A humanidade
assemelha-se a
uma imensa e
negra floresta
onde a neblina
do egoísmo e a
escuridão da
indiferença não
permitem a
penetração dos
clarões da
Boa-Nova.
Assim, a
Providência
Divina não
possui
alternativa
senão permitir
que a dor abra
as necessárias
clareiras na
selva humana, a
fim de resgatar
de suas
profundezas as
ovelhas
tresmalhadas.
Essa teimosia
do homem aliada
à lei de causa e
efeito explicam
os acidentes e
hecatombes no
mundo que nos
estarrecem e
provocam dores
acerbas. Mas,
como assevera a
nobre Mentora
Joanna de
Ângelis, “(...)
ninguém tem o
destino do
sofrimento. Ele
é o resultado da
ação negativa,
jamais a causa”.
Voltando através
dos canais
abendiçoados da
mediunidade de
Francisco
Cândido Xavier,
Fernando de
Lacerda expõe
sua perplexidade
ante o quadro da
indiferença
humana na obra
citada em
epígrafe: “(...)
quando ainda
encarnado, tive
a felicidade de
transmitir aos
meus
contemporâneos
as notícias de
vários
pensadores e
literatos
redivivos,
incorporando-as
ao Espiritismo
luso-brasileiro,
qual o
telegrafista
postado à ponta
do fio estendido
entre os dois
mundos;
entretanto,
guardo ainda bem
vivas as marcas
do sarcasmo e da
perseguição que
o serviço me
valeu, por parte
de muitas
personalidades
importantes, já
agora
recambiadas para
cá, onde não
mais se dispõem
ao mau gosto de
escarnecer da
verdade.
Realmente não é
tarefa fácil
entregar certas
mensagens a
destinatários
que se voltam
contra elas. Por
mais que se
identifique o
portador,
através de
palavras e
atitudes a lhe
positivarem a
idoneidade
moral, há sempre
recursos
multiplicados
para evasivas.
Se a tarefa
mediúnica
representasse um
manancial de
ouro e de
prazeres
imediatos no
currículo da
carne, acredito
que o povo se
congregaria em
massa, ao ruído
de foguetes e ao
som festivo de
filarmônicas
para recebê-la.
O emissário da
realidade,
porém, não
dispõe senão de
palavras e de
emoções para
distribuir,
apelando para
realizações e
louros, que
quase toda a
gente considera
remotos ou
inaceitáveis.
Raríssimas
pessoas admitem
a medicina
preventiva. A
maioria espera
que a doença lhe
desordene os
nervos ou lhe
apodreça a carne
para se
resolver, pondo
a boca no mundo,
a procurar
clínicos ou
cirurgiões.
Pouquíssimos na
atividade usual
da Terra se
inclinam ao
socorro da
medicação
religiosa.
Detidos
temporariamente
nas ilusões do
império celular,
que se desmorona
no sepulcro,
passam por aí
distraídos, no
que tange aos
interesses do
Espírito Eterno.
Na morte, sim!
Exasperam-se e
choram até à
prostração,
lastimando-se,
contudo, algo
tarde... Não
porque alguma
vez lhes
faltasse — como
a ninguém falta
— a Compaixão
Divina: a
paciência do Pai
é inexaurível.
É que se
postergam, nas
circunstâncias
da luta terrena
e nos quadros da
parentela
consanguínea, as
valiosas
oportunidades de
mais amplo
serviço; e o
ensejo de
aprender,
corrigir,
restaurar e
auxiliar é
indefinidamente
adiado...
Indispensável se
torna aguardar
outra época,
outros meios e
reajustes...
O chamado “homem
prático” ainda
se assemelha, em
diversas
tendências, aos
seres
rudimentares do
mundo, vivamente
apaixonados
pelas bactérias
do solo e
indiferentes à
claridade
solar.
O que me
estarrece não é
o sacrifício de
um homem pela
melhoria dos
semelhantes: é a
indiferença das
criaturas
pensantes e
responsáveis,
diante da
ternura e da
renunciação dos
amigos de
Além-Mundo. O
enrijecimento e
a
impermeabilidade
das
inteligências
encarnadas, com
reduzidas
exceções, só os
podem corrigir a
dedicação e o
carinho dos
Espíritos
Superiores.
Muitas vezes aí
observei a
deplorável paga
do bem pela
ingratidão, a
revolta e a
vaidade a troco
da humildade e
da ternura. Que
sempre houve
muita gente
preocupada em
ouvir os
desencarnados
não padece
dúvida; mas
pessoas
realmente
interessadas na
verdade jamais
encontrei,
exceção feita de
alguns raros
amigos,
considerados
bonzos e loucos,
quanto eu mesmo
o fui.
As Entidades que
se comunicavam
por meu
intermédio eram
admiradas, ou
suportadas,
sempre que
lisonjeassem,
confortassem ou
distraíssem; mas
quando tangiam
as cordas da
realidade no
mágico
instrumento da
palavra,
convertiam-se em
demônios de
mistificação ou
de
inconveniência.
Entre máscaras e
almas, vivi
perplexo e
atenazado por
interrogações e
decepções
contundentes.
Daí, talvez, a
exaustão que me
colheu, de
súbito, em plena
luta. Meu
cérebro era uma
trincheira sob
contínuas
investidas. De
obstáculo em
obstáculo, caí
sobre as pedras
do meu caminho,
minado por
intraduzível
esgotamento.
Alguns
companheiros
verificaram, em
meu drama
doloroso na casa
de saúde, a
falência de
minhas
faculdades,
acreditando-me
desprezado pelos
amigos
espirituais. Na
verdade, porém,
os mensageiros
da luz não me
haviam
abandonado.
Quando se
inutiliza o
filamento frágil
de uma lâmpada,
assim fazendo o
aposento às
escuras, isso
não quer dizer
que a usina
geradora de
força houvesse
deixado de
existir. Os
vexilários da
causa de Jesus
eram
excessivamente
bondosos para
não desculparem
a
insignificância
e a pobreza do
amigo que lhes
acompanhava as
pegadas na
romagem difícil.
Ainda que me
fosse dado
cumprir todos os
deveres que a
mediunidade me
indicava ou
impunha,
sentir-me-ia
efetivamente
pequenino e
derrotado
perante a
magnitude da
ideia que me
cabia servir.
(...) Até que o
avanço moral do
Planeta
possibilite
equações
definitivas da
ciência, no
terreno da
sobrevivência e
da intervenção
das almas
desencarnadas no
círculo
terrestre, o
médium será a “cabeça
de ponte” do
mundo espiritual
entre os homens,
solicitando
compreensão,
solidariedade e
incentivo para
funcionar com a
eficiência
precisa.
Deus dá a
semente e o
clima, a água e
o solo; quem
dirige, porém, o
arado e sustenta
a lavoura, esse
é o próprio
homem, herdeiro
e usufrutuário
dos benefícios
da Terra”.
Assim, quando a
humanidade se
debruçar sobre o
solo sáfaro da
alma esvurmando
dali a empola má
da indiferença e
reconhecendo –
humildemente – a
solicitude da
Paternidade
Divina para com
todos os seres
viventes, bem
como a
destinação
gloriosa que Ele
nos acena, em
especial através
do conhecimento
espírita, a
pedagogia da dor
não será mais
utilizada pelas
leis da vida, já
que entrará em
vigor a lei
maior que é a do
Amor, apregoada
e exemplificada pelo
Meigo Rabi
Galileu.