
Sim, há diferença entre
saber e vivenciar. Aquela
pequena frase dita por
Divaldo, naquelas
circunstâncias, iriam
novamente motivar sua vida e
deram início a uma nova
etapa em sua experimentação
existencial.
Enquanto essa pessoa me
relatava tal episódio,
recordei-me de caminhos que
também percorri quando perdi
meu único filho Fernando
Augusto num acidente de
moto, em Tramandaí. A dor
que me lancetou o peito foi
tão forte que o próprio
raciocínio, por um largo
tempo, se me obscureceu.
Mesmo tendo certeza da
imortalidade da alma, da
reencarnação, crendo nas
leis da Evolução, a dor não
cedia espaço à resignação.
Chico Xavier me escreveu
longa e consoladora carta,
Divaldo Franco me consolou
por carta e pessoalmente,
isso me reacendia novas
forças, mas a dor não cedia.
Por mais de ano fiquei
literalmente fora de mim.
Afastei-me de amigos e me
recusava a falar do assunto.
Deixei de escrever para
jornais, abandonei um
programa espírita dominical
transmitido pelo Rádio
Princesa de Porto Alegre,
abandonei livros e o hábito
de ouvir Mozart e Vivaldi.
Um dia, extenuado pela dor,
ouvi de Chico Xavier algo
que eu já sabia, mas dito
por ele, no envolvimento
energético negativo em que
me afundara, desencadeou em
mim a inversão de polos: O
nosso valoroso Fernando
Augusto veio ao mundo para
viver somente o tempo que
lhe tocaria. Ele voltará
para auxiliá-la nas tarefas
do Lar Irmã Esther. Era uma
afirmação aparentemente
banal mas repercutiu forte
dentro de mim. O poder da
palavra reanimadora era a
mensagem que é energia na
expansão da consciência.
Em outras palavras,
precisamos ter paciência e
compreensão conosco mesmo,
ante as adversidades da
vida. A medicina terrestre
não tem nem nunca terá
remédio para a dor da
saudade e a brecha do vazio
existencial.
São dores da alma, lá onde
não chegam os efeitos de
sedativos ou barbitúricos.
Inobstante, por obra da
misericórdia Divina, junto
com o mal, vem o remédio.
Para as dores espirituais, o
medicamento tem que ser
espiritual.
(FW, novembro de 1993.)
Do livro Lições de
Sabedoria, de Marlene
Rossi Severino Nobre.
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