Infância e simplicidade
Foi o tempo que perdeste com
tua rosa que fez tua rosa
tão importante.
(Antoine de
Saint-Exupéry)
Precisamos começar a aprendizagem da simplicidade com as
crianças. É urgente que tenhamos a decência de não as
condicionar a se tornarem viciadas em consumo. Pois essa
atitude é fundamental para nos contrapor a um impacto
negativo sobre o desenvolvimento cognitivo da criança e,
com isso, proporcionar-lhe no futuro um modo de vida
simples e discreto, que lhe facilite estar disponível
para a alegria e a paz enquanto pessoa adulta e cidadã.
É terrivelmente cínico incitar as crianças ao consumo,
quer se trate de brinquedos, roupas ou de junk food.
Usa-se a vulnerabilidade delas, a culpa dos pais, a
irresponsabilidade dos avós (ou de quem cuida da
criança).
Li um livro de Joel Bakan, Childhood und Siege [A
infância sitiada], em que ele descreve de forma
minuciosa como nossa sociedade mira as crianças,
manipulando-as, tornando-as dependentes, manipulando
também os pais. É assustador!
O melhor que podemos fazer pelos filhos é procurar
honestamente ser um modelo positivo para eles. Se
comprarmos a cada ano um novo telefone, se corrermos
atrás de liquidações, se a ida ao shopping for o
passeio em família do fim de semana, que tipo de
mensagem estaremos lhes enviando?
Toda vez que vejo uma mãe, um pai, querendo agradar a
criança com um brinquedo novo, considero que esse adulto
deveria parar, respirar e se perguntar: “Por que estou
fazendo isto? Por que meu filho não tem muitos
brinquedos?” Não, certamente porque não passo tempo
suficiente com ele.” E, na sequência, a questão capital:
“O que posso fazer para modificar isto?”
Minha avó, quando via uma casa abarrotada de objetos,
roupas, brinquedos, dizia que esse ambiente precisava
ser imediatamente imunizado contra a infelicidade,
porque a apropriação desenfreada é sempre sinal de uma
vida infeliz”. Então alertava categórica: “e o
melhor exemplo que os pais podem oferecer às crianças é
a sua própria felicidade.” Ah, e a frustração é uma
lição pertinente à infância, antes que os filhos
cresçam...
Notinha.
No livro Childhood under Siege: the corporate assault
on children and what we can do to stop it (Bakan,
Joel. Penguin Canada, 2011), o autor mostra, por
exemplo, como os jogos de computadores estão sendo
desenvolvidos para criar novas plataformas para anúncios
publicitários. O objetivo, de acordo com um executivo da
área por ele citado é “pegar os usuários pelo desejo de
jogar livremente e depois monetizar tudo, depois que já
foram fidelizados”. Uma das formas é premiar crianças
com pontos ou moedinhas virtuais quando elas clicam em
anúncios publicitários nos sites que frequentam. E tudo
isso é promovido como diversão livre, sem proibição.
Pais que tentam cercear o acesso de seus filhos são puritanos
e estraga-prazeres.